Minuciosa formiga não tem que se lhe diga: leva a sua palhinha asinha, asinha.
Assim devera eu ser e não esta cigarra que se põe a cantar e me deita a perder.
Assim devera eu ser: de patinhas no chão, formiguinha ao trabalho e ao tostão.
Assim devera eu ser se não fora não querer.
Alexandre O Neill
Outras frases de Alexandre O Neill
+ Se ao dizer adeus à vida as aves todas do céu, me dessem na despedida o teu olhar derradeiro, esse olhar que era só teu, amor que foste o primeiro. - Alexandre O Neill
+ Flor de acaso ou ave deslumbrante, Palavra tremendo nas redes da poesia, O teu nome, como o destino, chega, O teu nome, meu amor, o teu nome nascendo De todas as cores do dia! - Alexandre O Neill
+ Nos teus olhos altamente perigosos vigora ainda o mais rigoroso amor a luz dos ombros pura e a sombra duma angústia já purificada Não tu não podias ficar presa comigo à roda em que apodreço apodrecemos a esta pata ensangüentada que vacila quase medita e avança mugindo pelo túnel de uma velha dor Não podias ficar nesta cadeira onde passo o dia burocrático o dia-a-dia da miséria que sobe aos olhos vem às mãos aos sorrisos ao amor mal soletrado à estupidez ao desespero sem boca ao medo perfilado à alegria sonâmbula à vírgula maníaca do modo funcionário de viver Não podias ficar nesta casa comigo em trânsito mortal até ao dia sórdido canino policial até ao dia que não vem da promessa puríssima da madrugada mas da miséria de uma noite gerada por um dia igual Não podias ficar presa comigo à pequena dor que cada um de nós traz docemente pela mão a esta pequena dor à portuguesa tão mansa quase vegetal Mas tu não mereces esta cidade não mereces esta roda de náusea em que giramos até à idiotia esta pequena morte e o seu minucioso e porco ritual esta nossa razão absurda de ser Não tu és da cidade aventureira da cidade onde o amor encontra as suas ruas e o cemitério ardente da sua morte tu és da cidade onde vives por um fio de puro acaso onde morres ou vives não de asfixia mas às mãos de uma aventura de um comércio puro sem a moeda falsa do bem e do mal - Alexandre O Neill
+ Nesta curva tão terna e lancinante que vai ser que já é o teu desaparecimento digo-te adeus e como um adolescente tropeço de ternura por ti. - Alexandre O Neill
+ OS AMANTES DE NOVEMBRO Ruas e ruas dos amantes Sem um quarto para o amor Amantes são sempre extravagantes E ao frio também faz calor Pobres amantes escorraçados Dum tempo sem amor nenhum Coitados tão engalfinhados Que sendo dois parecem um De pé imóveis transportados Como uma estátua erguida num Jardim votado ao abandono De amor juncado e de outono. - Alexandre O Neill