Solidão

Aproximo-me da noite o silêncio abre os seus panos escuros e as coisas escorrem por óleo frio e espesso

Esta deveria ser a hora em que me recolheria como um poente no bater do teu peito mas a solidão entra pelos meus vidros e nas suas enlutadas mãos solto o meu delírio

É então que surges com teus passos de menina os teus sonhos arrumados como duas tranças nas tuas costas guiando-me por corredores infinitos e regressando aos espelhos onde a vida te encarou

Mas os ruídos da noite trazem a sua esponja silenciosa e sem luz e sem tinta o meu sonho resigna

Longe os homens afundam-se com o caju que fermenta e a onda da madrugada demora-se de encontro às rochas do tempo


Mia Couto

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+ O importante não é a casa onde moramos. Mas onde, em nós, a casa mora. - Mia Couto

+ A ADIADA ENCHENTE Velho, não. Entardecido, talvez. Antigo, sim. Me tornei antigo porque a vida, tantas vezes, se demorou. E eu a esperei como um rio aguarda a cheia. - Mia Couto

+ "A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos." - Mia Couto

+ Esperto é o mar que, em vez da briga, prefere abraçar o rochedo. - Mia Couto

+ Rir junto é melhor que falar a mesma língua. Ou talvez o riso seja uma língua anterior que fomos perdendo à medida que o mundo foi deixando de ser nosso. - Mia Couto

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