Fábula da Fábula

Era uma vez Uma fábula famosa, Alimentícia E moralizadora, Que, em verso e prosa, Toda a gente Inteligente, Prudente E sabedora Repetia Aos filhos, Aos netos E aos bisnetos, À base duns insectos, De que não vale a pena fixar o nome. A fábula garantia Que quem cantava morria De fome. E, realmente… Simplesmente, Enquanto a fábula contava, Um demónio secreto segredava Ao ouvido secreto De cada criatura Que quem não cantava Morria de fartura.


Miguel Torga

Outras frases de Miguel Torga

+ Agora, o remédio é partir discretamente, sem palavras, sem lágrimas, sem gestos. De que servem lamentos e protestos, contra o destino? - Miguel Torga

+ É um fenômeno curioso: o país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disto. Falta-lhe o romantismo cívico da agressão. Somos, socialmente, uma coletividade pacífica de revoltados. - Miguel Torga

+ Súplica Agora que o silêncio é um mar sem ondas, E que nele posso navegar sem rumo, Não respondas Às urgentes perguntas Que te fiz. Deixa-me ser feliz Assim, Já tão longe de ti como de mim. Perde-se a vida a desejá-la tanto. Só soubemos sofrer, enquanto O nosso amor Durou. Mas o tempo passou, Há calmaria... Não perturbes a paz que me foi dada. Ouvir de novo a tua voz seria Matar a sede com água salgada. - Miguel Torga

+ Mais um ano. Mais um palmo a separar-me dos outros, já que a vida não passa de um progressivo distanciamento de tudo e de todos, que a morte remata. - Miguel Torga

+ A vida afectiva é a única que vale a pena. A outra apenas serve para organizar na consciência o processo da inutilidade de tudo. - Miguel Torga

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