O poeta dizia que era trezentos, trezentos e não sei quantos. Eu sou apenas duas: a verdadeira e a outra, tão calculista que às vezes me aborreço até a náusea. Me deixa em paz! peço e ela se põe a uma certa distância, me observando e sorrindo. Não nasceu comigo mas vai morrer comigo e nem na hora da morte permitirá que me descabele aos urros, não quero morrer, não quero! Até nessa hora ela vai me olhar de maxilares apertados e olho inimigo no auge da inimizade: “Você vai morrer sim senhora e sem fazer papel miserável, está ouvindo?” Lanço mão do meu último argumento, tenho ainda que escrever um livro tão maravilhoso… E as pessoas que me amam vão sofrer tanto! E ela, implacável: “Ora, querida, as pessoas estão se lixando. E o livro não ia ser tão maravilhoso assim”. É bem capaz de exigir que eu morra como as santas.


Lygia Fagundes Telles

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+ Quero ficar só. Gosto muito das pessoas, mas às vezes tenho essa necessidade voraz de me libertar de todos. - Lygia Fagundes Telles

+ Não peça coerência ao mistério nem peça lógica ao absurdo. - Lygia Fagundes Telles

+ O menino então sorri e nem o inimigo mais feroz resistirá a esse sorriso de quem se oferece tão sem defesa. - Lygia Fagundes Telles

+ Não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos com linha dupla todas as feridas abertas. - Lygia Fagundes Telles

+ A distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas da vida. - Lygia Fagundes Telles

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