Frases de Cecília Meireles
+ "Hoje eu queria ler uns livros que não falam de gente, mas só de bichos, de plantas, de pedras: um livro que me levasse por essas solidões da Natureza, sem vozes humanas, sem discursos, boatos, mentiras, calúnias, falsidades, elogios, celebrações...hoje eu queria apenas ver uma flor abrir-se, desmanchar-se (...)." - Cecília Meireles
+ Herança “Eu vim de infinitos caminhos, e os meus sonhos choveram lúcido pranto pelo chão”. (Trecho do livro “Viagem”, 1939.) - Cecília Meireles
+ FLOR JOGADA AO RIO Entre eclusa e esparavel faremos a canção triste para uma flor de papel. O esparavel a amparar-te, a eclusa a esperar por ti e o tempo amargo a quebrar-te. Flor imaginária _ flor que vais viver para sempre só de imaginário amor. Por isso, entre o esparavel e a eclusa ficas tão triste como a canção num papel. - Cecília Meireles
+ Eu ando sozinha por cima de pedras. Mas a flor é minha. Os meus passos no caminho são como os passos da lua; vou chegando, vai fugindo, minha alma é a sombra da tua. - Cecília Meireles
+ Epigrama Narciso,foste caluniado pelos homens, por teres deixado cair, uma tarde, na água incolor, a desfeita grinalda do teu sorriso. Narciso, eu sei que não sorrias para o teu vulto, dentro da onda: sorrias para a onda, apenas, que enlouquecera, e que sonhava gerar no ritmo do seu corpo, ermo e indeciso, a estátua de cristal que, sobre a tarde, a contemplava, florindo-a para sempre, com o seu efêmero sorriso... - Cecília Meireles
+ "E por perder-me é que vão me lembrando, por desfolhar-me é que não tenho fim..." " Meus pés vão pisando a terra Que é a imagem da minha vida: Tão vazia, mas tão bela Tão certa , mas tão perdida!" - Cecília Meireles
+ E como o bom uso das palavras e o bom uso do pensamento são uma coisa só e a mesma coisa, conhecer o sentido de cada uma é conduzir-se entre claridades, é construir mundos tendo como laboratório o Dicionário, onde jazem, catalogados, todos os necessários elementos. Eu levaria o Dicionário para a ilha deserta. O tempo passaria docemente, enquanto eu passeasse por entre nomes conhecidos e desconhecidos, nomes, sementes e pensamentos e sementes das flores de retórica. Poderia louvar melhor os amigos, e melhor perdoar os inimigos, porque o mecanismo da minha linguagem estaria mais ajustado nas suas molas complicadíssimas. E sobretudo, sabendo que germes pode conter uma palavra, cultivaria o silêncio, privilégio dos deuses, e ventura suprema dos homens. - Cecília Meireles
+ De um lado, a estrela eterna, e do outro a vaga incerta... - Cecília Meireles
+ DAS MINHAS MÃOS, QUE SÃO TÃO FIRMES Das minhas mãos, que são tão firmes, cai-me o espelho, que era tão claro, e à meia-noite se divide, com meus olhos cheios de teatro. Nas grandes sedas do vestido, ficam meditando meus braços. E de longe correm antigos pássaros cheios de presságios. Há um cristal de sonho e de lua cobrindo com serenidade as adormecidas criaturas. Uma mulher no alto da noite pensa que é solidão, que é tarde, e que o cristal levou seu rosto. - Cecília Meireles
+ Cabecinha boa de menino triste, de menino triste que sofre sozinho, que sozinho sofre, — e resiste, Cabecinha boa de menino ausente, que de sofrer tanto se fez pensativo, e não sabe mais o que sente... Cabecinha boa de menino mudo que não teve nada, que não pediu nada, pelo medo de perder tudo. Cabecinha boa de menino santo que do alto se inclina sobre a água do mundo para mirar seu desencanto. Para ver passar numa onda lenta e fria a estrela perdida da felicidade que soube que não possuiria. - Cecília Meireles
+ BERCEUSE PARA QUEM MORRE Dorme... Dorme... Rolam pelas vertentes das montanhas, as estrelas cadentes... Meu amor, a noite mansa dança,dança no silêncio do Jardim... Lento, um cipreste balança... Tu, descansa, meu amor, perto de mim... Dorme, dorme como as rosas noturnas, quando há trevas perigosas de furnas... Meu amor, não se descreve esta neve que dos céus descendo vem... É um beijo breve... O mais breve... O mais leve... Que não se deu em ninguém... Dorme... O luar se espalha triste na altura... Quem sabe, é, tudo que existe, loucura? - Cecília Meireles
