Alba
Alba, no canteiro dos lírios estão caídas as pétalas de uma rosa cor de sangue Que tristeza esta vida, minha amiga… Lembras-te quando vínhamos na tarde roxa e eles jaziam puros E houve um grande amor no nosso coração pela morte distante? Ontem, Alba, sofri porque vi subitamente a nódoa rubra entre a carne pálida ferida Eu vinha passando tão calmo, Alba, tão longe da angústia, tão suavizado Quando a visão daquela flor gloriosa matando a serenidade dos lírios entrou em mim E eu senti correr em meu corpo palpitações desordenadas de luxúria. Eu sofri, minha amiga, porque aquela rosa me trouxe a lembrança do teu sexo que eu não via Sob a lívida pureza da tua pele aveludada e calma Eu sofri porque de repente senti o vento e vi que estava nu e ardente E porque era teu corpo dormindo que existia diante de meus olhos. Como poderias me perdoar, minha amiga, se soubesses que me aproximei da flor como um perdido E a tive desfolhada entre minhas mãos nervosas e senti escorrer de mim o sêmen da minha volúpia? Ela está lá, Alba, sobre o canteiro dos lírios, desfeita e cor de sangue Que destino nas coisas, minha amiga! Lembras-te, quando eram só os lírios altos e puros? Hoje eles continuam misteriosamente vivendo, altos e trêmulos Mas a pureza fugiu dos lírios como o último suspiro dos moribundos Ficaram apenas as pétalas da rosa, vivas e rubras como a tua lembrança Ficou o vento que soprou nas minhas faces e a terra que eu segurei nas minhas mãos.
Rio de Janeiro, 1935
Vinicius De Moraes
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+ A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. - Vinicius De Moraes
+ Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido. - Vinicius De Moraes
+ Soneto de separação De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. - Vinicius De Moraes
+ Tomara Que você volte depressa Que você não se despeça Nunca mais do meu carinho E chore, se arrependa E pense muito Que é melhor se sofrer junto Que viver feliz sozinho Tomara Que a tristeza te convença Que a saudade não compensa E que a ausência não dá paz E o verdadeiro amor de quem se ama Tece a mesma antiga trama Que não se desfaz E a coisa mais divina Que há no mundo É viver cada segundo Como nunca mais... - Vinicius De Moraes