O POETA

O poeta não gosta de palavras: escreve para se ver livre delas.

A palavra torna o poeta pequeno e sem invenção.

Quando, sobre o abismo da morte, o poeta escreve terra, na palavra ele se apaga e suja a página de areia.

Quando escreve sangue o poeta sangra e a única veia que lhe dói é aquela que ele não sente.

Com raiva, o poeta inicia a escrita como um rio desflorando o chão. Cada palavra é um vidro em que se corta.

O poeta não quer escrever. Apenas ser escrito.

Escrever, talvez, apenas enquanto dorme.

+ Rir junto é melhor que falar a mesma língua. Ou talvez o riso seja uma língua anterior que fomos perdendo à medida que o mundo foi deixando de ser nosso. - Mia Couto

+ "[...]Devia era, logo de manhã, passar um sonho pelo rosto. É isso que impede o tempo e atrasa a ruga.[...]" - Mia Couto

+ O importante não é a casa onde moramos. Mas onde, em nós, a casa mora. - Mia Couto

+ Dormir com alguém é a intimidade maior. Não é fazer amor. Dormir, isso que é íntimo. Um homem dorme nos braços de mulher e sua alma se transfere de vez. Nunca mais ele encontra suas interioridades - Mia Couto

+ Quando já não havia outra tinta no mundo o poeta usou do seu próprio sangue. Não dispondo de papel, ele escreveu no próprio corpo. Assim, nasceu a voz, o rio em si mesmo ancorado. Como o sangue: sem voz nem nascente. - Mia Couto