Frases de Florbela Espanca
+ Os dias são outonos: choram...choram... Há crisântemos roxos que descoram... Há murmúrios dolentes de segredos... Invoco o nosso sonho! Estendo os braços! E ele é, o meu amor, pelos espaços, Fumo leve que foge entre os meus dedos! - Florbela Espanca
+ "É só teu o meu livro; guarda-o bem; Nele floresce o nosso casto amor Nascido nesse dia em que o destino Uniu o teu olhar à minha dor." - Florbela Espanca
+ Beijos d'amor que vão de boca em boca, Como pobres que vão de porta em porta! - Florbela Espanca
+ Vozes Do Mar Quando o sol vai caindo sobre as águas Num nervoso delíquio d’oiro intenso, Donde vem essa voz cheia de mágoas Com que falas à terra, ó mar imenso?… Tu falas de festins, e cavalgadas De cavaleiros errantes ao luar? Falas de caravelas encantadas Que dormem em teu seio a soluçar? Tens cantos d’epopeias?Tens anseios D’amarguras? Tu tens também receios, Ó mar cheio de esperança e majestade?! Donde vem essa voz,ó mar amigo?… … Talvez a voz do Portugal antigo, Chamando por Camões numa saudade! - Florbela Espanca
+ "É uma resposta aos que chamam ao suicídio um fim de cobardes e de fracos, quando são unicamente os fortes que se matam! Sabem lá esses pseudo-fortes o que é preciso de coragem para friamente, simplesmente, dizer um adeus à vida, à vida que é um instinto de todos nós, à vida tão amada e desejada a despeito de tudo, embora esta vida seja apenas um pântano infecto e imundo!" - Florbela Espanca
+ Cantigas leva-as o vento... A lembrança dos teus beijos Inda na minh'alma existe, Como um perfume perdido, Nas folhas dum livro triste. Perfume tão esquisito E de tal suavidade, Que mesmo desapar'cido Revive numa saudade - Florbela Espanca
+ Vivo sozinha em meu castelo: a Dor! Chora o silêncio... nada... ninguém vem... - Florbela Espanca
+ Ser poeta Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... É condensar o mundo num só grito! E é amar-te, assim, perdidamente... É seres alma, e sangue, e vida em mim E dizê-lo cantando a toda a gente! - Florbela Espanca
+ Se alguém disser que pode amar uma pessoa a vida inteira, é porque mente! - Florbela Espanca
+ Na vida nada tenho e nada sou; Eu ando a mendigar pelas estradas... No silêncio das noites estreladas Caminho, sem saber para onde vou! Tinha o manto do sol...quem mo roubou?! Quem pisou minhas rosas desfolhadas?! Quem foi que sobre as ondas revoltadas A minha taça de ouro espedaçou? Agora vou andando e mendigando, Sem que um olhar dos mundos infinitos Veja passar o verme, rastejando... Ah! quem me dera ser como os chacais Uivando os brados, rouquejando os gritos Na solidão dos ermos matagais!... - Florbela Espanca
+ Mentiras Ai quem me dera uma feliz mentira que fosse uma verdade para mim! J. DANTAS Tu julgas que eu não sei que tu me mentes Quando o teu doce olhar pousa no meu? Pois julgas que eu não sei o que tu sentes? Qual a imagem que alberga o peito meu? Ai, se o sei, meu amor! Em bem distingo O bom sonho da feroz realidade... Não palpita d´amor, um coração Que anda vogando em ondas de saudade! Embora mintas bem, não te acredito; Perpassa nos teus olhos desleais O gelo do teu peito de granito... Mas finjo-me enganada, meu encanto, Que um engano feliz vale bem mais Que um desengano que nos custa tanto! Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas" - Florbela Espanca
+ Mais Alto Mais alto, sim! mais alto, mais além Do sonho, onde morar a dor da vida, Até sair de mim! Ser a Perdida, A que se não encontra! Aquela a quem O mundo não conhece por Alguém! Ser orgulho, ser águia na subida, Até chegar a ser, entontecida, Aquela que sonhou o meu desdém! Mais alto, sim! Mais alto! A Intangível Turris Ebúrnea erguida nos espaços, A rutilante luz dum impossível! Mais alto, sim! Mais alto! Onde couber O mal da vida dentro dos meus braços, Dos meus divinos braços de Mulher! - Florbela Espanca
+ Leste os meus versos? Leste? E adivinhaste O encanto supremo que os ditou? Acaso, quando os leste, imaginaste Que era o teu esse olhar que os inspirou? Adivinhaste? Eu não posso acreditar Que adivinhasses, vês? E até, sorrindo. Tu disseste para ti: “Por um olhar Somente, embora fosse assim tão lindo, Ficar amando um homem!… Que loucura!” - Pois foi o teu olhar; a noite escura, - (Eu só a ti digo, e muito a medo…) Que inspirou esses versos! Teu olhar Que eu trago dentro d’alma a soluçar! …………………………………………………. Aí não descubras nunca o meu segredo! - Florbela Espanca
+ FLi um dia, não sei onde,/ Que em todos os namorados/ Uns amam muito, e os outros/ Contentam-se em ser amados. - Florbela Espanca
