Fazia de conta que ela era uma mulher azul porque o crepúsculo mais tarde talvez fosse azul, faz de conta que fiava com fios de ouro as sensações, faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos, faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que dela não estava em silêncio alvíssimo escorrendo sangue escarlate, e que ela não estivesse pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade, precisava no meio do faz de conta falar a verdade de pedra opaca para que contrastasse com o faz de conta verde-cintilante, faz de conta que amava e era amada, faz de conta que não precisava morrer de saudade, (…) faz de conta que ela não ficava de braços caídos de perplexidade quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio, (…) faz de conta que tudo o que tinha não era faz de conta (…)
Clarice Lispector
Outras frases de Clarice Lispector
+ Vou me acrescentando em folhas. (Água Viva) - Clarice Lispector
+ Vou-lhes contar um segredo: a vida é mortal. - Clarice Lispector
+ Vou te dizer o que eu nunca te disse antes, talvez seja isso o que está faltando: ter dito. Se eu não disse, não foi por avareza de dizer, nem por minha mudez de barata que tem mais olhos que boca. Se eu não disse é porque não sabia que sabia — mas agora sei. Vou-te dizer que eu te amo. Sei que te disse isso antes, e que também era verdade quando te disse, mas é que só agora estou realmente dizendo. - Clarice Lispector
+ Vou experimentar tudo o que possa, não quero me ausentar do mundo. - Clarice Lispector
+ Vou dormir porque não estou suportando este meu mundo de hoje, cheio de coisas inúteis. - Clarice Lispector