Subamos! Subamos acima Subamos além, subamos Acima do além, subamos! Com a posse fisica dos braços Inelutavelmente galgaremos O grande mar de estrelas Através de milênios de luz. Subamos! Como dois atletas O rosto petrificado No pálido sorriso do esforço Subamos acima Com a posse física dos braços E os músculos desmesurados Na calma convulsa da ascensão. Oh, acima Mais longe que tudo Além, mais longe que acima do além! Como dois acrobatas Subamos, lentíssimos Lá onde o infinito De tão infinito Nem mais nome tem Subamos! Tensos Pela corda luminosa Que pende invisível E cujos nós são astros Queimando nas mãos Subamos à tona Do grande mar de estrelas Onde dorme a noite Subamos! Tu e eu, herméticos As nádegas duras A carótida nodosa Na fibra do pescoço Os pés agudos em ponta. Como no espasmo. E quando Lá, acima Além, mais longe que acima do além Adiante do véu de Betelgeuse Depois do país de Altair Sobre o cérebro de Deus Num último impulso Libertados do espírito Despojados da carne Nós nos possuiremos. E morreremos Morreremos alto, imensamente IMENSAMENTE ALTO


Vinicius De Moraes

Outras frases de Vinicius de Moraes

+ Soneto de Fidelidade De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. - Vinicius De Moraes

+ Soneto de separação De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. - Vinicius De Moraes

+ Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém. - Vinicius De Moraes

+ Tomara Que você volte depressa Que você não se despeça Nunca mais do meu carinho E chore, se arrependa E pense muito Que é melhor se sofrer junto Que viver feliz sozinho Tomara Que a tristeza te convença Que a saudade não compensa E que a ausência não dá paz E o verdadeiro amor de quem se ama Tece a mesma antiga trama Que não se desfaz E a coisa mais divina Que há no mundo É viver cada segundo Como nunca mais... - Vinicius De Moraes

+ Soneto do amigo Enfim, depois de tanto erro passado Tantas retaliações, tanto perigo Eis que ressurge noutro o velho amigo Nunca perdido, sempre reencontrado. É bom sentá-lo novamente ao lado Com olhos que contêm o olhar antigo Sempre comigo um pouco atribulado E como sempre singular comigo. Um bicho igual a mim, simples e humano Sabendo se mover e comover E a disfarçar com o meu próprio engano. O amigo: um ser que a vida não explica Que só se vai ao ver outro nascer E o espelho de minha alma multiplica... - Vinicius De Moraes

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