Frases de Vinicius De Moraes
+ A QUE VEM DE LONGE A minha amada veio de leve A minha amada veio de longe A minha amada veio em silêncio Ninguém se iluda. A minha amada veio da treva Surgiu da noite qual dura estrela Sempre que penso no seu martírio Morro de espanto. A minha amada veio impassível Os pés luzindo de luz macia Os alvos braços em cruz abertos Alta e solene. Ao ver-me posto, triste e vazio Num passo rápido a mim chegou-se E com singelo, doce ademane Roçou-me os lábios. Deixei-me preso ao seu rosto grave Preso ao seu riso no entanto ausente Inconsciente de que chorava Sem dar-me conta. Depois senti-lhe o tímido tato Dos lentos dedos tocar-me o peito E as unhas longas se me cravarem Profundamente. Aprisionado num só meneio Ela cobriu-me de seus cabelos E os duros lábios no meu pescoço Pôs-se a sugar-me. Muitas auroras transpareceram Do meu crescente ficar exangue Enquanto a amada suga-me o sangue Que é a luz da vida. - Vinicius De Moraes
+ A música das almas... Na manhã infinita as nuvens surgiram como a loucura numa alma. E o vento como o instinto desceu os braços das árvores que estrangulavam a terra... Depois veio a claridade, os grandes rios, céus, a paz dos campos... Mas nos caminhos todos choravam com os rostos levados para o alto. Porque a vida tinha misteriosamente passado na tormenta. - Vinicius De Moraes
+ A bênção, Bahia Olorô, Bahia Nós viemos pedir sua bênção, saravá! Hepa hê, meu guia Nós viemos dormir no colinho de lemanjá! Nanã Borokô fazer um Bulandê Efó, caruru e aluá Pimenta bastante pra fazer sofrer Bastante mulata para amar Fazer juntó Meu guia, hê Seu guia, hê Bahia! Saravá, senhora Nossa mãe foi-se embora pra sempre do Afojá A rainha agora É Oxum, é a mãe Menininha do Gantois Pedir à mãe Olga do Alakêto, hê Chamar Inhansã para dançar Xangô, rei Xangô, Kabueci-elê Meu pai! Oxalá, hepa babá! A bênção, mãe Senhora mãe Menina mãe Rainha! Olorô, Bahia Nós viemos pedir sua bênção, saravá! Hepa hê, meu guia Nós viemos dormir no colinho de lemanjá! - Vinicius De Moraes
+ Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles. Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação. Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de seccionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce. Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas. De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde... - Vinicius De Moraes
+ Você chora tanto por quem te faz triste, que esquece daqueles que te fazem feliz. - Vinicius De Moraes
+ Vai tua vida, Teu caminho é de paz e amor Vai tua vida é uma linda canção de amor Abre os teus braços E canta a última esperança A esperança divina de amar em paz Se todos fossem iguais a você Que maravilha viver Uma canção pelo ar, Uma mulher a cantar Uma cidade a cantar, A sorrir, a cantar, a pedir A beleza de amar Como o sol, Como a flor, Como a luz Amar sem mentir, Nem sofrer Existiria verdade, Verdade que ninguém vê Se todos fossem no mundo iguais a você. - Vinicius De Moraes
+ Uma música que seja... ...Como os mais belos harmônicos da natureza. Uma música que seja como o som do vento na cordoalha dos navios, aumentando gradativamente de tom até atingir aquele em que se cria uma reta ascendente para o infinito. Uma música que comece sem começo e termine sem fim. Uma música que seja como o som do vento numa enorme harpa plantada no deserto. Uma música que seja como a nota lancinante deixada no ar por um pássaro que morre. Uma música que seja como o som dos altos ramos das grandes árvores vergastadas pelos temporais. Uma música que seja como o ponto de reunião de muitas vozes em busca de uma harmonia nova. Uma música que seja como o vôo de uma gaivota numa aurora de novos sons... - Vinicius De Moraes
+ UM NOVO DIA Um novo dia vem nascendo Um novo sol já vai raiar Parece a vida, rompendo em luz E que nos convida a amar Oh, meu irmão, não desespera Espera a luz acontecer Para que a vida renasça em paz Nesse novo amanhecer Surgem as abelhas em zoeira a sugar o mel das flores gentis Param as ovelhas pelo monte, a recordar os horizontes felizes Vindo à distância cantam galos em longínquos intervalos de sons Pombos revoando, vão uivando, vão passando nestes céus tão azuis Ah, quanta cor e luz! E o movimento vai crescendo Vai aumentando em amplidão Parece a vida pulsar no ar O bater de um coração Sobem pregões vindos da praça Começa o povo a aparecer Quem quer comprar neste novo dia A alegria de viver? - Vinicius De Moraes
+ Tudo é expressão. Neste momento, não importa o que eu te diga Voa de mim como uma incontenção de alma ou como um afago. Minhas tristezas, minhas alegrias Meus desejos são teus, toma, leva-os contigo! És branca, muito branca E eu sou quase eterno para o teu carinho. Não quero dizer nem que te adoro Nem que tanto me esqueço de ti Quero dizer-te em outras palavras todos os votos de amor jamais sonhados Alóvena, ebaente Puríssima, feita para morrer... - Vinicius De Moraes
