Frases de Luís De Camões

+ Vossos olhos, Senhora, que competem Com o Sol em beleza e claridade, Enchem os meus de tal suavidade, Que em lágrimas de vê-los se derretem. Meus sentidos prostrados se submetem Assim cegos a tanta majestade; E da triste prisão, da escuridade, Cheios de medo, por fugir remetem. Porém se então me vedes por acerto, Esse áspero desprezo com que olhais Me torna a animar a alma enfraquecida. Oh gentil cura! Oh estranho desconcerto! Que dareis c' um favor que vós não dais, Quando com um desprezo me dais vida? - Luís De Camões

+ vos confesso que desejo de cair convosco em cama. - Luís De Camões

+ Verdes são os campos Verdes são os campos, De cor de limão: Assim são os olhos Do meu coração. Campo, que te estendes Com verdura bela; Ovelhas, que nela Vosso pasto tendes, De ervas vos mantendes Que traz o Verão, E eu das lembranças Do meu coração. Gados que pasceis Com contentamento, Vosso mantimento Não no entendereis; Isso que comeis Não são ervas, não: São graças dos olhos Do meu coração. - Luís De Camões

+ Verdadeiro valor não dão à gente; Essas honras vãs, esse ouro puro melhor é merecê-los sem os ter que possuí-los sem os merecer. - Luís De Camões

+ Vencido está de amor Vencido está de amor meu pensamento o mais que pode ser vencida a vida, sujeita a vos servir e instituída, oferecendo tudo a vosso intento. Contente deste bem, louva o momento ou hora em que se viu tão bem perdida; mil vezes desejando a tal ferida outra vez renovar seu perdimento. Com essa pretensão está segura a causa que me guia nesta empresa, tão estranha, tão doce, honrosa e alta. Jurando não seguir outra ventura, votando só por vós rara firmeza, ou ser no vosso amor achado em falta. - Luís De Camões

+ Um mover de olhos, brando e piedoso, Sem ver de quê; um riso brando e honesto, Quase forçado; um doce e humilde gesto, De qualquer alegria duvidoso; Um despejo quieto e vergonhoso; Um repouso gravíssimo e modesto; Uma pura bondade, manifesto Indício da alma, limpo e gracioso; Um encolhido ousar; uma brandura; Um medo sem ter culpa; um ar sereno; Um longo e obediente sofrimento: Esta foi a celeste formosura Da minha Circe, e o mágico veneno Que pôde transformar meu pensamento. - Luís De Camões

+ Um baixo amor os fortes enfraquece. - Luís De Camões

+ Tu es a cativa que me tens cativo - Luís De Camões

+ Transforma-se o amador na cousa amada, Por virtude do muito imaginar; Não tenho logo mais que desejar, Pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, Que mais deseja o corpo de alcançar? Em si somente pode descansar, Pois consigo tal alma está ligada. Mas esta linda e pura semideia, Que, como o acidente em seu sujeito, Assim como a alma minha se conforma, Está no pensamento como ideia; [E] o vivo e puro amor de que sou feito, Como matéria simples busca a forma. - Luís De Camões

+ Transforma-se o amador na cousa amada, Por virtude do muito imaginar; - Luís De Camões

+ Tomou-me vossa vista soberana Aonde tinha as armas mais à mão, Por mostrar que quem busca defensão Contra esses belos olhos, que se engana. Por ficar da vitória mais ufana, Deixou-me armar primeiro da razão; Cuidei de me salvar, mas foi em vão, Que contra o Céu não vale defensa humana. Mas porém, se vos tinha prometido O vosso alto destino esta vitória, Ser-vos tudo bem pouco está sabido. Que posto que estivesse apercebido, Não levais de vencer-me grande glória; Maior a levo eu de ser vencido. - Luís De Camões

+ Tanto de meu estado me acho incerto, que em vivo ardor tremendo estou de frio; sem causa, juntamente choro e rio, o mundo todo abarco e nada aperto. É tudo quanto sinto, um desconcerto; da alma um fogo me sai, da vista um rio; agora espero, agora desconfio, agora desvario, agora acerto. Estando em terra, chego ao Céu voando, num'hora acho mil anos, e é de jeito que em mil anos não posso achar um' hora. Se me pergunta alguém porque assim ando, respondo que não sei; porém suspeito que só porque vos vi, minha Senhora. - Luís De Camões

+ Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; mas não servia o pai, servia a ela, e a ela só por prémio pretendia. - Luís De Camões

+ Se tanta pena tenho merecida Em pago de sofrer tantas durezas, Provai, Senhora, em mim vossas cruezas, Que aqui tendes uma alma oferecida. Nela experimentai, se sois servida, Desprezos, desfavores e asperezas, Que mores sofrimentos e firmezas Sustentarei na guerra desta vida. Mas contra vosso olhos quais serão? Forçado é que tudo se lhe renda, Mas porei por escudo o coração. Porque, em tão dura e áspera contenda, É bem que, pois não acho defensão, Com me meter nas lanças me defenda. - Luís De Camões

