Frases de Mia Couto

+ “O amanhecer costumava ser um beijo no vidro de sua casa. Naquela manhã, porém, a luz era mais tensa do que intensa”. (em "O outro pé da sereia". Lisboa: Editorial Caminho, 2006.) - Mia Couto

+ Nesse outro tempo, o seu livro era o chão imenso por aí afora. Quem lhe virava as páginas eram as estações do ano. (Em "O outro pé da sereia". Lisboa: Editorial Caminho, 2006. Fonte: Templo Cultural Delfos) - Mia Couto

+ "Não durma perto da estrada que as poeiras irão sujar seus sonhos. E aconteceu. Mas eu..., eu sempre gostei de poeira porque me traz ilusão dos caminhos que não conheço". (Na berma de nenhuma estrada) - Mia Couto

+ Leia um trecho"A missanga, todos a veem. Ninguém nota o fio que, em colar vistoso, vai compondo as missangas. Também assim é a voz do poeta: um fio de silêncio costurando o tempo." "A vida é um colar. Eu dou o fio, as mulheres dão as missangas. São sempre tantas as missangas." É assim que o donjuanesco personagem do conto "O fio e as missangas" define a sua existência. Fazendo jus a essa delicada metáfora, cada uma das 29 histórias aqui agrupadas alia sua carga poética singular à forma abrangente do livro como um todo - vale dizer, ao colar em questão. Com um texto de intensidade ficcional e condensação formal raras na literatura contemporânea, Mia Couto demora-se em lirismos que a sua maestria de ourives da língua consegue extrair de uma escrita simples, calcada em grande parte na fala do homem da sua terra, Moçambique, um pouco à maneira de Guimarães Rosa, ídolo confesso do autor. A brevidade das pequenas tramas e sua aparente desimportância épica estão focadas na contemplação de situações, de personagens, ou simples estados de espírito plenos de significados implícitos, procedimento típico da poesia. Os neologismos do autor, a que os leitores já se habituaram, para além de mera experimentação formalista revelam-se chaves fundamentais de interpretação da leitura. Não por acaso, a maioria dos contos de O fio das missangas adentram com fina sensibilidade o universo feminino, dando voz e tessitura a almas condenadas à não-existência, ao esquecimento. Como objetos descartados, uma vez esgotado seu valor de uso, as mulheres são aqui equiparadas ora a uma saia velha, ora a um cesto de comida, ora, justamente, a um fio de missangas. "Agora, estou sentada olhando a saia rodada, a saia amarfanhosa, almarrotada. E parece que me sento sobre a minha própria vida", diz a narradora de uma dessas belíssimas "missangas" literárias. - Mia Couto

+ "Estas estórias desadormeceram em mim sempre a partir de qualquer coisa acontecida de verdade mas que me foi contada como se tivesse ocorrido na outra margem do mundo. Na travessia dessa fronteira de sombra escutei vozes que vazaram o sol. Outras foram asas no meu voo de escrever”. ( em "Vozes anoitecidas". Lisboa: Editorial Caminho, 1987). - Mia Couto

+ "Escute bem: em cada noite eu me converto em água, me trespasso em líquido. [...] Para dizer a verdade, eu só me sinto feliz quando me vou aguando. Nesse estado em que me durmo estou dispensada de sonhar: a água não tem passado. [...] ( em "A varanda do frangipani", Lisboa: Editorial Caminho, 1991.) - Mia Couto

+ "Eis o que descobri: as aranhas que observei sobre a mesa estiveram sempre dentro de mim. E dentro de mim fabricaram uma teia que me tolda não apenas os movimentos, mas toda a minha vida". (in "Mulheres de Cinzas" página 236) - Mia Couto

+ E tudo era novo, tão novo que nenhuma saudade morava em mim. - Mia Couto

+ De que vale ter voz se só quando não falo é que me entendem? De que vale acordar se o que vivo é menos do que o que sonhei? (VERSOS DO MENINO QUE FAZIA VERSOS) (trecho extraído do livro “O fio das missangas”, Cia. das Letras, 2004, pág. 131.) - Mia Couto

