Frases de Florbela Espanca

+ O meu desejo Vejo-te só a ti no azul dos céus, Olhando a nuvem de oiro que flutua. Ó minha perfeição que criou Deus E que num dia lindo me fez sua! Nos vultos que diviso pela rua, Que cruzam os seus passos com os meus... Minha boca tem fome só da tua! Meus olhos têm sede só dos teus! Sombra da tua sombra, doce e calma, Sou a grande quimera da tua alma E, sem viver, ando a viver contigo... Deixa-me andar assim no teu caminho Por toda a vida, Amor, devagarinho, Até a morte me levar consigo... - Florbela Espanca

+ “Apesar de tudo, a loucura não é assim uma coisa tão feia como muita gente julga. Há tantas loucas felizes!” - Florbela Espanca

+ A UM MORIBUNDO Não tenhas medo, não! Tranqüilamente, Como adormece a noite pelo Outono, Fecha os teus olhos, simples, docemente, Como, à tarde, uma pomba que tem sono... A cabeça reclina levemente E os braços deixa-os ir ao abandono, Como tombam, arfando, ao sol poente, As asas de uma pomba que tem sono... O que há depois? Depois?... O azul dos céus? Um outro mundo? O eterno nada? Deus? Um abismo? Um castigo? Uma guarida? Que importa? Que te importa, ó moribundo? - Seja o que for, será melhor que o mundo! Tudo será melhor do que esta vida!... - Florbela Espanca

+ Sonho que sou Alguém cá neste mundo... Aquela de saber vasto e profundo, Aos pés de quem a Terra anda curvada! - Florbela Espanca

+ "Afinal, quem é que tem a pretensão de não ser louca?... Loucos somos todos, e livre-me Deus dos verdadeiros ajuizados, que esses são piores que o diabo!" - Florbela Espanca

+ Sou aquele que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber porquê... Sou talvez a visão que alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver, E que nunca na vida me encontrou! - Florbela Espanca

+ TEUS OLHOS Olhos do meu Amor! Infantes loiros Que trazem os meus presos, endoidados! Neles deixei, um dia, os meus tesouros: Meus anéis, minhas rendas, meus brocados. Neles ficaram meus palácios moiros, Meus carros de combate, destroçados, Os meus diamantes, todos os meus oiros Que trouxe d'Além-Mundos ignorados! Olhos do meu Amor! Fontes... cisternas... Enigmáticas campas medievais... Jardins de Espanha... catedrais eternas... Berço vindo do Céu à minha porta... Ó meu leito de núpcias irreais!... Meu sumptuoso túmulo de morta!... - Florbela Espanca

+ ...há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que nem eu mesma compreendo. Pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada. Uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade; sei lá de quê! - Florbela Espanca

+ "Gosto das belas coisas claras e simples, das grandes ternuras perfeitas, das doces compreensões silenciosas, gosto de tudo, enfim, onde encontro um pouco de Beleza e de verdade ...Porque há ainda no mundo, graças a Deus, almas-astros onde eu gosto de me refletir, almas de sinceridade e de pureza sobre as quais adoro debruçar a minha..." Florbela Espanca - Florbela Espanca

+ Do meu passado vejo o que não pude ter Lamento por este pesar O amor fez de mim um monstro Fez de mim apenas uma lembrança vaga Uma lembrança ruim de um amor destruído Destino maldito! Não se pode contê-lo, mas se pode vivê-lo. - Florbela Espanca

+ Vulcões Tudo é frio e gelado. O gume dum punhal Não tem a lividez sinistra da montanha Quando a noite a inunda dum manto sem igual De neve branca e fria onde o luar se banha. No entanto que fogo, que lavas, a montanha Oculta no seu seio de lividez fatal! Tudo é quente lá dentro… e que paixão tamanha A fria neve envolve em seu vestido ideal! No gelo da indiferença ocultam-se as paixões Como no gelo frio do cume da montanha Se oculta a lava quente do seio dos vulcões… Assim quando eu te falo alegre, friamente, Sem um tremor de voz, mal sabes tu que estranha Paixão palpita e ruge em mim doida e fremente! - Florbela Espanca