+ Se noutro corpo tua alma se traspassa, não, como quis Pitágoras, na morte mas como manda Amor na vida escassa; - Luís De Camões

+ Se no que tenho dito vos ofendo, Não é a intenção minha de ofender-vos, Qu'inda que não pretenda merecer-vos, Não vos desmerecer sempre pretendo. - Luís De Camões

+ Raquel Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; Mas não servia ao pai, servia a ela, E a ela só por prémio pretendia. Os dias, na esperança de um só dia, Passava, contentando-se com vê-la; Porém o pai, usando de cautela, Em lugar de Raquel lhe dava Lia. Vendo o triste pastor que com enganos Lhe fora assi negada a sua pastora, Como se a não tivera merecida; Começa de servir outros sete anos, Dizendo: – Mais servira, se não fora Para tão longo amor tão curta a vida! - Luís De Camões

+ Quem vê, Senhora, claro e manifesto O lindo ser de vossos olhos belos, Se não perder a vista só em vê-los, Já não paga o que deve a vosso gesto. Este me parecia preço honesto; Mas eu, por de vantagem merecê-los, Dei mais a vida e alma por querê-los, Donde já não me fica mais de resto. Assim que a vida e alma e esperança, E tudo quanto tenho, tudo é vosso, E o proveito disso eu só o levo. Porque é tamanha bem-aventurança O dar-vos quanto tenho e quanto posso, Que, quanto mais vos pago, mais vos devo. - Luís De Camões

+ Quem pode livre ser, gentil Senhora, Vendo-vos com juízo sossegado, Se o Menino que de olhos é privado Nas meninas de vossos olhos mora? Ali manda, ali reina, ali namora, Ali vive das gentes venerado; Que o vivo lume e o rosto delicado Imagens são nas quais o Amor se adora. Quem vê que em branca neve nascem rosas Que fios crespos de ouro vão cercando, Se por entre esta luz a vista passa, Raios de ouro verá, que as duvidosas Almas estão no peito trespassando Assim como um cristal o Sol trespassa. - Luís De Camões

+ Quem diz que Amor é falso ou enganoso, ligeiro, ingrato, vão, desconhecido, sem falta lhe terá bem merecido que lhe seja cruel ou rigoroso. Amor é brando, é doce e é piedoso. Quem o contrário diz não seja crido; seja por cego e apaixonado tido, e aos homens, e inda aos deuses, odioso. Se males faz Amor, em mi se vêem; em mim mostrando todo o seu rigor, ao mundo quis mostrar quanto podia. Mas todas suas iras são de Amor; todos os seus males são um bem, que eu por todo outro bem não trocaria. - Luís De Camões

+ Que um fraco Rei faz fraca a forte gente. - Luís De Camões

+ Que poderei do mundo já querer, que, naquilo em que pus tamanho amor, não vi senão desgosto e desamor, e morte, enfim; que mais não pude ver! Pois vida me não farto de viver, pois já sei que não mata grande dor, se cousa há que mágoa dê maior, eu a verei; que tudo posso ver, A morte, a meu pesar, me assegurou de quanto mal me vinha; já perdi o que perder o medo me ensinou. Na vida desamor somente vi, na morte a grande dor que me ficou; parece que para isto só nasci. - Luís De Camões

+ Que me quereis, perpétuas saudades? Com que esperança inda me enganais? Que o tempo que se vai não torna mais, E se torna, não tornam as idades. Razão é já, ó anos, que vos vades, Porque estes tão ligeiros que passais, Nem todos pera um gosto são iguais, Nem sempre são conformes as vontades. Aquilo a que já quis é tão mudado, Que quase é outra cousa, porque os dias Têm o primeiro gosto já danado. Esperanças de novas alegrias Não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado, Que do contentamento são espias. - Luís De Camões

+ (...) Que dias há que na alma me tem posto Um não sei quê, que nasce não sei onde, Vem não sei como, e dói não sei porquê. - Luís De Camões

+ Que Amor Fez sem Remédio, o Tempo, os Fados? Depois de tantos dias mal gastados, Depois de tantas noites mal dormidas, Depois de tantas lágrimas vertidas, Tantos suspiros vãos vãmente dados, Como não sois vós já desenganados, Desejos, que de cousas esquecidas Quereis remediar mortais feridas, Que amor fez sem remédio, o tempo, os Fados? Se não tivéreis já longa exp'riência Das sem-razões de Amor a quem servistes, Fraqueza fora em vós a resistência. Mas pois por vosso mal seus males vistes, Que o tempo não curou, nem larga ausência, Qual bem dele esperais, desejos tristes? - Luís De Camões