Frases de Cecília Meireles
+ Tão liso está meu coração, tão lisos, meus pensamentos, que as lágrimas rolarão, e os contentamentos. - Cecília Meireles
+ "Serás possível um peito, comportar mais saudade que seu próprio tamanho? pois eu lhe juro, logo já, meu coração arrebenta minhas costelas e vai correndo ao encontro do teu de tanto não suportar mais você tão longe. tenho medo que meus braços durante a noite se rebelem, destaquem-se de mim e saiam correndo ao enlaço do teu pescoço e minha boca se recuse a fazer qualquer movimento que não seja atado à tua. ando de um lado pro outro o dia inteiro, só pra ver se meus pés aquietam e deixam de tentar correr na tua direção. Dear, a verdade é que sem você aqui comigo, meu corpo inteiro tenta dar jeito de te alcançar. é mais que consciente minha vontade de você. é involuntário como cada batida do meu coração - que sussurra seu nome, seu nome, seu nome, tum-tum, seu nome…" - Cecília Meireles
+ Onde é que dói na minha vida para que eu me sinta tão mal? - Cecília Meireles
+ Minhas palavras são a metade de um diálogo obscuro continuando através de séculos impossíveis. - Cecília Meireles
+ Lamento do oficial por seu cavalo morto Nós merecemos a morte, porque somos humanos e a guerra é feita pelas nossas mãos, pelo nossa cabeça embrulhada em séculos de sombra, por nosso sangue estranho e instável, pelas ordens que trazemos por dentro, e ficam sem explicação. Criamos o fogo, a velocidade, a nova alquimia, os cálculos do gesto, embora sabendo que somos irmãos. Temos até os átomos por cúmplices, e que pecados de ciência, pelo mar, pelas nuvens, nos astros! Que delírio sem Deus, nossa imaginação! E aqui morreste! Oh, tua morte é a minha, que, enganada, recebes. Não te queixas. Não pensas. Não sabes. Indigno, ver parar, pelo meu, teu inofensivo coração. Animal encantado - melhor que nós todos! - que tinhas tu com este mundo dos homens? Aprendias a vida, plácida e pura, e entrelaçada em carne e sonho, que os teus olhos decifravam... Rei das planícies verdes, com rios trêmulos de relinchos... Como vieste morrer por um que mata seus irmãos! (in Mar Absoluto e outros poemas: Retrato Natural. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1983.) - Cecília Meireles
+ "Um poeta à mercê do espaço, nem necessita de vida. " - Cecília Meireles
+ Se amanhã eu acordar Deus estará comigo. - Cecília Meireles
+ O instante existe (...) Não sou alegre nem sou triste: (...) Não sito gozo nem tormento. Atravesso noite e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço. não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. - Cecília Meireles
+ Não se chora apenas com a noite estendida sobre o sono dos homens, com o silêncio pulsando em poros de imperceptíveis silvos trêmulos, sussurrantes, urdindo a trama de inúmeros aléns. Não se chora apenas com a solidão concentrada em firmes bosques, num chão de sombras por onde as lágrimas se embebam, e nem a palidez das estrelas seja um breve indício de presença. Não se chora sempre de cara virada para um tranquilo muro. Nem sempre se pode dizer: é da ausência, é da noite, é do silêncio, é do deserto... da planície vazia, do mar fatigante, do assombro enorme da treva... Chora-se em pleno dia, à luz do sol, diante do mundo povoado. Caem lágrimas em pedras quentes, com borboletas, flores, gorjeios, nuvens brancas, moças cantando, janelas abertas, ruas alegres. Alguma coisa em nós é maior e mais grave que as expansões da vida, alguma coisa é maior que o candelabro azul do dia com flores, pássaros, canções entrelaçados nos seus doze braços. Nem é de nós, nem nos pertence. Sentimos que é da terra e dos homens, da desordem do tempo, da espada das paixões sobre o peito do sonho. - Cecília Meireles
+ Não consegui entender Não sei se brinco, não sei se estudo, se saio correndo ou fico tranqüilo. Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo. - Cecília Meireles
+ Meu coração, coisa de aço, começa a achar um cansaço esta procura de espaço para o desenho da vida. Já por exausta e descrida não me animo a um breve traço: - saudosa do que não faço, - do que faço, arrependida. - Cecília Meireles
