Gazel do Amor Desesperado

A noite não quer vir para que tu não venhas, nem eu possa ir.

Mas eu irei, inda que um sol de lacraus me coma a fronte.

Mas tu virás com a língua queimada pela chuva de sal.

O dia não quer vir para que tu não venhas, nem eu possa ir.

Mas eu irei entregando aos sapos meu mordido cravo.

Mas tu virás pelas turvas cloacas da escuridade.

Nem a noite nem o dia querem vir para que por ti morra e tu morras por mim.


Federico García Lorca