Frases de Manuel Bandeira

+ Quer livres, quer regulares, abrem sempre os teus cantares como flor de quintanares . - Manuel Bandeira

+ Poética Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com o livro do ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário de cunho vernáculo de um vocábulo Abaixo os puristas Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbados O lirismo difícil e pungente dos bêbados O lirismo dos clows de Shakespeare -Não quero mais saber do lirismo que [não é libertação. - Manuel Bandeira

+ Madrigal tão Engraçadinho Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha vida, inclusive o porquinho-da-índia que me deram quando eu tinha seis anos. - Manuel Bandeira

+ E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada. - Manuel Bandeira

+ Vou me embora pra Passágada, lá sou amigo do rei.Terei a mulher que eu quero, na cama que escolherei! - Manuel Bandeira

+ vou me embora para passagarda - Manuel Bandeira

+ Sempre tristíssimas estas cantigas de carnaval Paixão Ciúme Dor daquilo que não se pode dizer Felizmente existe o álcool na vida e nos três dias de carnaval éter de lança-perfume Quem me dera ser como o rapaz desvairado! O ano passado ele parava diante das mulheres bonitas e gritava pedindo o esguicho de cloretilo: - Na boca! Na boca! Umas davam-lhe as costas com repugnância outras porém faziam-lhe a vontade. Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos viciados Dorinha meu amor... Se ela fosse bastante pura eu iria agora gritar-lhe como o outro: _____________________________________[- Na boca! Na boca! - Manuel Bandeira

+ Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbados O lirismo difícil e pungente dos bêbados O lirismo dos clowns de Shakespeare - Não quero saber de lirismo que não é libertação. - Manuel Bandeira

+ Oração para Aviadores Santa Clara, clareai Estes ares. Dai-nos ventos regulares, de feição. Estes mares, estes ares Clareai. Santa Clara, dai-nos sol. Se baixar a cerração, Alumiai Meus olhos na cerração. Estes montes e horizontes Clareai. Santa Clara, no mau tempo Sustentai Nossas asas. A salvo de árvores, casas, E penedos, nossas asas Governai. Santa Clara, clareai. Afastai Todo risco. Por amor de S. Francisco, Vosso mestre, nosso pai, Santa Clara, todo risco Dissipai. - Manuel Bandeira

+ Nova Poética Vou lançar a teoria do poeta sórdido. Poeta sórdido: Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida. Vai um sujeito. Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa de lama: É a vida. O poema deve ser como a nódoa no brim: Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero. Sei que a poesia é também orvalho. Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfa, as virgens cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade. - Manuel Bandeira

+ Minha Grande Ternura Minha grande ternura Pelos passarinhos mortos; Pelas pequeninas aranhas. Minha grande ternura Pelas mulheres que foram meninas bonitas E ficaram mulheres feias; Pelas mulheres que foram desejáveis E deixaram de o ser. Pelas mulheres que me amaram E que eu não pude amar. Minha grande ternura Pelos poemas que Não consegui realizar. Minha grande ternura Pelas amadas que Envelheceram sem maldade. Minha grande ternura Pelas gotas de orvalho que São o único enfeite de um túmulo. - Manuel Bandeira

+ Minh'alma sofre e sonha e goza. - Manuel Bandeira

+ Meu Quintana, os teus cantares Não são, Quintana, cantares: São, Quintana, quintanares. Quinta-essência de cantares... Insólitos, singulares... Cantares? Não! Quintanares! - Manuel Bandeira

+ Cria, e terás com que exaltar-te No mais nobre e maior prazer. A afeiçoar teu sonho de arte, Sentir-te-ás convalescer - Manuel Bandeira

+ A Virgem Maria O oficial do registro civil, o coletor de impostos, o mordomo da Santa Casa e o administrador do cemitério de S. João Batista Cavaram com enxada Com pás Com as unhas Com os dentes Cavaram uma cova mais funda que o meu suspiro de renúncia Depois me botaram lá dentro E puseram por cima As Tábuas da Lei Mas de lá de dentro do fundo da treva do chão da cova Eu ouvia a vozinha da Virgem Maria Dizer que fazia sol lá fora Dizer i n s i s t e n t e m e n t e Que fazia sol lá fora. - Manuel Bandeira

+ ⁠O pardalzinho nasceu Livre. Quebraram-lhe a asa. Sacha lhe deu uma casa, Água, comida e carinhos. Foram cuidados em vão: A casa era uma prisão, O pardalzinho morreu. O corpo Sacha enterrou No jardim; a alma, essa voou Para o céu dos passarinhos! - Manuel Bandeira

+ ⁠Criou-me, desde eu menino, Para arquiteto meu pai. Foi-se-me um dia a saúde... Fiz-me arquiteto? Não pude! - Manuel Bandeira

+ ⁠Bacanal Quero beber! Cantar asneiras No esto brutal das bebedeiras Que tudo emborca e faz em caco… Evoé Baco! Lá se me parte a alma levada No torvelim da mascarada, A gargalhar em douro assomo… Evoé Momo! Lacem-na toda, multicores, As serpentinas dos amores, Cobras de lívidos venenos… Evoé Vênus! Se perguntarem: Que mais queres, além de versos e mulheres? – Vinhos!… o vinho que é o meu fraco!… Evoé Baco! O alfange rútilo da lua, Por degolar a nuca nua Que me alucina e que não domo!… Evoé Momo! A Lira etérea, a grande Lira!… Por que eu extático desfira Em seu louvor versos obscenos, Evoé Vênus! - Manuel Bandeira

+ ⁠A todo momento o vejo... Teu corpo... a única ilha No oceano do meu desejo... Teu corpo é tudo o que brilha, Teu corpo é tudo o que cheira... Rosa, flor de laranjeira... - Manuel Bandeira