Frases de Rainer Maria Rilke

+ As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizíveis quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou. - Rainer Maria Rilke

+ Ser artista significa: não calcular nem contar; amadurecer como uma árvore que não apressa a sua seiva e permanece confiante durante a tempestade da primavera, sem o temor de que o verão não possa vir depois. Ele vem apesar de tudo. - Rainer Maria Rilke

+ Sem paz, sem amor, sem teto, caminho pela vida afora. Tudo aquilo em que ponho afeto fica mais rico e me devora. - Rainer Maria Rilke

+ Gosto de saber que meus livros estão em suas mãos. - Rainer Maria Rilke

+ Não procure pelas respostas que não podem ser dadas, pois você não seria capaz de vivê-las - Rainer Maria Rilke

+ Quem, se eu gritasse, em meio à legião de anjos me ouviria? - Rainer Maria Rilke

+ Não é somente a inércia culpada pela repetição dos relacionamentos humanos, caso a caso, indescritivelmente, de forma monótona e sem renovação. É a timidez diante de novas e imprevisíveis experiências para as quais acreditamos não estar preparados. Mas somente alguém que está preparado para TUDO, que não exclui NADA, nem o mais enigmático, vivenciará a relação com o outro como algo vivo. - Rainer Maria Rilke

+ Como suportar, como salvar o visível, senão fazendo dele a linguagem da ausência, do invisível? - Rainer Maria Rilke

+ Basta... sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo. - Rainer Maria Rilke

+ Seja paciente com as coisas não resolvidas em seu coração... Tente amar as próprias questões. Não procure agora as respostas que não podem ser dadas, pois você não seria capaz de vivê-las. E o mais importante é viver tudo. Viva as questões agora. Talvez você possa, então, pouco a pouco, sem mesmo perceber, conviver, algum dia distante, com as respostas. - Rainer Maria Rilke

+ Os homens, com o auxílio das convenções, têm resolvido tudo com facilidade e pelo lado mais fácil da facilidade; mas é claro que precisamos ater-nos ao difícil. - Rainer Maria Rilke

+ É tão novo, tão inexperiente ainda perante as coisas, que desejaria pedir-lhe, o melhor que soubesse, uma grande paciência, para tudo que ainda não estiver resolvido no seu coração. Esforce-se para amar as suas próprias dúvidas como se cada uma delas fosse um quarto fechado, um livro escrito em língua estrangeira. Não procure, por enquanto, respostas que não lhe podem ser dadas, porque ainda não saberia pô-las em prática, vivê-las. E trata-se, precisamente de viver tudo. De momento, viva apenas as suas interrogações. Talvez que, simplesmente vivendo-as acabe um dia por penetrar insensivelmente nas respostas. - Rainer Maria Rilke

+ As obras de arte são uma infinita solidão: nada as pode alcançar tão pouco quanto a crítica. - Rainer Maria Rilke

+ "...a maior parte dos acontecimentos ocorrem num espaço que nenhuma palavra nunca pisou." - Rainer Maria Rilke

+ Basta sentir que se poderia viver sem escrever para já não se ter o direito de fazê-lo. - Rainer Maria Rilke

+ Ah, como é bom estar entre pessoas que estão lendo. - Rainer Maria Rilke

+ Não creia que aquele que agora o consola vive despreocupado entre as palavras simples e brandas que às vezes lhe fazem bem. A vida dele tem muitas dificuldades e tristezas e é talvez pior que a sua. Fosse de outra maneira, ele nunca teria sido capaz de achar aquelas palavras. - Rainer Maria Rilke

+ Nada a poderia perturbar mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas a perguntas a que talvez somente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais silenciosa. - Rainer Maria Rilke

+ Minha vida não é essa hora abrupta Em que me vês precipitado. Sou uma árvore ante meu cenário; Não sou senão uma de minhas bocas: Essa, dentre tantas, que será a primeira a fechar-se. Sou o intervalo entre as duas notas Que a muito custo se afinam, Porque a da morte quer ser mais alta… Mas ambas, vibrando na obscura pausa, Reconciliaram-se. E é lindo o cântico. \\\\ As folhas caem como se do alto caíssem, murchas, dos jardins do céu; caem com gestos de quem renuncia. E a terra, só, na noite de cobalto, cai de entre os astros na amplidão vazia. Caimos todos nós. Cai esta mão. Olha em redor: cair é a lei geral. E a terna mão de Alguém colhe, afinal, todas as coisas que caindo vão. - Rainer Maria Rilke

+ Eu quero estar com aqueles que sabem coisas secretas ou então sozinho. - Rainer Maria Rilke

+ Quem foi que assim nos fascinou para que tivesse um olhar de despedida em tudo o que fazemos. - Rainer Maria Rilke

+ O amor de duas criaturas humanas, talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta; a maior e última prova, a obra para qual todas as outras são apenas uma preparação. Por isso, pessoas jovens que ainda são estreantes em tudo, não sabem amar, têm que aprendê-lo. (Cartas á Um Jovem Poeta) - Rainer Maria Rilke

