Frases de Mia Couto
+ Diz o meu nome pronuncia-o como se as sílabas te queimassem os lábios sopra-o com a suavidade de uma confidência para que o escuro apeteça para que se desatem os teus cabelos para que aconteça Porque eu cresço para ti sou eu dentro de ti que bebe a última gota e te conduzo a um lugar sem tempo nem contorno Porque apenas para os teus olhos sou gesto e cor e dentro de ti me recolho ferido exausto dos combates em que a mim próprio me venci Porque a minha mão infatigável procura o interior e o avesso da aparência porque o tempo em que vivo morre de ser ontem e é urgente inventar outra maneira de navegar outro rumo outro pulsar para dar esperança aos portos que aguardam pensativos No húmido centro da noite diz o meu nome como se eu te fosse estranho como se fosse intruso para que eu mesmo me desconheça e me sobressalte quando suavemente pronunciares o meu nome Mia Couto, in 'Raiz de Orvalho' - Mia Couto
+ Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar,um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez. Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios. (Em 'Antes do Nascer do Mundo') - Mia Couto
+ "Sou um menino que envelheceu logo à nascença. Dizem que, por isso, me é proibido contar minha própria história. Quando terminar o relato eu estarei morto. [...] Mesmo assim me intento, faço na palavra o esconderijo do tempo”. ( em "A varanda do frangipani", Lisboa: Editorial Caminho, 1991.) - Mia Couto
+ Dentro de mim o universo se dissolveu e um respirar de céu em meu peito se inundou. Seria a Vida, seria o Tempo sem nostalgia, ou seria, apenas, a poesia? Sei que havia um fluir de rio lavando antiquíssimas dores. E do cristal de tristeza que antes me negava o ar, desse nó de vazio, voltou a nascer o mar. - Mia Couto
+ Beber toda a ternura Não ter morada habitar como um beijo entre os lábios fingir-se ausente e suspirar (o meu corpo não se reconhece na espera) percorrer com um só gesto o teu corpo e beber toda a ternura para refazer o rosto em que desapareces o abraço em que desobedeces (Em "Raiz de orvalho e outros poemas". Lisboa: Editorial Caminho, 1999. Fonte: elfikurten.com.br) - Mia Couto
+ “O escritor não é apenas aquele que escreve. É aquele que produz pensamento, aquele que é capaz de engravidar os outros de sentimento e de encantamento.” ( Trechos da intervenção na cerimônia de atribuição do Prêmio Internacional dos 12 Melhores Romances de África, Cape Town, Julho de 2002 - fonte: miacoutiando) - Mia Couto
+ Não me deixem tranquilo não me guardem sossego eu quero a ânsia da onda o eterno rebentar da espuma As horas são-me escassas: dai-me o tempo ainda que o não mereça que eu quero ter outra vez idades que nunca tive para ser sempre eu e a vida nesta dança desencontrada como se de corpos tivéssemos trocado para morrer vivendo. - Mia Couto