+ Eu ... eu sou a que no mundo anda perdida, eu sou a que na vida nao tem norte, sou a irmã do sonho, e desta sorte sou a crucificada ... a dolorida ... Sombra de névoa tênue e esvaecida, e que o destino amargo , triste e forte, impele brutalmente para a morte ! alma de luto sempre incompreendida !... sou aquela que passa e ninguém vê ... sou a que chamam de triste sem o ser ... sou a que chora sem saber por quê ... sou talvez a visão que alguém sonhou, alguém que veio ao mundo pra me ver, e que nunca na vida me encontrou ! - Florbela Espanca
+ E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder... pra me encontrar... - Florbela Espanca
+ DIZERES ÍNTIMOS É tão triste morrer na minha idade! E vou ver os meus olhos, penitentes Vestidinhos de roxo, como crentes Do soturno convento da Saudade! E logo vou olhar (com que ansiedade! ... ) As minhas mãos esguias, languescentes, De brancos dedos, uns bebés doentes Que hão-de morrer em plena mocidade! E ser-se novo é ter-se o Paraíso, É ter-se a estrada larga, ao sol, florida, Aonde tudo é luz e graça e riso! E os meus vinte e três anos... (Sou tão nova! ) Dizem baixinho a rir: “Que linda a vida! ... ” Responde a minha Dor: “Que linda a cova! ... ” - Florbela Espanca
+ Desejos vãos Eu queria ser o Mar de altivo porte Que ri e canta, a vastidão imensa! Eu queria ser a Pedra que não pensa, A pedra do caminho, rude e forte! Eu queria ser o sol, a luz intensa O bem do que é humilde e não tem sorte! Eu queria ser a árvore tosca e densa Que ri do mundo vão é ate da morte! Mas o mar também chora de tristeza... As árvores também, como quem reza, Abrem, aos céus, os braços, como um crente! E o sol altivo e forte, ao fim de um dia, Tem lágrimas de sangue na agonia! E as pedras... essas... pisá-as toda a gente!... Florbela Espanca - Fanatismo Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida Meus olhos andam cegos de te ver! Não es sequer razão do meu viver, Pois que tu es já toda a minha vida! Não vejo nada assim enlouquecida... Passo no mundo , meu Amor, a ler No misterioso livro do teu ser A mesma história tantas vezes lida! "Tudo no mundo é frágil, tudo passa..." Quando me dizem isto, toda a graça Duma boca divina fala em mim! E, olhos postos em ti, digo de rastros: "Ah! Podem voar mundos, morrer astros, Que tu es como Deus: Princípio e Fim!..." - Florbela Espanca
+ Anseios Meu doido coração aonde vais, No teu imenso anseio de liberdade? Toma cautela com a realidade; Meu pobre coração olha cais! Deixa-te estar quietinho! Não amais A doce quietação da soledade? Tuas lindas quimeras irreais Não valem o prazer duma saudade! Tu chamas ao meu seio, negra prisão!... Ai, vê lá bem, ó doido coração, Não te deslumbre o brilho do luar! Não estendas tuas asas para o longe... Deixa-te estar quietinho, triste monge, Na paz da tua cela, a soluçar! - Florbela Espanca
+ A voz da Tília Diz-me a tília a cantar: “Eu sou sincera, Eu sou isto que vês: o sonho, a graça; Deu ao meu corpo, o vento, quando passa, Este ar escutultural de bayadera… E de manhã o sol é uma cratera, Uma serpente de oiro que me enlaça… Trago nas mãos as mãos da Primavera… E é para mim que em noites de desgraça Toca o vento Mozart, triste e solene, E à minha alma vibrante, posta a nu, Diz a chuva sonetos de Verlaine…” E, ao ver-me triste, a tília murmurou; “Já fui um dia poeta como tu… Ainda hás-de ser tília como eu sou…” - Florbela Espanca
+ A Vida e a Morte O que é a vida e a morte Aquela infernal inimiga A vida é o sorriso E a morte da vida a guarida. A morte tem os desgostos A vida tem os felizes A cova tem as tristezas A vida tem as raízes A vida e a morte são O sorriso lisonjeiro E o amor tem o navio E o navio o marinheiro - Florbela Espanca
+ Sou, como tu, um riso desgraçado! Não ser poeta assim como tu és Para gritar num verso a minha Dor!... - Florbela Espanca
+ Sonhos que logo são realidades, Que nos deixam a alma como morta! - Florbela Espanca
+ Sonho que sou alguém cá neste mundo... Aquela de saber vasto e profundo. - Florbela Espanca
+ Simples Fatos É tão difícil calar quando se tem que calar, e falar quando se tem que falar. Abrir e soltar; Falar e pensar. Cantar e sonhar, Parar e tocar. Por pra fora sentimentos contidos Expressar momentos vividos, Cogitar idéias, Trocar matérias, Reviver momentos profundos Impedir ou pedir pra que parem o mundo. Retomar o rumo, Reerguer os muros, Gritar alto, Correr, pular Respirar fundo Voar, andar. Ver a vida passar Esquecer, relembrar. Não olhar para trás, Jamais. Aprender com os erros Sempre. Reclamar, rejeitar Renegar, ressurgir. Esses relatos São simples fatos, Fatos contados, fatos vividos, Fatos mudados, fatos lembrados Isso nos mostra que a vida é feita de Simples fatos. Porém, não tão simples quanto aparentam ser. - Florbela Espanca