Frases de Carlos Drummond De Andrade

+ Menino chorando na noite Na noite lenta e morna, morta noite sem ruído, um menino chora. O choro atrás da parede, a luz atrás da vidraça perdem-se na sombra dos passos abafados, das vozes extenuadas. E no entanto se ouve até o rumo da gota de remédio caindo na colher. Um menino chora na noite, atrás da parede, atrás da rua, longe um menino chora, em outra cidade talvez, talvez em outro mundo. E vejo a mão que levanta a colher, enquanto a outra sustenta a cabeça e vejo o fio oleoso que escorre pelo queixo do menino, escorre pela rua, escorre pela cidade (um fio apenas). E não há ninguém mais no mundo a não ser esse menino chorando. - Carlos Drummond De Andrade

+ Eu bem me entendo. Não sou alegre. Sou até muito triste. A culpa é da sombra das bananeiras de meu país, esta sombra mole, preguiçosa. Há dias em que ando na rua de olhos baixos para que ninguém desconfie, ninguém perceba que passei a noite inteira chorando. [...] Quem me fez assim foi minha gente e minha terra e eu gosto bem de ter nascido com essa tara. Para mim, de todas as burrices a maior é suspirar pela Europa. [...] Aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só, lê o seu jornal, mete a língua no governo, queixa-se da vida (a vida está tão cara) e no fim dá certo. Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou. Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta. - Carlos Drummond De Andrade

+ Esse longo caminho percorrido Lado a lado, nos bons e maus momentos, Faz de nós dois um ser unificado Pelos mais fundos, ternos sentimentos. - Carlos Drummond De Andrade

+ ENTRE O SER E AS COISAS Onda e amor, onde amor, ando indagando ao largo vento e à rocha imperativa, e a tudo me arremesso, nesse quando amanhece frescor de coisa viva. Às almas, não, as almas vão pairando, e, esquecendo a lição que já se esquiva, tornam amor humor, e vago brando o que é de natureza corrosiva. Nágua e na pedra amor deixa gravados seus hieróglifos e mensagens, suas verdades mais secretas e mais nuas. E nem os elementos encantados sabem do amor que punge e que é, pungindo, uma fogueira a arder no dia findo. - Carlos Drummond De Andrade

+ É preciso regar as flores sobre o jazigo de amizades extintas. - Carlos Drummond De Andrade

+ E muito fácil voce falar vá em frente que voce consegue mas e difícil pra min porque vai ser eu que vai ter que agir. - Carlos Drummond De Andrade

+ E agora José? - Carlos Drummond De Andrade

+ Domingo O tédio e a diversão múltipla dos domingo amam entrelaçar-se. ( In: O Avesso das Coisas - 6º Edição, 2007.) - Carlos Drummond De Andrade

+ Dentro de mim, bem no fundo/ há reservas colossais de tempo,/ futuro, pós-futuro, pretérito. - Carlos Drummond De Andrade

+ Conhecimento Mantemos reserva para com o desconhecido, esquecendo que não nos conhecemos a nós mesmos. ( In: O Avesso das Coisas - 6º Edição, 2007.) - Carlos Drummond De Andrade

+ Como viver o mundo em termo de esperança, que palavra é essa que a gente não alcança. - Carlos Drummond De Andrade

+ Com que inocência demito-me de ser eu que antes era e me sabia tão diverso dos outros, tão mim-mesmo, ser pensante, sentinte e solidário com outros seres diversos e conscientes Da sua humana, invencível condição. Agora sou anúncio, ora vulgar ora bizarro, em língua nacional ou em qualquer língua (qualquer, principalmente). E nisto me comprazo, tiro glória de minha anulação. - Carlos Drummond De Andrade

+ Certas amizades comprometem a ideia de amizade. - Carlos Drummond De Andrade

+ Ator O ator é metade gente metade personagem, não se distinguindo bem as metades. - Carlos Drummond De Andrade

+ A vontade de amar, que me paralisa o trabalho [...] E o hábito de sofrer, que tanto me diverte. - Carlos Drummond De Andrade

+ A palavra Minas Minas não é palavra montanhosa É palavra abissal Minas é dentro e fundo As montanhas escondem o que é Minas. No alto mais celeste, subterrânea, é galeria vertical varando o ferro para chegar ninguém sabe onde. Ninguém sabe Minas. A pedra o buriti a carranca o nevoeiro o raio selam a verdade primeira, sepultada em eras geológicas de sonho. Só mineiros sabem. E não dizem nem a si mesmos o irrevelável segredo chamado Minas. - Carlos Drummond De Andrade