+ TRÊS RESPOSTAS EM FACE DE DEUS! Sim, vós sois (eu deveria ajoelhar dizendo os vossos nomes!) E sem vós quem se mataria no presságio de alguma madrugada? À vossa mesa irei murchando para que o vosso vinho vá bebendo De minha poesia farei música para que não mais vos firam os seus acentos dolorosos Livres as mãos e serei Tântalo - mas o suplício da sede vós o vereis apenas nos meus olhos Que adormeceram nas visões das auroras geladas onde o sol de sangue não caminha… E vós!... (Oh, o fervor de dizer os vossos nomes angustiados!) Deixai correr o vosso sangue eterno sobre as minhas lágrimas de ouro! Vós sois o espírito, a alma, a inteligência das coisas criadas E a vós eu não rirei - rir é atormentar a tragédia interior que ama o silêncio Convosco e contra vós eu vagarei em todos os desertos E a mesma águia se alimentará das nossas entranhas tormentosas. E vós, serenos anjos... (eu deveria morrer dizendo os vossos nomesl) Vós cujos pequenos seios se iluminavam misteriosamente à minha presença silenciosa! Vossa lembrança é como a vida que não abandona o espírito no sono Vós fostes para mim o grande encontro… E vós também, ó árvores de desejo! Vós, a jetatura de Deus enlouquecido Vós sereis o demônio em todas as idades. - Vinicius De Moraes
+ Tomara Que a tristeza te convença Que a saudade não compensa E que a ausência não dá paz E o verdadeiro amor de quem se ama Tece a mesma antiga trama Que não se desfaz E a coisa mais divina Que há no mundo É viver cada segundo Como nunca mais... Tomara Que a tristeza te convença Que a saudade não compensa E que a ausência não dá paz E o verdadeiro amor de quem se ama Tece a mesma antiga trama Que não se desfaz E a coisa mais divina Que há no mundo É viver cada segundo Como nunca mais... Vinicius de Moraes - Vinicius De Moraes
+ Tenderness I ask your pardon for loving you suddenly Although my love is an old song in your ears Of hours spent in the shadow of your gestures Drinking in the scent of your mouth smiles The nights that I lived cherishing By the grace unspeakable of your footsteps forever fleeing I bring the sweetness who accept wistfully. And I can tell you that the great affection that let you It brings the tears of exasperation nor the fascination of the promises Neither the mysterious words the veils of the soul ... It is a quiet, an anointing, an overflow of fondling And I only ask that you rested quietly, very quiet And let your hands warm at night find without fatality the static look of dawn. - Vinicius De Moraes
+ Se mais do que minha namorada Você quer ser minha amada Minha amada, mas amada para valer Aquela amada pelo amor predestinada Sem a qual a vida é nada Sem a qual se quer morrer Você tem que vir comigo Em meu caminho E talvez o meu caminho Seja triste para você Os seus olhos tem que ser só dos meus olhos E os seus braços o meu ninho No silêncio de depois E você tem de ser a estrela derradeira Minha amiga e companheira No infinito de nós dois. - Vinicius De Moraes
+ Se foi pra desfazer, por que é que fez? - Vinicius De Moraes
+ Quem nunca teve um pai que ronca, não sabe o que é ter pai - Vinicius De Moraes
+ " ... Quem já passou por essa vida e não viveu. Pode ser mais, mas sabe menos do que eu... Porque a vida só se dá, para quem se deu. Para quem amou, para quem chorou, para quem sofreu. Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada não! Não há mal pior do que a descrença, mesmo amor que não compensa, é melhor que a solidão..." - Vinicius De Moraes
+ Pra que chorar Se o sol já vai raiar Se o dia vai amanhecer Pra que sofrer Se a lua vai nascer É só o sol se pôr Pra que chorar Se existe amor A questão é só de dar A questão é só de dor Quem não chorou Quem não se lastimou Não pode nunca mais dizer Pra que chorar Pra que sofrer Se há sempre um novo amor Em cada novo amanhecer... Pra que chorar Se o sol já vai raiar Se o dia vai amanhecer Pra que sofrer Se a lua vai nascer É só o sol se pôr Pra que chorar Se existe amor A questão é só de dar A questão é só de dor Quem não chorou Quem não se lastimou Não pode nunca mais dizer Pra que chorar Pra que sofrer Se há sempre um novo amor Em cada novo amanhecer... - Vinicius De Moraes
+ Porque a vida é somente Teu bicho-papão - Vinicius De Moraes
+ Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor. - Vinicius De Moraes
+ Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. - Vinicius De Moraes
+ "...Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos. Os seus braços o meu ninho, no silêncio de depois. E você tem que ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira no infinito de nós dois..." - Vinicius De Moraes
+ Os acrobatas Tensos Pela corda luminosa Que pende invisível E cujos nós são astros Queimando nas mãos Subamos à tona Do grande mar de estrelas Onde dorme a noite Subamos! - Vinicius De Moraes
+ O rio Uma gota de chuva A mais, e o ventre grávido Estremeceu, da terra. Através de antigos Sedimentos, rochas Ignoradas, ouro Carvão, ferro e mármore Um fio cristalino Distante milênios Partiu fragilmente Sequioso de espaço Em busca de luz. Um rio nasceu. - Vinicius De Moraes
+ O POETA A vida do poeta tem um ritmo diferente É um contínuo de dor angustiante. O poeta é um destinado do sofrimento Do sofrimento que lhe clareia a visão de beleza E sua alma é uma parcela do infinito distante O infinito que ninguém sonda e ninguém compreende. Ele é o eterno errante dos caminhos Que vai, pisando a terra e olhando o céu Preso pelos extremos intangíveis Clareando como um raio de sol a paisagem da vida... - Vinicius De Moraes
+ Ó minha amada, que olhos os teus. São cais noturnos cheios de adeus. São docas mansas trilhando luzes que brilham longe, longe dos breus... Ó minha amada, que olhos os teus. Quanto mistério nos olhos teus. Quantos saveiros, quantos navios, quantos naufrágios nos olhos teus. - Vinicius De Moraes