+ PRIMEIRA ELEGIA Quem se eu gritasse, me ouviria pois entre as ordens Dos anjos? E dado mesmo que me tomasse Um deles de repente em seu coração, eu sucumbiria Ante sua existência mais forte. Pois o belo não é Senão o início do terrível, que já a custo suportamos, E o admiramos tanto porque ele tranqüilamente desdenha Destruir-nos. Cada anjo é terrível. E assim me contenho pois, e reprimo o apelo De obscuro soluço. Ah! A quem podemos Recorrer então? Nem aos anjos nem aos homens, E os animais sagazes logo percebem Que não estamos muito seguros No mundo interpretado. Resta-nos talvez Alguma árvore na encosta que diariamente Possamos rever. Resta-nos a rua de ontem E a mimada fidelidade de um hábito, Que se compraz conosco e assim fica e não nos abandona. Ó e a noite, a noite, quando o vento cheio dos espaços Do mundo desgasta-nos o rosto -, para quem ela não é /sempre a desejada, Levemente decepcionante, que para o solitário coração Se impõe penosamente. Ela é mais leve para os amantes? Ah! Eles escondem apenas um com o outro a própria sorte. Não o sabes ainda? Atira dos braços o vazio Para os espaços que respiramos; talvez que os pássaros Sintam o ar mais vasto num vôo mais íntimo. Sim, as primaveras precisavam de ti.Muitas estrelas Esperavam que tu as percebesses. Do passado Erguia-se uma vaga aproximando-se, ou Ao passares sob uma janela aberta, Um violino se entregava. Tudo isso era missão. Mas a levaste ao fim? Não estavas sempre Distraído pela espera, como se tudo te ansiasse A bem amada? (onde queres abrigá-la Então, se os grandes e estranhos pensamentos entram E saem em ti e muitas vezes ficam pela noite.) Se a nostalgia te dominar, porém, cantas as amantes; muito Ainda falta para ser bastante imortal seu celebrado sentimento. Aquelas que tu quase invejaste, as desprezadas, que tu Achaste muito mais amorosas que as apaziguadas. Começa Sempre de novo o louvor jamais acessível; Pensa: o herói se conserva, mesmo a queda lhe foi Apenas um pretexto para ser : o seu derradeiro nascimento. As amantes, porém, a natureza exausta as toma Novamente em si, como se não houvesse duas vezes forças para realizá-las. Já pensaste pois em Gaspara Stampa O bastante para que alguma jovem, A quem o amante abandonou, diante do elevado exemplo Dessa apaixonada, sinta o desejo de tornar-se como ela? Essas velhíssimas dores afinal não se devem tornar Mais fecundas para nós? Não é tempo de nos libertarmos, Amando, do objeto amado e a ele tremendo resistirmos Como a flecha suporta à corda, para, concentrando-se no salto Ser mais do que ela mesma? Pois parada não há em /parte alguma. Vozes, vozes.Escuta, coração como outrora somente os santos escutavam: até que o gigantesco apelo levantava-os do chão; mas eles continuavam ajoelhados, inabaláveis, sem desviarem a atenção: eles assim escutavam. Não que tu pudesses suportar a voz de Deus, de modo algum. Mas escuta o sopro, a incessante mensagem que nasce do silêncio. Daqueles jovens mortos sobe agora um murmúrio em direção /a ti. Onde quer que penetraste, nas igrejas De Roma ou de Nápoles, seu destino não falou a ti, /tranqüilamente? Ou uma augusta inscrição não se impôs a ti Como recentemente a lousa em Santa Maria Formosa. Que eles querem de mim? Lentamente devo dissipar A aparência de injustiça que às vezes dificulta um pouco O puro movimento de seus espíritos. Certo, é estranho não habitar mais terra, Não mais praticar hábitos ainda mal adquiridos, Às rosas e outras coisas especialmente cheias de promessas Não dar sentido do futuro humano; O que se era, entre mãos infinitamente cheias de medo Não ser mais, e até o próprio nome Deixar de lado como um brinquedo quebrado. Estranho, não desejar mais os desejos. Estranho, Ver tudo o que se encadeava esvoaçar solto No espaço. E estar morto é penoso E cheio de recuperações, até que lentamente se divise Um pouco da eternidade. - Mas os vivos Cometem todos o erro de muito profundamente distinguir. Os anjos (dizem) não saberiam muitas vezes Se caminham entre vivos ou mortos. A correnteza eterna Arrebata através de ambos os reinos todas as idades Sempre consigo e seu rumor as sobrepuja em ambos. Finalmente não precisam mais de nós os que partiram cedo, Perde-se docemente o hábito do que é terrestre, como o /seio materno suavemente se deixa, ao crescer.Mas nós que de tão grandes mistérios precisamos, para quem do luto tantas vezes o abençoado progresso se origina - : poderíamos passar /sem eles? É vã a lenda de que outrora, lamentando Linos, A primeira música ousando atravessou o árido letargo, Que então no sobressaltado espaço, do qual um quase /divino adolescente escapou de súbito e para sempre, o vazio entrou naquela vibração que agora nos arrebata e consola e ajuda? - Rainer Maria Rilke

+ Não é só a inércia a responsável pelo fato das relações humanas se repetirem caso após caso indescritivelmente monótonas e viciadas. É a inibição frente a qualquer experiência nova e imprevista com a qual não nos achamos capazes de lidar. Mas só alguém que esteja corajosamente disposto a qualquer coisa, que não exclua nada, nem mesmo o mais enigmático, viverá a relação com o outro como uma experiência viva. - Rainer Maria Rilke

+ Apaga-me os olhos, ainda posso ver-te. Tranca-me os ouvidos, ainda posso ouvir-te, e sem pés posso ainda ir para ti, e sem boca posso ainda invocar-te. Quebra-me os ossos, e posso apertar-te com o coração como com a mão, tapa-me o coração, e o cérebro baterá, e se me deitares fogo ao cérebro, hei-de continuar a trazer-te no sangue. (In Livro das Horas) - Rainer Maria Rilke