Comunicação Cecília Meireles
Pequena lagartixa branca, ó noiva brusca dos ladrilhos! sobe à minha mesa, descansa, debruça-te em meus calmos livros.
Ouve comigo a voz dos poetas que agora não dizem mais nada, – e diziam coisas tão belas! – ó ídolo de cinza e prata!
Ó breve deusa de silêncio que na face da noite corres como a dor pelo pensamento, – e sozinha miras e foges.
Pequena lagartixa – vinda para quê? – pousa em mim teus olhos. Quero contemplar tua vida, a repetição dos teus mortos.
Como os poetas que já cantaram, e que já ninguém mais escuta, eu sou também a sombra vaga de alguma interminável música.
Pára em meu coração deserto! Deixa que te ame, ó alheia, ó esquiva… Sobre a torrente do universo, nas pontes frágeis da poesia.