Frases de Ricardo Reis

+ Ninguém a outro ama, senão que ama O que de si há nele, ou é suposto. - Ricardo Reis

+ Nada, senão o instante, me conhece. - Ricardo Reis

+ Nada fica de nada. Nada somos. Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos Da irrespirável treva que nos pesa Da úmida terra imposta. Leis feitas, estátuas altas, odes findas - Tudo tem cova sua. Se nós, carnes A que um íntimo sol dá sangue, temos Poente, porque não elas? O que fazemos é o que somos. Nada Nos cria, nos governa e nos acaba. Somos contos contando contos, cadáveres Adiados que procriam. - Ricardo Reis

+ Coroai-me de rosas, Coroai-me em verdade, De rosas — Rosas que se apagam Em fronte a apagar-se Tão cedo! Coroai-me de rosas E de folhas breves. E basta. - Ricardo Reis

+ Concentra-te, e serás sereno e forte; Mas concentra-te fora de ti mesmo. Não sê mais para ti que o pedestal No qual ergas a estátua do teu ser. Tudo mais empobrece, porque é pobre. - Ricardo Reis

+ Antes de Nós Antes de nós nos mesmos arvoredos Passou o vento, quando havia vento, E as folhas não falavam De outro modo do que hoje. Passamos e agitamo-nos debalde. Não fazemos mais ruído no que existe Do que as folhas das árvores Ou os passos do vento. - Ricardo Reis

+ Aguardo, equânime, o que não conheço — Meu futuro e o de tudo. No fim tudo será silêncio, salvo Onde o mar banhar nada. Aqui, Dizeis Aqui, dizeis, na cova a que me abeiro, Não 'stá quem eu amei. Olhar nem riso Se escondem nesta leira. Ah, mas olhos e boca aqui se escondem! Mãos apertei, não alma, e aqui jazem. Homem, um corpo choro! Aqui - Ricardo Reis

+ Abdica E sê Rei de ti próprio. - Ricardo Reis

+ A Cada Qual A cada qual, como a estatura, é dada A justiça: uns faz altos O fado, outros felizes. Nada é prémio: sucede o que acontece. Nada, Lídia, devemos Ao fado, senão tê-lo. - Ricardo Reis

+ A Abelha A abelha que, voando, freme sobre A colorida flor, e pousa, quase Sem diferença dela À vista que não olha, Não mudou desde Cecrops. Só quem vive Uma vida com ser que se conhece Envelhece, distinto Da espécie de que vive. Ela é a mesma que outra que não ela. Só nós — ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte! — Mortalmente compramos Ter mais vida que a vida. - Ricardo Reis