Dos muitos homens que sou, e nós somos, não podemos nos assentar em apenas um. Eles estão perdidos para mim dentro das capas das roupas, eles tomaram o rumo de outra cidade. Quando tudo parece estar bem para que eu me mostre como um homem inteligente, o louco que eu mantinha encerrado em minha pessoa toma minha fala e ocupa minha boca. Em outras ocasiões, quando estou perdido entre pessoas distintas e chamo meu eu corajoso um covarde completamente desconhecido vem sacudir meu pobre esqueleto com mil pequenas reservas Quando uma casa digna explode em chamas, ao invés do bombeiro que eu chamo, irrompe em cena um incendiário E ele sou eu. Não há nada que eu possa fazer. O que posso fazer para escolher a mim mesmo? Como posso me compor? Todos os livros que li idealizam figuras de heróis brilhantes. Sempre cheios de auto-confiança. Eu morro de inveja deles e; em filmes em que balas voam ao vento, Sinto inveja dos cowboys, Admiro até os cavalos. Mas quando eu chamo meu eu corajoso, lá vem meu velho ser preguiçoso, e assim, nunca sei quem eu sou, ou quantos eu sou, ou quem estará sendo. Eu gostaria de ser capaz de tocar um sino e chamar meu ser real, o verdadeiro eu, pois se eu realmente preciso do meu ser próprio, não posso deixá-lo desaparecer. Quando estou escrevendo, estou longe quando retorno, já me fui. Eu gostaria de ver a mesma coisa acontecer a outras pessoas como ocorre comigo, para ver se tantos são como eu, e quantos deles sentem-se da mesma forma consigo mesmos. Quando este problema for totalmente explorado vou me treinar tão bem nessas coisas que quando eu tentar explicar meus problemas, falarei não de um ser, mas de uma geografia.


Pablo Neruda

Outras frases de Pablo Neruda

+ Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências. - Pablo Neruda

+ Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos, já não se adoçará junto a ti a minha dor. Mas para onde vá levarei o teu olhar e para onde caminhes levarás a minha dor. Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos uma curva na rota por onde o amor passou. Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame, daquele que corte na tua chácara o que semeei eu. Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste. Venho dos teus braços. Não sei para onde vou. ...Do teu coração me diz adeus uma criança. E eu lhe digo adeus. - Pablo Neruda

+ Saberás que não te amo e que te amo posto que de dois modos é a vida, a palavra é uma asa do silêncio, o fogo tem uma metade de frio. Eu te amo para começar a amar-te, para recomeçar o infinito e para não deixar de amar-te nunca: por isso não te amo ainda. Te amo e não te amo como se tivesse em minhas mãos as chaves da fortuna e um incerto destino desafortunado. Meu amor tem duas vidas para amar-te. Por isso te amo quando não te amo e por isso te amo quando te amo. - Pablo Neruda

+ Ainda que chova, ainda que doa. Ainda que a distância corroa as horas do dia e caia a noite sem estrelas, o mundo brilha um pouquinho mais a cada vez que você sorri. - Pablo Neruda

+ A Dança/ Soneto XVII Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio ou flecha de cravos que propagam o fogo: amo-te como se amam certas coisas obscuras, secretamente, entre a sombra e a alma. Te amo como a planta que não floresce e leva dentro de si, oculta a luz daquelas flores, e graças a teu amor vive escuro em meu corpo o apertado aroma que ascendeu da terra. Te amo sem saber como, nem quando, nem onde, te amo diretamente sem problemas nem orgulho: assim te amo porque não sei amar de outra maneira, senão assim deste modo em que não sou nem és tão perto que tua mão sobre meu peito é minha tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho. - Pablo Neruda

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