Frases de Cecília Meireles
+ Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência a vossa! Todo o sentido da vida principia à vossa porta; o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa; sois o sonho e sois a audácia, calúnia, fúria, derrota... - Cecília Meireles
+ Apresentação Aqui está minha vida - esta areia tão clara com desenhos de andar dedicados ao vento. Aqui está minha voz - esta concha vazia, sombra de som curtindo o seu próprio lamento. Aqui está minha dor - este coral quebrado, sobrevivendo ao seu patético momento. Aqui está minha herança - este mar solitário, que de um lado era amor e, do outro, esquecimento. - Cecília Meireles
+ Inscrição na Areia O meu amor não tem importância nenhuma. Não tem o peso nem de uma rosa de espuma! Desfolha-se por quem? Para quem se perfuma? O meu amor não tem importância nenhuma. - Cecília Meireles
+ Não venci todas as vezes que lutei, mas perdi todas as vezes que deixei de lutar. - Cecília Meireles
+ HUMILDADE Tanto que fazer! livros que não se lêem, cartas que não se escrevem, línguas que não se aprendem, amor que não se dá, tudo quanto se esquece. Amigos entre adeuses, crianças chorando na tempestade, cidadãos assinando papéis, papéis, papéis... até o fim do mundo assinando papéis. E os pássaros detrás de grades de chuva. E os mortos em redoma de cânfora. (E uma canção tão bela!) Tanto que fazer! E fizemos apenas isto. E nunca soubemos quem éramos, nem pra quê. - Cecília Meireles
+ Faze-te sem limites no tempo. - Cecília Meireles
+ Romantismo Quem tivesse um amor, nesta noite de lua, para pensar um belo pensamento e pousá-lo no vento!... Quem tivesse um amor - longe, certo e impossível - para se ver chorando, e gostar de chorar, e adormecer de lágrimas e luar! Quem tivesse um amor, e, entre o mar e as estrelas, partisse por nuvens, dormente e acordado, levitando apenas, pelo amor levado... Quem tivesse um amor, sem dúvida nem mácula, sem antes nem depois: verdade e alegoria... Ah! Quem tivesse... (Mas quem tem? Quem teria?) - Cecília Meireles
+ Leveza Leve é o pássaro: e a sua sombra voante, mais leve. E a cascata aérea de sua garaganta, mais leve. E o que se lembra, ouvindo-se deslizar seu canto, mais leve. E o desejo rápido desse mais antigo instante, mais leve. E a fuga invisível do amargo passante, mais leve. - Cecília Meireles
+ Personagem Teu nome é quase indiferente e nem teu rosto mais me inquieta. A arte de amar é exactamente a de se ser poeta. Para pensar em ti, me basta o próprio amor que por ti sinto: és a ideia, serena e casta, nutrida do enigma do instinto. O lugar da tua presença é um deserto, entre variedades: mas nesse deserto é que pensa o olhar de todas as saudades. Meus sonhos viajam rumos tristes e, no seu profundo universo, tu, sem forma e sem nome, existes, silêncio, obscuro, disperso. Teu corpo, e teu rosto, e teu nome, teu coração, tua existência, tudo - o espaço evita e consome: e eu só conheço a tua ausência. Eu só conheço o que não vejo. E, nesse abismo do meu sonho, alheia a todo outro desejo, me decomponho e recomponho. - Cecília Meireles
+ Perdoa-me, folha seca, não posso cuidar de ti. Vim para amar neste mundo, e até do amor me perdi. (...) Tu és folha de outono voante pelo jardim. Deixo-te a minha saudade - a melhor parte de mim. - Cecília Meireles
+ Meu Sonho Parei as águas do meu sonho para teu rosto se mirar. Mas só a sombra dos meus olhos ficou por cima, a procurar... Os pássaros da madrugada não têm coragem de cantar, vendo o meu sonho interminável e a esperança do meu olhar. Procurei-te em vão pela terra, perto do céu, por sobre o mar. Se não chegas nem pelo sonho, por que insisto em te imaginar? Quando vierem fechar meus olhos, talvez não se deixem fechar. Talvez pensem que o tempo volta, e que vens, se o tempo voltar. - Cecília Meireles
+ Minhas mãos ainda estão molhadas do azul das ondas entreabertas, e a cor que escorre de meus dedos colore as areias desertas. - Cecília Meireles
+ Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, mas foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano. - Cecília Meireles
+ Um dia, ela descobriu sozinha que era duas! A que sofre depressa, no ritmo intenso e atroz da noite e a que olha o sofrimento do alto do sono, do alto de tudo, balançada num céu de estrelas invisíveis, sem contato nenhum com o chão. - Cecília Meireles
+ Quem falou de primavera sem ter visto seu sorriso, falou sem saber o que era. - Cecília Meireles
+ Improviso do Amor-Perfeito Naquela nuvem, naquela, mando-te meu pensamento: que Deus se ocupe do vento. Os sonhos foram sonhados, e o padecimento aceito. E onde estás, Amor-Perfeito ? Imensos jardins da insônia, de um olhar de despedida deram flor por toda a vida. Ai de mim que sobrevivo sem o coração no peito. E onde estás, Amor-Perfeito ? Longe, longe, atrás do oceano que nos meus olhos se alteia, entre pálpebras de areia... Longe, longe... Deus te guarde sobre o seu lado direito, como eu te guardava do outro, noite e dia, Amor-Perfeito. - Cecília Meireles
+ O vento do meu espírito soprou sobre a vida. E tudo o que era efêmero se desfez. e só ficastes tu que és eterno. - Cecília Meireles
+ Mas a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada. - Cecília Meireles
+ Sugestão Sede assim — qualquer coisa serena, isenta, fiel. Flor que se cumpre, sem pergunta. Onda que se esforça, por exercício desinteressado. Lua que envolve igualmente os noivos abraçados e os soldados já frios. Também como este ar da noite: sussurrante de silêncios, cheio de nascimentos e pétalas. Igual à pedra detida, sustentando seu demorado destino. E à nuvem, leve e bela, vivendo de nunca chegar a ser. À cigarra, queimando-se em música, ao camelo que mastiga sua longa solidão, ao pássaro que procura o fim do mundo, ao boi que vai com inocência para a morte. Sede assim qualquer coisa serena, isenta, fiel. Não como o resto dos homens. - Cecília Meireles
+ Leilão de Jardim Quem me compra um jardim com flores? borboletas de muitas cores, lavadeiras e passarinhos, ovos verdes e azuis nos ninhos? - Cecília Meireles
+ Há um arco-íris ligando o que sonha e o que entende – e por essa frágil ponte circula um mundo maravilhoso e terrível, que os não iniciados apenas de longe percebem, mas de cuja grandeza se vêem separados por muralhas estranhas, que tanto afastam como atraem. - Cecília Meireles
+ Mulher ao espelho Hoje que seja esta ou aquela, pouco me importa. Quero apenas parecer bela, pois, seja qual for, estou morta. Já fui loura, já fui morena, já fui Margarida e Beatriz. Já fui Maria e Madalena. Só não pude ser como quis. Que mal faz, esta cor fingida do meu cabelo, e do meu rosto, se tudo é tinta: o mundo, a vida, o contentamento, o desgosto? Por fora, serei como queira a moda, que me vai matando. Que me levem pele e caveira ao nada, não me importa quando. Mas quem viu, tão dilacerados, olhos, braços e sonhos seu se morreu pelos seus pecados, falará com Deus. Falará, coberta de luzes, do alto penteado ao rubro artelho. Porque uns expiram sobre cruzes, outros, buscando-se no espelho. - Cecília Meireles
+ Alguns dos melhores momentos da vida a gente experimenta de olhos fechados, tudo o que acontece dá para imaginar… Tudo o que se imagina, pode acontecer. - Cecília Meireles
+ Aceitação É mais fácil pousar o ouvido nas nuvens e sentir passar as estrelas do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos. É mais fácil, também, debruçar os olhos no oceano e assistir, lá no fundo, ao nascimento mudo das formas, que desejar que apareças, criando com teu simples gesto o sinal de uma eterna esperança. Não me interessam mais nem as estrelas, nem as formas do mar, nem tu. Desenrolei de dentro do tempo a minha canção: não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar. - Cecília Meireles
+ ... Um poeta é sempre irmão do vento e da água: deixa seu ritmo por onde passa. ... Se eu nem sei onde estou, como posso esperar que algum ouvido me escute? ... Ah! Se eu nem sei quem sou, como posso esperar que venha alguém gostar de mim? (Discurso) - Cecília Meireles