Frases de Caio Fernando Abreu
+ Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas, telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex (...) talvez ficassem curados, ao mesmo tempo ou não. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse peso, o outro ficasse cego. Talvez não se vissem nunca mais, com olhos daqui pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro, ou viajassem junto para Paris (...) talvez um se matasse, o outro negativasse. Seqüestrados por um OVNI, mortos por bala perdida, quem sabe. Talvez tudo, talvez nada. - Caio Fernando Abreu
+ Livrai-me de tudo que me trava o riso. - Caio Fernando Abreu
+ Eu sei que todos os dias quando eu acordo Deus dá um sorriso e me diz: Estou te dando a chance de tentar de novo. - Caio Fernando Abreu
+ Vou te pedir que fique. Mesmo que o futuro seja de incertezas, mesmo que não haja nada duradouro prescrito pra gente. Esse é um pedido egoísta, porque na verdade eu sei que se nada der realmente certo, vou ficar sem chão. Mas por outro lado, posso te fazer feliz também. É um risco. Eu pulo, se você me der a mão. - Caio Fernando Abreu
+ De cada dia arrancar das coisas uma modesta alegria; em cada noite descobrir um motivo razoável para acordar amanhã. - Caio Fernando Abreu
+ Vamos dizer adeus aos pensamentos tristes e que só reste as boas lembranças. Só reste amor no peito, pois no fim o que vale a pena é ser feliz. - Caio Fernando Abreu
+ Que eu possa também abrir espaço pra cultivar a todo instante as sementes do bem e da felicidade de quem não importa quem seja ou do mal que tenha feito para mim. Que a vida me ensine a amar cada vez mais, de um jeito mais leve. Que o respeito comigo mesma seja sempre obedecido com a paz de quem está se encontrando e se conhecendo com um coração maior. Um encontro com a vontade de paz e o desejo de viver. - Caio Fernando Abreu
+ Fiquei. Você sabe que eu fiquei. E que ficaria até o fim, até o fundo. Que aceitei a queda, que aceitei a morte. Que nessa aceitação, caí. Que nessa queda, morri. Tenho me carregado tão perdido e pesado pelos dias afora. E ninguém vê que estou morto. - Caio Fernando Abreu
+ Entenda bem: não me veja tentando reatar uma história de amor já bastante espatifada (ou talvez sim, mas você não me deu chance e a coisa mais saudável que eu podia fazer era entrar noutra). Acontece que, com ou sem cama, gosto profundamente de você. - Caio Fernando Abreu
+ Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros. - Caio Fernando Abreu
+ Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido. Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina. Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo... - Caio Fernando Abreu
+ Se ao menos dessa revolta, dessa angústia, saísse alguma coisa que prestasse. - Caio Fernando Abreu
+ O dia que Júpiter encontrou Saturno Foi a primeira pessoa que viu quando entrou. Tão bonito que ela baixou os olhos, sem querer querendo que ele também a tivesse visto. Deram-lhe um copo de plástico com vodka, gelo e uma casquinha de limão. Ela triturou a casquinha entre os dentes, mexendo o gelo com a ponta do indicador, sem beber. Com a movimentação dos outros, levantando o tempo todo para dançar rocks barulhentos ou afundar nos quartos onde rolavam carreiras e baseados, devagarinho conquistou uma cadeira de junco junto a janela. A noite clara lá fora estendida sobre Henrique Schaumann, a avenida poncho & conga, riu sozinha. Ria sozinha quase o tempo todo, uma moça magra querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz. Molhou os lábios na vodka tomando coragem de olhar para ele, um moço queimado de sol e calças brancas com a barra descosturada. Baixou outra vez os olhos, embora morena também, e suspirou soltando os ombros, coluna amoldando-se ao junco da cadeira. Só porque era sábado e não ficaria, desta vez não, parada entre o som, a televisão e o livro, atenta ao telefone silencioso. Sorriu olhando em volta, muito bem, parabéns, aqui estamos. Não que estivesse triste, só não sentia mais nada. Levemente, para não chamar atenção de ninguém, girou o busto sobre a cintura, apoiando o cotovelo direito sobre o peitoril da janela. Debruçou o rosto na palma da mão, os cabelos lisos caíram sobre o rosto. Para afastá-los, ela levantou a cabeça, e então viu o céu tão claro que não era o céu normal de Sampa, com uma lua quase cheia e Júpiter e Saturno muito próximos. Vista assim parecia não uma moça vivendo, mas pintada em aquarela, estatizada feito estivesse muito calma, e até estava, só não sentia mais nada, fazia tempo. Quem sabe porque não evidenciava nenhum risco parada assim, meio remota, o moço das calças brancas