+ A PALAVRA MÁGICA Certa palavra dorme na sombra de um livro raro. Como desencantá-la? É a senha da vida a senha do mundo. Vou procurá-la. Vou procurá-la a vida inteira no mundo todo. Se tarda o encontro, se não a encontro, procuro sempre. Procuro sempre, e minha procura ficará sendo minha palavra *Carlos Drummond de Andrade Postado por Di..Resende - Carlos Drummond De Andrade

+ A metafísica do corpo se entremostra nas imagens. A alma do corpo modula em cada fragmento sua música de esferas e de essências além da simples carne e simples unhas. Em cada silêncio do corpo identifica-se a linha do sentido universal que à forma breve e transitiva imprime a solene marca dos deuses e do sonho. - Carlos Drummond De Andrade

+ A. impossibilidade de participar de todas as combinações em desenvolvimento a qualquer instante numa grande cidade tem sido uma das dores de minha vida. Sofro como se sentisse em mim, como se houvesse em mim uma capacidade desmesurada de agir. Entretanto, na parte de ação que a vida me reserva, muitas vezes me abstenho e outras me confundo. […] A ideia de que diariamente, a cada hora, a cada minuto e em cada lugar se realizam milhares de ações que me teriam profundamente interessado, de que eu certamente deveria tomar conhecimento e que entretanto jamais me serão comunicadas — basta para tirar o sabor a todas as perspectivas de ação que encontro à minha frente. O pouco que eu pudesse obter não compensaria jamais esse infinito perdido. Nem me consola o pensamento de que, entrando na confrontação simultânea de tantos acontecimentos, eu não pudesse sequer registrá-los, quanto mais dirigi-los à minha maneira ou mesmo tomar de cada um o aspecto singular, o tom e o desenho próprios, uma porção, mínima que fosse, de sua peculiar substância. - Carlos Drummond De Andrade

+ Zen Prática budista que faz falta a governantes e políticos: exige meditação profunda. (In: O Avesso das Coisas - 6º Edição, 2007.) - Carlos Drummond De Andrade

+ Voz Cala-te, mas que não seja demasiado, para não perderes o uso da voz. ( In: O Avesso das Coisas - 6º Edição, 2007.) - Carlos Drummond De Andrade

+ Você tem todos os motivos para não amar e apenas um que justifica todo o amor. - Carlos Drummond De Andrade

+ "Você não pode desistir até que tente Você não pode viver até que morra Você não pode aprender a contar a verdade Até que aprenda a mentir" - Carlos Drummond De Andrade

+ Visão de Clarice Lispector Clarice, veio de um mistério, partiu para outro. Ficamos sem saber a essência do mistério. Ou o mistério não era essencial, era Clarice viajando nele. Era Clarice bulindo no fundo mais fundo, onde a palavra parece encontrar sua razão de ser, e retratar o homem. O que Clarice disse, o que Clarice viveu por nós em forma de história em forma de sonho de história em forma de sonho de sonho de história (no meio havia uma barata ou um anjo?) não sabemos repetir nem inventar. São coisas, são jóias particulares de Clarice que usamos de empréstimo, ela dona de tudo. Clarice não foi um lugar-comum, carteira de identidade, retrato. De Chirico a pintou? Pois sim. O mais puro retrato de Clarice só se pode encontrá-lo atrás da nuvem que o avião cortou, não se percebe mais. De Clarice guardamos gestos. Gestos, tentativas de Clarice sair de Clarice para ser igual a nós todos em cortesia, cuidados, providências. Clarice não saiu, mesmo sorrindo. Dentro dela o que havia de salões, escadarias, tetos fosforescentes, longas estepes, zimbórios, pontes do Recife em bruma envoltas, formava um país, o país onde Clarice vivia, só e ardente, construindo fábulas. Não podíamos reter Clarice em nosso chão salpicado de compromissos. Os papéis, os cumprimentos falavam em agora, edições, possíveis coquetéis à beira do abismo. Levitando acima do abismo Clarice riscava um sulco rubro e cinza no ar e fascinava. Fascinava-nos, apenas. Deixamos para compreendê-la mais tarde. Mais tarde, um dia... saberemos amar Clarice. - Carlos Drummond De Andrade

+ Verdadeiro amor - Carlos Drummond De Andrade