Frases de Mia Couto

+ Cada um descobre seu anjo tendo relação com o demónio - Mia Couto

+ “Fazer da palavra um embalo é o mais puro e apurado senso da poesia”. (trecho em "Idades cidades divindades". Lisboa: Editorial Caminho, 2007.) - Mia Couto

+ Diz o meu nome pronuncia-o como se as sílabas te queimassem os lábios sopra-o com a suavidade de uma confidência para que o escuro apeteça para que se desatem os teus cabelos para que aconteça Porque eu cresço para ti sou eu dentro de ti que bebe a última gota e te conduzo a um lugar sem tempo nem contorno Porque apenas para os teus olhos sou gesto e cor e dentro de ti me recolho ferido exausto dos combates em que a mim próprio me venci Porque a minha mão infatigável procura o interior e o avesso da aparência porque o tempo em que vivo morre de ser ontem e é urgente inventar outra maneira de navegar outro rumo outro pulsar para dar esperança aos portos que aguardam pensativos No húmido centro da noite diz o meu nome como se eu te fosse estranho como se fosse intruso para que eu mesmo me desconheça e me sobressalte quando suavemente pronunciares o meu nome Mia Couto, in 'Raiz de Orvalho' - Mia Couto

+ Hoje acordei sem mim. Saí à rua, para me deixar possuir pela simples leveza de existir. - Mia Couto

+ Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar,um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez. Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios. (Em 'Antes do Nascer do Mundo') - Mia Couto

+ "Sou um menino que envelheceu logo à nascença. Dizem que, por isso, me é proibido contar minha própria história. Quando terminar o relato eu estarei morto. [...] Mesmo assim me intento, faço na palavra o esconderijo do tempo”. ( em "A varanda do frangipani", Lisboa: Editorial Caminho, 1991.) - Mia Couto

+ ⁠Em tempos de terror, escolhemos monstros para nos proteger. - Mia Couto

+ A mulher é uma nuvem: não há como lhe deitar a âncora. (in "Na berma de nenhuma estrada") - Mia Couto

+ “O poeta faz agricultura às avessas: numa única semente planta a terra inteira”. (em "Tradutor de chuvas". Lisboa: Editorial Caminho, 2011, p. 71). - Mia Couto

+ Só um mundo novo nós queremos: o que tenha tudo de novo e nada de mundo. - Mia Couto

+ Dentro de mim o universo se dissolveu e um respirar de céu em meu peito se inundou. Seria a Vida, seria o Tempo sem nostalgia, ou seria, apenas, a poesia? Sei que havia um fluir de rio lavando antiquíssimas dores. E do cristal de tristeza que antes me negava o ar, desse nó de vazio, voltou a nascer o mar. - Mia Couto

+ Beber toda a ternura Não ter morada habitar como um beijo entre os lábios fingir-se ausente e suspirar (o meu corpo não se reconhece na espera) percorrer com um só gesto o teu corpo e beber toda a ternura para refazer o rosto em que desapareces o abraço em que desobedeces (Em "Raiz de orvalho e outros poemas". Lisboa: Editorial Caminho, 1999. Fonte: elfikurten.com.br) - Mia Couto

+ “O escritor não é apenas aquele que escreve. É aquele que produz pensamento, aquele que é capaz de engravidar os outros de sentimento e de encantamento.” ( Trechos da intervenção na cerimônia de atribuição do Prêmio Internacional dos 12 Melhores Romances de África, Cape Town, Julho de 2002 - fonte: miacoutiando) - Mia Couto

+ (...) a razão deste mundo estava num outro mundo inexplicável. - Mia Couto

+ A descoberta de um lugar exige a temporária morte do viajante. - Mia Couto

+ Poema Mestiço escrevo mediterrâneo na serena voz do Índico sangro norte em coração do sul na praia do oriente sou areia náufraga de nenhum mundo hei-de começar mais tarde por ora sou a pegada do passo por acontecer... - Mia Couto

+ "Os outros passam a escrita a limpo, Eu passo a escrita a sujo. Como os rios que se lavam em encardidas águas. Os outros tem caligrafia, eu tenho sotaque. O sotaque da terra." (Em "O outro pé da sereia". Lisboa: Editorial Caminho, 2006. Fonte: elfikurten.com.br) - Mia Couto

+ "Lembrou as palavras da sua mãe: mulher preta livre é a que sabe o que fazer com o seu próprio cabelo". (Em "O Perfume" - Do livro "Estórias Abensonhadas) - Mia Couto

+ História de um homem é sempre mal contada. Porque a pessoa é, tem todo o tempo, ainda nascente. Ninguém segue uma única vida, todos se multiplicam em diversos e transmutáveis homens. - Mia Couto

+ “Dentro de mim, vão nascendo palavras líquidas, num idioma que desconheço e me vai inundando todo inteiro”. ( em "O fio das missangas". Lisboa: Editorial Caminho, 2003.) - Mia Couto

+ BIOFAGIA É vitalício: comer a Vida deitando-a entontecida sobre o linho do idioma. Nesse leito transverso dispo-a com um só verso. Até chegar ao fim da voz. Até ser um corpo sem foz. - Mia Couto

+ A razão dos nossos actuais e futuros fracassos mora também dentro de nós. - Mia Couto

+ Não me deixem tranquilo não me guardem sossego eu quero a ânsia da onda o eterno rebentar da espuma As horas são-me escassas: dai-me o tempo ainda que o não mereça que eu quero ter outra vez idades que nunca tive para ser sempre eu e a vida nesta dança desencontrada como se de corpos tivéssemos trocado para morrer vivendo. - Mia Couto

+ " Na veia rasgada se confirma: nenhuma vida é alheia. E todo o sangue é sempre nosso". (Vagas e Lumes) - Mia Couto

+ Entrego-te os meus pulsos para que me leves mesmo que eu seja apenas um esquecimento teu. - Mia Couto