veio se aproximando sem que ela percebesse. Parado ao lado dela, vistos de dentro, os dois pintados em aquarela - mas vistos de fora, das janelas dos carros procurando bares na avenida, sombras chinesas recortadas contra a luz vermelha. E de repente o rock barulhento parou e a voz de John Lennon cantou 'every day, every way is getting better and better'. Na cabeça dela soaram cinco tiros. Os olhos subitamente endurecidos da moça voltaram-se para dentro, esbarrando nos olhos subitamente endurecidos dos moço. As memórias que cada um guardava, e eram tantas, transpareceram tão nitidamente nos olhos que ela imediatamente entendeu quando ele a tocou no ombro. -Você gosta de estrelas? -Gosto. Você também? -Também. Você está olhando a lua? -Quase cheia. Em Virgem. -Amanhã faz conjunção com Júpiter. -Com Saturno também. -Isso é bom? -Eu não sei. Deve ser. -É sim. Bom encontrar você. -Também acho. (Silêncio) -Você gosta de Júpiter? -Gosto. Na verdade "desejaria viver em Júpiter onde as almas são puras e a transa é outra". -Que é isso? -Um poema de um menino que vai morrer. -Como é que você sabe? -Em fevereiro, ele vai se matar em fevereiro. (Silêncio) -Você tem um cigarro? -Estou tentando parar de fumar. -Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora. -Você tem uma coisa nas mãos agora. -Eu? -Eu. (Silêncio) -Como é que você sabe? -O quê? -Que o menino vai se matar. -Sei de muitas coisas. Algumas nem aconteceram ainda. -Eu não sei nada. -Te ensino a saber, não a sentir. Não sinto nada, já faz tempo. -Eu só sinto, mas não sei o que sinto. Quando sei, não compreendo. -Ninguém compreende. -Às vezes sim. Eu te ensino. -Difícil, morri em dezembro. Com cinco tiros nas costas. Você também. -Também, depois saí do corpo. Você já saiu do corpo? (Silêncio) -Você tomou alguma coisa? -O quê? -Cocaína, morfina, codeína, mescalina, heroína, estenamina, psilocibina, metedrina. -Não tomei nada. Não tomo mais nada. -Nem eu. Já tomei tudo. -Tudo? -Cogumelos têm parte com o diabo. -O ópio aperfeiçoa o real. -Agora quero ficar limpa. De corpo, de alma. Não quero sair do corpo. (Silêncio) -Acho que estou voltando. Usava saias coloridas, flores nos cabelos. -Minha trança chegava até a cintura. As pulseiras cobriam os braços. -Alguma coisa se perdeu. -Onde fomos? Onde ficamos? -Alguma coisa se encontrou. -E aqueles guizos? -E aquelas fitas? -O sol já foi embora. -A estrada escureceu. -Mas navegamos. -Sim. Onde está o Norte? -Localiza o Cruzeiro do Sul. Depois caminha na direção oposta. (Silêncio) -Você é de Virgem? -Sou. E você, de Capricórnio? -Sou. Eu sabia. -Eu sabia também. -Combinamos: terra. -Sim. Combinamos. (Silêncio) -Amanhã vou embora para Paris. -Amanhã vou embora para Natal. -Eu te mando um cartão de lá. -Eu te mando um cartão de lá. -No meu cartão vai ter uma pedra suspensa sobre o mar. -No meu não vai ter pedra, só mar. E uma palmeira debruçada. (Silêncio) -Vou tomar chá de ayahuasca e ver você egípcia. Parada do meu lado, olhando de perfil. -Vou tomar chá de datura e ver você tuaregue. Perdido no deserto, ofuscado pelo sol. -Vamos nos ver? -No teu chá. No meu chá. (Silêncio) -Quando a noite chegar cedo e a neve cobrir as ruas, ficarei o dia inteiro na cama pensando em dormir com você. -Quando estiver muito quente, me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você. -Vou te escrever carta e não te mandar. -Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir. -Vou ver Júpiter e me lembrar de você. -Vou ver Saturno e me lembrar de você. -Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar. -O tempo não existe. -O tempo existe, sim, e devora. -Vou procurar teu cheiro no corpo de outra mulher. Sem encontrar, porque terei esquecido. Alfazema? -Alecrim. Quando eu olhar a noite enorme do Equador, pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida. -E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros. (Silêncio) -Mas não seria natural. -Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem. -Natural é encontrar. Natural é perder. -Linhas paralelas se encontram no infinito. -O infinito não acaba. O infinito é nunca. -Ou sempre. (Silêncio) -Tudo isso é muito abstrato. Está tocando "Kiss, kiss, kiss". Por que você não me convida para dormirmos juntos. -Você quer dormir comigo? -Não. -Porque não é preciso? -Porque não é preciso. (Silêncio) -Me beija. -Te beijo. Foi a última pessoa que viu ao sair. Tão bonita que ele baixou os olhos, sem saber sabendo que ela também o tinha visto. Desceu pelo elevador, a chave do carro na mão. Rodou a chave entre os dedos, depois mordeu leve a ponta metálica, amarga. Os olhos fixos nos andares que passavam, sem