+ O Espectro Anda um triste fantasma atrás de mim Segue-me os passos sempre! Aonde eu for, Lá vai comigo…E é sempre, sempre assim Como um fiel cão seguindo o seu Senhor! Tem o verde dos sonhos transcendentes, A ternura bem roxa das verbenas, A ironia purpúrea dos poentes, E tem também a cor das minhas penas! Ri sempre quando eu choro, e se me deito, Lá vai ele deitar-se ao pé do leito, Embora eu lhe suplique:Faz-me a graça De me deixares uma hora ser feliz! Deixa-me em paz!…” Mas ele, sempre diz: “Não te posso deixar, sou a Desgraça!” - Florbela Espanca

+ Infinita é a saudade que teima me torturar! - Florbela Espanca

+ Frémito do meu corpo... Frémito do meu corpo a procurar-te, Febre das minhas mãos na tua pele Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel, Doido anseio dos meus braços a abraçar-te, Olhos buscando os teus por toda a parte, Sede de beijos, amargor de fel, Estonteante fome, áspera e cruel, Que nada existe que a mitigue e a farte! E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma Junto da minha, uma lagoa calma, A dizer-me, a cantar que me não amas... E o meu coração que tu não sentes, Vai boiando ao acaso das correntes, Esquife negro sobre um mar de chamas... - Florbela Espanca

+ As quadras dele (II) Digo pra mim quando oiço O teu lindo riso franco, "São seus lábios espalhabdo, As folhas dun lírio branco..." Perguntei às violetas Se não tinham coração, Se o tinham, porque 'scondidas Na folhagem sempre estão?! Responderam-me a chorar, Com voz de quem muito amou: Sabeis que dor os desfez, Ou que traição os gelou? Meu coração, inundado Pela luz do teu olhar, Dorme quieto como um lírio, Banhado pelo luar. Quando o ouvido vier Teu amor amortalhar, Quero a minha triste vida, Na mesma cova, enterrar. Eu sei que me tens amor, Bem o leio no teu olhar, O amor quando é sentido Não se pode disfarçar. Os olhos são indiscretos; Revelam tudo que sentem, Podem mentir os teus lábios, Os olhos, esses, não mentem. Bendita seja a desgraça, Bendita a fatalidade, Bendito sejam teus olhos Onde anda a minha saudade. Não há amor neste mundo Como o que eu sinto por ti, Que me ofertou a desgraça No momento em que te vi. O teu grande amor por mim, Durou, no teu coração, O espaço duma manhã, Como a rosa da canção. Quando falas, dizem todos: Tem uma voz que é um encanto Só falando, faz perder Todo juízo a um santo. Enquanto eu longe de ti Ando, perdida de zelos, Afogam-se outros olhares Nas ondas dos teus cabelos. Dizem-me que te não queira Que tens, nos olhos, traição. Ai, ensinem-me a maneira De dar leis ao coração! Tanto ódio e tanto amor Na minha alma contenho; Mas o ódio inda é maior Que o doido amor que te tenho. Odeio teu doce sorriso, Odeio teu lindo olhar, E ainda mais a minh'alma Por tanto e tanto te amar! Quando o teu olhar infindo Poisa no meu, quase a medo, Temo que alguém advinhe O nosso casto segredo. Logo minh'alma descansa; Por saber que nunca alguém Pode imaginar o fogo Que o teu frio olhar contém. Quem na vida tem amores Não pode viver contente, É sempre triste o olhar Daquele que muito sente. Adivinhar o mistério Da tua alma quem me dera! Tens nos olhos o outono, Nos lábios a primavera... Enquanto teus lábios cantam Canções feitas de luar, Soluça cheio de mágua O teu misterioso olhar... Com tanta contradição, O que é que a tua alma sente? És alegre como a aurora, E triste como um poente... Desabafa no meu peito Essa amargura tão louca, Que é tortura nos teus olhos E riso na tua boca! Os teus dente pequeninos Na tua boca mimosa, São pedacitos de neve Dentro de um cálix de rosa. O lindo azul do céu E a amargura infinita Casaram. Deles nasceu A tua boca bendita! - Florbela Espanca

+ Tarde de mais... Quando chegaste enfim, para te ver Abriu-se a noite em mágico luar; E para o som de teus passos conhecer Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar... Chegaste, enfim! Milagre de endoidar! Viu-se nessa hora o que não pode ser: Em plena noite, a noite iluminar E as pedras do caminho florescer! Beijando a areia de oiro dos desertos Procurara-te em vão! Braços abertos, Pés nus, olhos a rir, a boca em flor! E há cem anos que eu era nova e linda!... E a minha boca morta grita ainda: Por que chegaste tarde, ó meu Amor?!. - Florbela Espanca

