Frases de Manoel De Barros
+ O sentido normal das palavras não faz bem ao poema. Há que se dar um gosto incasto aos termos. Haver com eles um relacionamento voluptuoso. Talvez corrompê-los até a quimera. Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los. Não existir mais reis nem regências. Uma certa liberdade com a luxúria convém. - Manoel De Barros
+ O mundo meu é pequeno, Senhor. Tem um rio e um pouco de árvores. Nossa casa foi feita de costas para o rio. Formigas recortam roseiras da avó. Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas. Seu olho exagera o azul. Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves. Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os besouros pensam que estão no incêndio. Quando o rio está começando um peixe, Ele me coisa Ele me rã Ele me árvore. De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos. - Manoel De Barros
+ Que a palavra parede não seja símbolo de obstáculos à liberdade nem de desejos reprimidos nem de proibições na infância etc. (essas coisas que acham os reveladores de arcanos mentais) Não. Parede que me seduz é de tijolo, adobe preposto ao abdômen de uma casa. Eu tenho um gosto rasteiro de ir por reentrâncias baixar em rachaduras de paredes por frinchas, por gretas - com lascívia de hera. Sobre o tijolo ser um lábio cego. Tal um verme que iluminasse. - Manoel De Barros
+ Agora só espero a despalavra: a palavra nascida para o canto-desde os pássaros. A palavra sem pronúncia, ágrafa. Quero o som que ainda não deu liga. Quero o som gotejante das violas de cocho. A palavra que tenha um aroma ainda cego. Até antes do murmúrio. Que fosse nem um risco de voz. Que só mostrasse a cintilância dos escuros. A palavra incapaz de ocupar o lugar de uma imagem. O antesmente verbal: a despalavra mesmo. - Manoel De Barros
+ “ VENTO Se a gente jogar uma pedra no vento Ele nem olha para trás”. (trecho do livro em PDF: Meu quintal é maior do que o mundo [recurso eletrônico]) - Manoel De Barros
+ No caminho, as crianças me enriqueceram mais do que Sócrates. Pois minha imaginação não tem estrada. E eu não gosto mesmo de estrada. Gosto de desvio e de desver. (em carta a José Castello, publicado no Jornal Valor Econômico, em 18 mar.2012.-website) - Manoel De Barros
+ A tarefa mais lídima da poesia é a de equivocar o sentido das palavras - Manoel De Barros
+ “Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma e que você não pode vender no mercado como, por exemplo, o coração verde dos pássaros, serve para poesia”. (Trecho extraído de “Matéria de Poesia” do livro em PDF: Meu quintal é maior que o mundo) - Manoel De Barros
+ Os Dois Eu sou dois seres. O primeiro fruto do amor de João e Alice. O segundo é letral: É fruto de uma natureza que pensa por imagens, Como diria Paul Valèry. O primeiro está aqui de unha, roupa, chapéu e vaidade. O segundo está aqui em letras, sílabas, vaidades e frases. E aceitamos que você empregue o seu amor em nós. - Manoel De Barros
+ “Gorjeio é mais bonito do que canto porque nele se inclui a sedução. É quando a pássara está namorada que ele gorjeia.” Manoel de Barros - Manoel De Barros
+ Fui criado no mato e aprendi a gostar das coisinhas do chão. - Manoel De Barros
+ Eu não caminho para o fim, eu caminho para as origens. - Manoel De Barros
+ É por demais de grande a natureza de Deus. Eu queria fazer para mim uma naturezinha particular. Tão pequena que coubesse na ponta do meu lápis. (Livro "Meu quintal é maior do que o mundo") - Manoel De Barros
+ Poetas e tontos se compõem com palavras. - Manoel De Barros
+ Eu tenho a ânsia de não fazer lugar comum. - Manoel De Barros
+ Um besouro se agita no sangue do poente. Estou irresponsável de meu rumo. Me parece que a hora está mais cega. Um fim de mar colore os horizontes. Cheiroso som de asas vem do sul. Eis varado de abril um martim-pescador! (Sou pessoa aprovada para nadas?) Quero apalpar meu ego até gozar em mim. Ó açucenas arregaçadas. Estou só e socó. - Manoel De Barros
+ O menino ia no mato e a onça comeu ele. Depois o caminhão passou por dentro do corpo do menino e ele foi contar para a mãe. A mãe disse: mas a onça comeu você, como é que o caminhão passou por dentro do seu corpo? É que o caminhão só passou renteando o meu corpo e eu desviei depressa. Olha mãe, eu só queria inventar uma poesia. Eu não preciso de fazer razão. - Manoel De Barros
+ Agora eu penso uma garça branca de brejo ser mais linda que Uma nave espacial. Peço desculpa por cometer essa verdade. ( em "Memórias Inventadas para crianças". São Paulo: Planeta do Brasil, 2006.) - Manoel De Barros
+ Lugar sem comportamento é o coração. Ando em vias de ser compartilhado. Ajeito as nuvens no olho. A luz das horas me desproporciona. Sou qualquer coisa judiada de ventos. Meu fanal é um poente com andorinhas. Desenvolvo meu ser até encostar na pedra. Repousa uma garoa sobre a noite. Aceito no meu fado o escurecer. No fim da treva uma coruja entrava. - Manoel De Barros
+ “Penso que têm nostalgia de mar estas garças pantaneiras. São viúvas de Xaraés? Alguma coisa em azul e profundidade lhes foi arrancada. Há uma sombra de dor em seus voos. Assim, quando vão de regresso aos seus ninhos, enchem de entardecer os campos e os homens”> (trecho do livro em PDF: Meu quintal é maior do que o mundo [recurso eletrônico]) - Manoel De Barros
+ “Os patos prolongam meu olhar... Quando passam levando a tarde para longe eu acompanho”... (Extraído do "Livro Sobre Nada" (Arte de Infantilizar Formigas), Editora Record - Rio de Janeiro, 1996, pág – projeto releituras) - Manoel De Barros
+ “No descomeço era o verbo. Só depois é que veio o delírio do verbo. O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos”. (trecho extraído do livro em PDF: Meu quintal é maior que o mundo) - Manoel De Barros
+ Sei que fazer o inconexo aclara as loucuras. Sou formado em desencontros. A sensatez me absurda. Os delírios verbais me terapeutam. - Manoel De Barros
+ "Os bens do poeta: um fazedor de inutensílios, um travador de amanhecer, uma teologia do traste, uma folha de assobiar, um alicate cremoso, uma escória de brilhantes, um parafuso de veludo e um lado primaveril”. ( excerto "XII - Sábia com trevas", no livro "Arranjos para assobio" (1980), em 'Poesia completa: Manoel de Barros'. São Paulo: Editora Leya, 2010.) - Manoel De Barros
+ "Encontrei na Stella a mulher e companheira de todas as horas. Na alegria e na tristeza – como nos prometemos no casório. Conseguimos um amor profundo e sonhado em todos os dias”. ( em entrevista "caminhando para as origens", a Bosco Martins, 2007.) - Manoel De Barros