+ Eu e tu perdemos tudo. Suplicávamos o infinito. Só nos deram o mundo. - Cecília Meireles
+ E todos somos pura flor de vento. - Cecília Meireles
+ De um lado cantava o sol, do outro, suspirava a lua. No meio, brilhava a tua face de ouro, girassol! Ó montanha da saudade a que por acaso vim: outrora, foste um jardim, e és, agora, eternidade! De longe, recordo a cor da grande manhã perdida. Morrem nos mares da vida todos os rios do amor? Ai! celebro-te em meu peito, em meu coração de sal, Ó flor sobrenatural, grande girassol perfeito! Acabou-se-me o jardim! Só me resta, do passado, este relógio dourado que ainda esperava por mim . . . - Cecília Meireles
+ Comunicação Cecília Meireles Pequena lagartixa branca, ó noiva brusca dos ladrilhos! sobe à minha mesa, descansa, debruça-te em meus calmos livros. Ouve comigo a voz dos poetas que agora não dizem mais nada, – e diziam coisas tão belas! – ó ídolo de cinza e prata! Ó breve deusa de silêncio que na face da noite corres como a dor pelo pensamento, – e sozinha miras e foges. Pequena lagartixa – vinda para quê? – pousa em mim teus olhos. Quero contemplar tua vida, a repetição dos teus mortos. Como os poetas que já cantaram, e que já ninguém mais escuta, eu sou também a sombra vaga de alguma interminável música. Pára em meu coração deserto! Deixa que te ame, ó alheia, ó esquiva… Sobre a torrente do universo, nas pontes frágeis da poesia. - Cecília Meireles
+ Suspensas Fugas Para pensar em ti todas as horas fogem: o tempo humano expira em lágrima e cegueira. Tudo são praias onde o mar afoga o amor. Quero a insônia, a vigília, uma clarividência deste instante que habito – ai, meu domínio triste!, ilha onde eu mesma nada sei fazer por mim. Vejo a flor; vejo no ar a mensagem das nuvens - e na minha memória és imortalidade - vejo as datas, escuto o próprio coração. E depois o silêncio. E teus olhos abertos nos meus fechados. E esta ausência em minha boca: pois bem sei que falar é o mesmo que morrer: Da vida à Vida, suspensas fugas. - Cecília Meireles
+ Se volto sobre o meu passo, é já distância perdida. Meu coração, coisa de aço, começa a achar um cansaço esta procura de espaço para o desenho da vida. - Cecília Meireles
+ Recado aos Amigos Distantes Meus companheiros amados, não vos espero nem chamo: porque vou para outros lados. Mas é certo que vos amo. Nem sempre os que estão mais perto fazem melhor companhia. Mesmo com sol encoberto, todos sabem quando é dia. Pelo vosso campo imenso, vou cortando meus atalhos. Por vosso amor é que penso e me dou tantos trabalhos. Não condeneis, por enquanto, minha rebelde maneira. Para libertar-me tanto, fico vossa prisioneira. Por mais que longe pareça, ides na minha lembrança, ides na minha cabeça, valeis a minha Esperança. - Cecília Meireles
+ "Quando penso em você, fecho os olhos de saudade." - Cecília Meireles
+ OS MORTOS SOBEM AS ESCADAS Os mortos sobem as escadas, sorrindo com seus claros dentes. Alegrias que nunca tiveram quando eram vivos e presentes, felicidades que apenas sonharam e foram lágrimas somente. Os mortos sobem as escadas: inesperados visitantes vindos dos reinos sem fronteiras às nossas casas, dessemelhantes. Ai, bem se vê que não estão vendo que um vivo é um morto mais distante! - Cecília Meireles
+ "Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol." - Cecília Meireles
+ "O amor sozinho vagava. Sem mais nada além de mim... numa eternidade inútil" - Cecília Meireles
+ Não perguntavam por mim, mas deram por minha falta. Na trama da minha ausência, inventaram tela falsa. - Cecília Meireles
+ Máquina Breve O pequeno vaga-lume com sua verde lanterna, que passava pela sombra inquietando a flor e a treva - meteoro da noite, humilde, dos horizontes da relva; o pequeno vaga-lume, queimada a sua lanterna, jaz carbonizado e triste e qualquer brisa o carrega: mortalha de exíguas franjas que foi seu corpo de festa. Parecia uma esmeralda e é um ponto negro na pedra. Foi luz alada, pequena estrela em rápida seta. Quebrou-se a máquina breve na precipitada queda. E o maior sábio do mundo sabe que não a conserta. - Cecília Meireles
+ Já não sei mais a diferença de ti, de mim, da coisa perguntada, do silêncio da coisa irrespondida. - Cecília Meireles