+ Silêncio No fadário que é meu, neste penar, Noite alta, noite escura, noite morta, Sou o vento que geme e quer entrar, Sou o vento que vai bater-te à porta... Vivo longe de ti, mas que me importa? Se já não vivo em mim! Ando a vaguear Em roda à tua casa, a procurar Beber-te a voz, apaixonada, absorta! Estou junto de ti, e não me vês... Quantas vezes no livro que tu lês Meu olhar se pousou e se perdeu! Trago-te como um filho nos meus braços! E na tua casa... Escuta!... Uns leves passos.. Silêncio, meu Amor!... Abre!... Sou eu!... - Florbela Espanca

+ Desejos vãos Eu queria ser o Mar de altivo porte Que ri e canta, a vastidão imensa! Eu queria ser a Pedra que não pensa, A pedra do caminho, rude e forte! Eu queria ser o Sol, a luz intensa, O bem do que é humilde e não tem sorte! Eu queria ser a árvore tosca e densa Que ri do mundo vão e até da morte! Mas o Mar também chora de tristeza… As árvores também, como quem reza, Abrem, aos Céus, os braços, como um crente! E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia, Tem lágrimas de sangue na agonia! E as Pedras… essas… pisa-as toda a gente!… - Florbela Espanca

+ É noite pura e linda. Abro a minha janela E olho suspirando o infinito céu Fico a sonhar de leve em muita coisa bela Fico a pensar em ti e neste amor que é teu! D’olhos fechados sonho. A noite é uma elegia Cantando brandamente um sonho todo d’alma E enquanto a lua branca o linho bom desfia Eu sinto almas passar na noite linda e calma. Lá vem a tua agora. Numa carreira louca Tão perto que passou, tão perto à minha boca Nessa carreira doida, estranha e caprichosa. Que a minh’alma cativa estremece, esvoaça Para seguir a tua, como a folha de rosa Segue a brisa que a beija… e a tua alma passa! - Florbela Espanca

+ Diz-me, por que não nasci igual aos outros, sem dúvidas, sem desejos de impossível? - Florbela Espanca

+ Desalento Às vezes oiço rir, é ’ma agonia Queima-me a alma como estranha brasa Tenho ódio à luz e tenho raiva ao dia Que me põe n’alma o fogo que m’abrasa! Tenho sede d’amar a humanidade… Eu ando embriagada… entontecida… O roxo de maus lábios é saudade Duns beijos que me deram n’outra vida! Ei não gosto do Sol, eu tenho medo Que me vejam nos olhos o segredo Que só saber chorar, de ser assim… Gosto da noite, imensa, triste, preta, Como esta estranha e doida borboleta Que eu sinto sempre a voltejar em mim! - Florbela Espanca

+ " Amar não é ser egoísta, é tantas, tantas vezes o sacrifício de nós próprios! A dedicação de todos os instantes, um interesse sem cálculo, uns cuidados que em pequeninas coisas se revelam e o pensamento constante de fazer a felicidade de quem se ama. " - Florbela Espanca

+ VERSOS Versos! Versos! Sei lá o que são versos… Pedaços de sorriso, branca espuma, Gargalhadas de luz. cantos dispersos, Ou pétalas que caem uma a uma. Versos!… Sei lá! Um verso é teu olhar, Um verso é teu sorriso e os de Dante Eram o seu amor a soluçar Aos pés da sua estremecida amante! Meus versos!… Sei eu lá também que são… Sei lá! Sei lá!… Meu pobre coração Partido em mil pedaços são talvez… Versos! Versos! Sei lá o que são versos.. Meus soluços de dor que andam dispersos Por este grande amor em que não crês!… - Florbela Espanca

+ Escreve-me! Ainda que seja só Uma palavra, uma palavra apenas, Suave como o teu nome e casta Como um perfume casto d’açucenas! - Florbela Espanca

+ Errante Meu coração da cor dos rubros vinhos Rasga a mortalha do meu peito brando E vai fugindo, e tonto vai andando A perder-se nas brumas dos caminhos. Meu coração o místico profeta, O paladino audaz da desventura, Que sonha ser um santo e um poeta, Vai procurar o Paço da Ventura... Meu coração não chega lá decerto... Não conhece o caminho nem o trilho, Nem há memória desse sítio incerto... Eu tecerei uns sonhos irreais... Como essa mãe que viu partir o filho, Como esse filho que não voltou mais! - Florbela Espanca