Almanaque Chico Buarque
Ô menina vai ver nesse almanaque como é que isso tudo começou Diz quem é que marcava o tique-taque e a ampulheta do tempo disparou Se mamava de sabe lá que teta o primeiro bezerro que berrou Me responde, por favor Pra onde vai o meu amor Quando o amor acaba
Quem penava no sol a vida inteira, como é que a moleira não rachou Quem tapava esse sol com a peneira e quem foi que a peneira esfuracou Quem pintou a bandeira brasileira que tinha tanto lápis de cor Me responde por favor Pra onde vai o meu amor Quando o amor acaba
Diz quem foi que fez o primeiro teto que o projeto não desmoronou Quem foi esse pedreiro, esse arquiteto, e o valente primeiro morador Diz quem foi que inventou o analfabeto e ensinou o alfabeto ao professor Me responde por favor Pra onde vai o meu amor Quando o amor acaba
Quem é que sabe o signo do capeta, o ascendente de Deus Nosso Senhor Quem não fez a patente da espoleta explodir na gaveta do inventor Quem tava no volante do planeta que o meu continente capotou Me responde por favor Pra onde vai o meu amor Quando o amor acaba
Vê se tem no almanaque, essa menina, como é que termina um grande amor Se adianta tomar uma aspirina ou se bate na quina aquela dor Se é chover o ano inteiro chuva fina ou se é como cair o elevador Me responde por favor Pra que tudo começou Quando tudo acaba
Chico Buarque
Outras frases de Chico Buarque
+ Olhos nos olhos Quando você me deixou, meu bem Me disse pra ser feliz e passar bem Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci Mas depois, como era de costume, obedeci Quando você me quiser rever Já vai me encontrar refeita, pode crer Olhos nos olhos, quero ver o que você faz Ao sentir que sem você eu passo bem demais E que venho até remoçando Me pego cantando Sem mas nem porque E tantas águas rolaram Quantos homens me amaram Bem mais e melhor que você Quando talvez precisar de mim 'Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim Olhos nos olhos, quero ver o que você diz Quero ver como suporta me ver tão feliz - Chico Buarque
+ Soneto Por que me descobriste no abandono Com que tortura me arrancaste um beijo Por que me incendiaste de desejo Quando eu estava bem, morta de sono Com que mentira abriste meu segredo De que romance antigo me roubaste Com que raio de luz me iluminaste Quando eu estava bem, morta de medo Por que não me deixaste adormecida E me indicaste o mar, com que navio E me deixaste só, com que saída Por que desceste ao meu porão sombrio Com que direito me ensinaste a vida Quando eu estava bem, morta de frio - Chico Buarque
+ Quando nasci veio um anjo safado O chato dum querubim E decretou que eu tava predestinado A ser errado assim Já de saída a minha estrada entortou Mas vou até o fim - Chico Buarque
+ Hoje na solidão ainda custo A entender como o amor foi tão injusto Pra quem só lhe foi dedicação - Chico Buarque
+ Por favor Deixe em paz meu coração Que ele é um pote até aqui de mágoa E qualquer desatenção, faça não Pode ser a gota dágua - Chico Buarque