No descomeço era o verbo. Só depois é que veio o delírio do verbo. O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos. A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para cor, mas para som. Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira. E pois. Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer nascimentos — O verbo tem que pegar delírio.


Manoel De Barros

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+ Passava os dias ali, quieto, no meio das coisas miúdas. E me encantei. - Manoel De Barros

+ As folhas das árvores servem para nos ensinar a cair sem alardes. - Manoel De Barros

+ Sou livre para o silêncio das formas e das cores. - Manoel De Barros

+ A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio. Falava que os vazios são maiores e até infinitos. - Manoel De Barros

+ Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim esse atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal É maior do que o mundo. - Manoel De Barros

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