Frases de Lya Luft
+ (...) Ali posso ficar mais tempo quieta, tentando compreender o que é um mar. Escutando, contemplando ou mergulhando nele, ou observando-o do alto dos morros quando se revolve e arfa, aprendendo que o mar não é apenas movimento e rumor. O mar, como tudo o mais - também as pessoas -, é o seu próprio escondido que à noite chega à superfície, procurando não se sabe o quê, talvez buscando apenas quem o escute e entenda. Mar de dentro. - Lya Luft
+ Saudável seria a família a um tempo protetora e estimulante, que nesse difícil equilíbrio deixasse o filho criar asas e, na hora certa, sair do ninho – continuando atenta sem ser controladora: uma asa quebrada, uma pata ferida, um desastre poderiam ser consertados até mesmo numa breve visita. - Lya Luft
+ Queremos afecto, mas a família vai ficando complicada de mais: como filhos, queremos fugir dos pais, que nos irritam e parecem nada ter a ver com a nossa realidade; como pais, intimidam-nos os filhos que não conseguimos entender. As mudanças rápidas nas relações pessoais enchem-nos de desconfiança. Além disso, não sabemos comunicar: confundimos palavra e grito, silêncio e frieza. Funcionamos como solidões em grupo, embalados pelo sonho de uma fusão impossível que aliviasse as nossas inquietações e nos desse significado. O olho do outro está grudado em mim e sinto-me permanentemente avaliado, nem sempre aprovado: se eu não for como sugerem ou exigem o meu grupo, a família, a sociedade,se não atender às propagandas, aos modelos e ideais sugeridos, serei considerado diferente. Como adolescentes queremos ser iguais à turma, como adultos queremos ser aceites pela tribo: a pressão social é um facto inegável. Não controlada, ela anular-nos-á. - Lya Luft
+ Precisamos de pai e de mãe até quando adultos. Sua presença e apoio podem parecer menos essenciais com o correr do tempo, mas com eles, se relação for boa, somos mais completos – e para isso não há idade. Morta minha velha mãe, quando eu tinha mais de sessenta anos, dei-me conta que não tinha mais a quem chamar de “mãe” e foi uma dor estranha. Algo tinha mudado na minha condição. Eu nunca mais seria a mesma. - Lya Luft
+ Não é preciso ter uma alma juvenil na maturidade ou na velhice, mas uma faísca de alegria, uma brecha para imaginação, vontade de dançar sem música. Isso vale mais do que todos os recursos da estética, da medicina, da psicologia, das mais belas viagens, e mesmo dos mais tocantes afetos. - Lya Luft
+ Falo daquela pessoa para quem posso telefonar não importa onde ela esteja, nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: "Estou mal, preciso de você". E ela estará comigo, pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for. - Lya Luft
+ Cada indivíduo, ainda que não queira e nem saiba, participa do processo dinâmico que é a vida: não somos inteiramente fruto da genética física e psíquica, na qual acredito, nem do meio onde nascemos e crescemos. Somos também resultado de nossos trabalhos e frustrações, e também das alegrias. Portanto, por algumas coisas somos responsáveis. - Lya Luft
+ A vida é uma casa que construímos com as próprias mãos, criando calos, esfolando os joelhos, respirando poeira. Levantamos alicerces, paredes, aberturas e telhado. Podem ser janelas amplas para enxergar o mundo, ou estreitas para nos isolarmos dele. Pode haver jardins, pátio, por pequenos que sejam, com flores, com balanços, para a alegria; ou só com lajes frias, para melancolia. Vendavais e terremotos abalam qualquer estrutura, mas ainda estaremos nela, e ainda poderemos consertar o que se desarrumou. - Lya Luft