Desprezo
Esta alma que insultaste se revolta! Em sua viuvez erma e vazia Nem sombra guardará de tua imagem Tanto amor que por ti ela sentia. Não há de lhe arrancar, nem mais um canto, Que não seja apagado por meu pranto. Como a flor a beleza loga murcha; A tua há de murchar em poucos anos; Quando a ruga da face anunciar-te Da velhice aos tristes desenganos Quando de ti já todos esquecidos Nem te olharem, meus versos serão lidos. Talvez um dia o mundo caprichoso Procure, nobre dama, algum vestígio Da mulher que meus livros inspirava; Não achará porém de teu fastígio, Senão traços de lágrima perdida Arcano d’uma dor desconhecida. O tempo não respeita altiva fronte A riqueza, o brazão, tudo consome. Um dia serás pó e nada mais; Ninguém se lembrará nem de teu nome; Mas para que de ti reste a memória, Mulher, no meu desprezo eu dou-te a glória.