Onde Nasceu a Ciência e o Juízo?
MOTE
— Onde nasceu a ciência?… — Onde nasceu o juízo?… Calculo que ninguém tem Tudo quanto lhe é preciso!
GLOSAS
Onde nasceu o autor Com forças p’ra trabalhar E fazer a terra dar As plantas de toda a cor? Onde nasceu tal valor?… Seria uma força imensa E há muita gente que pensa Que o poder nos vem de Cristo; Mas antes de tudo isto, Onde nasceu a ciência?…
De onde nasceu o saber?… Do homem, naturalmente. Mas quem gerou tal vivente Sem no mundo nada haver? Gostava de conhecer Quem é que formou o piso Que a todos nós é preciso Até o mundo ter fim… Não há quem me diga a mim Onde nasceu o juízo?…
Sei que há homens educados Que tiveram muito estudo. Mas esses não sabem tudo, Também vivem enganados; Depois dos dias contados Morrem quando a morte vem. Há muito quem se entretém A ler um bom dicionário… Mas tudo o que é necessário Calculo que ninguém tem.
Ao primeiro homem sabido, Quem foi que lhe deu lições P’ra ter habilitações E ser assim instruído?… Quem não estiver convencido Concorde com este aviso: — Eu nunca desvalorizo Aquel’ que saber não tem, Porque não nasceu ninguém Com tudo quanto é preciso!
Antonio Aleixo
Outras frases de Antonio Aleixo
+ Ser Doido-Alegre, que Maior Ventura! Ser doido-alegre, que maior ventura! Morrer vivendo p'ra além da verdade. É tão feliz quem goza tal loucura Que nem na morte crê, que felicidade! Encara, rindo, a vida que o tortura, Sem ver na esmola, a falsa caridade, Que bem no fundo é só vaidade pura, Se acaso houver pureza na vaidade. Já que não tenho, tal como preciso, A felicidade que esse doido tem De ver no purgatório um paraíso... Direi, ao contemplar o seu sorriso, Ai quem me dera ser doido também P'ra suportar melhor quem tem juízo. - Antonio Aleixo
+ Que feliz destino o meu Desde a hora em que te vi; Julgo até que estou no céu Quando estou ao pé de ti. - Antonio Aleixo
+ Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma ciência. - Antonio Aleixo
+ Para não fazeres ofensas e teres dias felizes, não digas tudo o que pensas, mas pensa tudo o que dizes. - Antonio Aleixo
+ Não Dês Esmola a Santinhos MOTE Não dês esmola a santinhos, Se queres ser bom cidadão; Dá antes aos pobrezinhos Uma fatia de pão. GLOSAS Não dês, porque a padralhada Pega nas tuas esmolinhas E compra frangos e galinhas Para comer de tomatada; E os santos não provam nada, Nem o cheiro, coitadinhos... Os padres bebem bons vinhos Por taças finas, bonitas... Se elas são p'ra parasitas, Não dês esmola a santinhos. Missas não mandes dizer, Nem lhes faças mais promessas E nem mandes armar essas Se um dia alguém te morrer. Não dês nada que fazer Ao padre e ao sacristão, A ver para onde eles vão... Trabalhar, não, com certeza. Dá sempre esmola à pobreza Se queres ser bom cidadão. Tu não vês que aquela gente Chega até a fingir que chora, Afirmando o que ignora, Assim descaradamente!?... Arranjam voz comovente Para jludir os parvinhos E fazem-se muito mansinhos, Que é o seu modo de mamar; Portanto, o que lhe hás-de dar, Dá antes aos pobrezinhos. Lembra-te o que, à sexta-feira, O sacristão — o mariola! — Diz, quando pede a esmola: «Isto é p'rà ajuda da cera»... Já poucos caem na asneira, Mas em tempos que lá vão, Juntavam grande porção De dinheiro, em prata e cobre, E não davam a um pobre Uma fatia de pão. - Antonio Aleixo