prestar atenção nos outros que assoavam narizes ou pingavam colírios. Devagarinho, conquistou o espaço junto à porta. Os ruídos coados de festas e comandos da madrugada nos outros apartamentos, festas pelas frestas, riu sozinho. Ria sozinho quase sempre, um moço queimado de sol, com a barra branca das calças descosturadas, querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz. Mordeu a unha junto com a chave, lembrando dela, uma moça magra de cabelos lisos junto à janela. Baixou outra vez os olhos, embora magro também. E suspirou soltando os ombros, pés inseguros comprimindo o piso instável do elevador. Só porque era sábado, porque estava indo embora, porque as malas restavam sem fazer e o telefone tocava sem parar. Sorriu olhando em volta. Não que estivesse triste, só não compreendia o que estava sentindo. Levemente, para não chamar a atenção de ninguém, apertou os dedos da mão direita na porta aberta do elevador e atravessou o saguão de lado, saindo para a rua. Apoiou-se no poste da esquina, o vento esvoaçando os cabelos, e para evitá-lo ele então levantou a cabeça e viu o céu. Um céu tão claro que não era o céu normal de Sampa, com uma lua quase cheia e Júpiter e Saturno muito próximos. Visto assim parecia não um moço vivendo, mas pintado num óleo de Gregório Gruber, tão nítido estava ressaltado contra o fundo da avenida, e assim estava, mas sem compreender, fazia tempo. Quem sabe porque não evidenciava nenhum risco, a moça debruçou-sena janela lá em cima e gritou alguma coisa que ele não chegou a ouvir. Parado longe dela, a moça visível apenas da cintura para cima parecia um fantoche de luva, manipulado por alguém escondido, o moço no poste agitando a cabeça, uma marionete de fios, manipulada por alguém escondido. De repente um carro freou atrás dele, o rádio gritando "se Deus quiser, um dia acabo voando". Na cabeça dele soaram cinco tiros. De onde estava, não conseguiria ver os olhos da moça. De onde estava, a moça não conseguiria ver os olhos dele. Mas as memórias de cada um eram tantas que ela imediatamente entendeu e aceitou, desaparecendo da janela no exato instante em que ele atravessou a avenida sem olhar para trás. - Caio Fernando Abreu
+ Tenho medo de já ter perdido muito tempo. Tenho medo que seja cada vez mais difícil. Tenho medo de endurecer, de me fechar, de me encarapaçar dentro de uma solidão - escudo. - Caio Fernando Abreu
+ Ando me preocupando demais por alguém que está longe de merecer qualquer tipo de afeto. - Caio Fernando Abreu
+ Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? - Caio Fernando Abreu
+ Eu quero mesmo é alguém que faça meu corpo querer companhia nos momentos em que minha mente insiste pela solidão. - Caio Fernando Abreu
+ O silêncio responde até mesmo aquilo que não foi perguntado. - Caio Fernando Abreu
+ Não se concentre tanto nas minhas variações de humor, apenas insista em mim. Se eu calar, me encha de palavras, me faça querer dizer outra e outra vez sobre você, sobre nós, e todo esse amor. Se eu chorar, não me faça muitas perguntas, não precisa nem secar minhas lágrimas. Só me diz que você continuará comigo pra tudo, que tenho teu colo e teu carinho. E ainda que te doa me ver assim, me envolva nos teus braços e diga que eu posso chorar, mas que você não sairá dali enquanto eu não sorrir. Porque é isso que nos importa, não é? O sorriso um do outro. Não é? - Caio Fernando Abreu
+ Aos poucos a gente vai mudando o foco. E o lugar nem te acrescenta mais, você começa a precisar de outros lugares. E de outras pessoas. E de bebidas mais fortes. Nem pensa. Vai indo junto com as coisas. - Caio Fernando Abreu
+ Tem muita coisa que, francamente, cá entre nós, não faço mesmo questão de saber. - Caio Fernando Abreu
+ Amor a gente não procura. É assim: você deixa a porta meio aberta, se distrai plantando girassóis e ele entra. Ele adora contrariar. - Caio Fernando Abreu
+ Quando não se tem mais nada a perder, só se tem a ganhar. - Caio Fernando Abreu
+ Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora... Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. - Caio Fernando Abreu
+ Um café e um amor… Quentes, por favor! Sem excessos de doçura ou amargura. Forte Doce… Que ambos façam meu coração acelerar. Que me mantenham vivo. Um café e um amor… Quentes, por favor! E que de nenhum deles eu sofra de vício, Mas que de ambos, Eu possa me dar ao luxo do hábito Um café e um amor… Quentes por favor! Pra ter calma nos dias frios. Pra dar colo Quando as coisas estiverem por um fio. E que eles nunca tenham gosto de ontem Nem anseiem pelo amanhã Que me façam feliz nesse agora, Que me abracem pela manhã. - Caio Fernando Abreu