+ "Conselhos de minha mãe foram apenas silêncios. Suas falas tinham o sotaque de nuvem”. ( em "O ultimo voo do flamingo". Lisboa: Editorial Caminho, 2000.) - Mia Couto

+ Como ele sempre dissera: o rio e o coração, o que os une? O rio nunca está feito, como não está o coração. Ambos são sempre nascentes, sempre nascendo. Ou como eu hoje escrevo: milagre é o rio não findar mais. Milagre é o coração começar sempre no peito de outra vida. - Mia Couto

+ Beijo Não quero o primeiro beijo: basta-me o instante antes do beijo. ( em “Tradutor de chuvas”. Lisboa: Editorial Caminho, 2011.) - Mia Couto

+ As ossadas são nossa única eternidade - Mia Couto

+ "Aquele vento, pensou ele, iria varrer a terra por inteiro, atingir por igual os fracos e os poderosos. E os grandes aprenderiam que há um poder bem maior que o deles. O vento os ensinaria a saberem ser pequenos”. ( em "O outro pé da sereia". Lisboa: Editorial Caminho, 2006.) - Mia Couto

+ “Amor se parece com a Vida: ambos nascem na sede da palavra, ambos morrem na palavra bebida”. (trecho em "Idades cidades divindades". Lisboa: Editora Caminho, 2007.) - Mia Couto

+ “A uns satisfaz uma sombra, a outros nem o mundo basta. Uns batem com a porta, outros hesitam como se não houvesse saída” . (em “Tradutor de chuvas”. Lisboa: Editorial Caminho, 2011). - Mia Couto

+ "A palavra de hoje é aquela que cada vez mais se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente”. ( em "E se Obama fosse africano?". Lisboa: Editorial Caminho, 2009) - Mia Couto

+ "A morte se tornara tão frequente que só a vida fazia espanto." - Mia Couto

+ "A minha mensagem é simples: mais do que uma geração tecnicamente capaz, nós necessitamos de uma geração capaz de questionar, capaz de repensar o país e o mundo. Mais do que gente preparada para dar respostas, necessitamos de capacidade para fazer perguntas”. ( no ensaio "Os sete sapatos sujos" (Intervenção no ISCTEM, Maputo). em "E se Obama fosse africano? e outras interinvenções Ensaios". Lisboa: Editorial Caminho, 2009.) - Mia Couto

+ A Demora O amor nos condena: demoras mesmo quando chegas antes. Porque não é no tempo que eu te espero. Espero-te antes de haver vida e és tu quem faz nascer os dias. Quando chegas já não sou senão saudade e as flores tombam-me dos braços para dar cor ao chão em que te ergues. Perdido o lugar em que te aguardo, só me resta água no lábio para aplacar a tua sede. Envelhecida a palavra, tomo a lua por minha boca e a noite, já sem voz se vai despindo em ti. O teu vestido tomba e é uma nuvem. O teu corpo se deita no meu, um rio se vai aguando até ser mar. , - Mia Couto

+ “A adiada enchente Velho, não. Entardecido, talvez. Antigo, sim”. (em "Idades cidades divindades". Lisboa: Editorial Caminho, 2007.) - Mia Couto

+ – Tens medo de fazer amor comigo? – Tenho – respondeu ele. – Por eu ser preta? – Tu não és preta. – Aqui, sou. – Não, não é por seres preta que eu tenho medo. – Tens medo que eu esteja doente... – Sei prevenir-me. – É porquê, então? – Tenho medo de não regressar. Não regressar de ti. - Mia Couto

+ ⁠Sempre que chorares, nascerás uma outra vez. - Mia Couto

+ ___Sementes___ Olhos, vale tê-los, se,de quando em quando, somos cegos e o que vemos não é o que olhamos mas o que o olhar semeia no mais denso escuro. Vida vale vivê-la se,de quando em quando, morremos e o que vivemos não é o que a Vida nos dá nem o que dela colhemos mas o que semeamos em pleno deserto. ____ - Mia Couto

+ Precisamos reencantar o mundo, tomando por empréstimo o olhar das crianças. - Mia Couto