+ Tú ouviras esta linguagem, Simples Serena difícil Terás um encanto triste Como os que vão morres, sabendo o dia... Não intimamente Queiras esta morte; Sentido a maior que a vida - Cecília Meireles
+ Tristes ainda seremos por muito tempo, embora de uma maior tristeza, nós, os que o sol e a lua todos os dias encontram no espelho do silêncio refletidos, neste longo exercício de alma. - Cecília Meireles
+ Todos Morreram Todos morreram antes de meu nascimento. E minha mãe (Matilde Benevides Meirelles) se foi quando eu tinha apenas três anos. Fui criada por minha avó materna, Jacinta Garcia Benevides, nascida nos Açores, Ilha de São Miguel. - Cecília Meireles
+ Som frio, Do rio sombrio, O longo som, Do rio frio, Tão longe, Tão bom, Tão frio, O claro som do rio sombrio. - Cecília Meireles
+ Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa rimada. E um dia sei que estarei muda: - mais nada. (do livro "Viagem", 1939.) - Cecília Meireles
+ Sede assim qualquer coisa serena, isenta, fiel. Não como o resto dos homens. - Cecília Meireles
+ Se me contemplo, tantas me vejo, que não entendo quem sou, no tempo do pensamento. Vou desprendendo elos que tenho, alças, enredos... Formas, desenho que tive, e esqueço! Falas, desejo e movimento — a que tremendo, vago segredo ides, sem medo?! Sombras conheço: não lhes ordeno. Como precedo meu sonho inteiro, e após me perco, sem mais governo?! Nem me lamento nem esmoreço: no meu silêncio há esforço e gênio e suave exemplo de mais silêncio. Não permaneço. Cada momento é meu e alheio. Meu sangue deixo, breve e surpreso, em cada veio semeado e isento. Meu campo, afeito à mão do vento, é alto e sereno: Amor. Desprezo. Assim compreendo o meu perfeito acabamento. Múltipla, venço este tormento do mundo eterno que em mim carrego: e, una, contemplo o jogo inquieto em que padeço. E recupero o meu alento e assim vou sendo. Ah, como dentro de um prisioneiro há espaço e jeito para esse apego a um deus supremo, e o acerbo intento do seu concerto com a morte, o erro... ( voltas do tempo — sabido e aceito — do seu desterro...) - Cecília Meireles
+ Saudade doi - Cecília Meireles
+ Pensei que era apenas demora, E cantando pus-me a esperar-te. Permita que agora emudeça: Que me conforme em ser sozinha. (...) - Cecília Meireles
+ "(...)O vento vem vindo de longe,/a noite se curva de frio;/debaixo da água vai morrendo/meu sonho, dentro de um navio... (...)". (do poema "canção", do livro 'Obra poética' - Pág 18, - J. Aguilar, 1958.) - Cecília Meireles
+ O que amamos está sempre longe de nós: e longe mesmo do que amamos - que não sabe de onde vem, aonde vai nosso impulso de amor. (do livro "Solombra".) - Cecília Meireles
+ O MUNDO DOS HOMENS ENVOLVE-ME O mundo dos homens envolve-me, porém não me abraça. Eu não tenho nada com a onda, mesmo que naufrague dentro dela. Se tu não sentes esta coisa simples que eu sinto, esta unidade que não se rompe, mesmo quando compreende e participa... (Então, ó deuses, de que somos, de quem somos, quem somos, e como provaremos sermos todos irmãos?) - Cecília Meireles
+ O mosquito escreve O mosquito pernilongo trança as pernas, faz um M, depois, treme, treme, treme, faz um O bastante oblongo, faz um S. O mosquito sobe e desce. Com artes que ninguém vê, faz um Q, faz um U, e faz um I. Este mosquito esquisito cruza as patas, faz um T. E aí, se arredonda e faz outro O, mais bonito. Oh! Já não é analfabeto, esse inseto, pois sabe escrever seu nome. Mas depois vai procurar alguém que possa picar, pois escrever cansa, não é, criança? E ele está com muita fome. - Cecília Meireles
+ Não venci todas batalhas que lutei, mas perdi todas que deixei de lutar - Cecília Meireles