Minha Mãe

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo Tenho medo da vida, minha mãe. Canta a doce cantiga que cantavas Quando eu corria doido ao teu regaço Com medo dos fantasmas do telhado. Nina o meu sono cheio de inquietude Batendo de levinho no meu braço Que estou com muito medo, minha mãe. Repousa a luz amiga dos teus olhos Nos meus olhos sem luz e sem repouso Dize à dor que me espera eternamente Para ir embora. Expulsa a angústia imensa Do meu ser que não quer e que não pode Dá-me um beijo na fronte dolorida Que ela arde de febre, minha mãe.

Aninha-me em teu colo como outrora Dize-me bem baixo assim: - Filho, não temas Dorme em sossego, que tua mãe não dorme. Dorme. Os que de há muito te esperavam Cansados já se foram para longe. Perto de ti está tua mãezinha Teu irmão, que o estudo adormeceu Tuas irmãs pisando de levinho Para não despertar o sono teu. Dorme, meu filho, dorme no meu peito Sonha a felicidade. Velo eu.

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo Me apavora a renúncia. Dize que eu fique Dize que eu parta, ó mãe, para a saudade. Afugenta este espaço que me prende Afugenta o infinito que me chama Que eu estou com muito medo, minha mãe.


Vinicius De Moraes

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+ Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido. - Vinicius De Moraes

+ Soneto de Fidelidade De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. - Vinicius De Moraes

+ Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém. - Vinicius De Moraes

+ A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. - Vinicius De Moraes

+ Soneto do amigo Enfim, depois de tanto erro passado Tantas retaliações, tanto perigo Eis que ressurge noutro o velho amigo Nunca perdido, sempre reencontrado. É bom sentá-lo novamente ao lado Com olhos que contêm o olhar antigo Sempre comigo um pouco atribulado E como sempre singular comigo. Um bicho igual a mim, simples e humano Sabendo se mover e comover E a disfarçar com o meu próprio engano. O amigo: um ser que a vida não explica Que só se vai ao ver outro nascer E o espelho de minha alma multiplica... - Vinicius De Moraes

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