Medo de Amar

Petrópolis O céu está parado, não conta nenhum segredo A estrada está parada, não leva a nenhum lugar A areia do tempo escorre de entre meus dedos Ai que medo de amar!

O sol põe em relevo todas as coisas que não pensam Entre elas e eu, que imenso abismo secular… As pessoas passam, não ouvem os gritos do meu silêncio Ai que medo de amar!

Uma mulher me olha, em seu olhar há tanto enlevo Tanta promessa de amor, tanto carinho para dar Eu me ponho a soluçar por dentro, meu rosto está seco Ai que medo de amar!

Dão-me uma rosa, aspiro fundo em seu recesso E parto a cantar canções, sou um patético jogral Mas viver me dói tanto! e eu hesito, estremeço… Ai que medo de amar!

E assim me encontro: entro em crepúsculo, entardeço Sou como a última sombra se estendendo sobre o mar Ah, amor, meu tormento!… como por ti padeço… Ai que medo de amar!


Vinicius De Moraes

Outras frases de Vinicius de Moraes

+ Soneto de separação De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. - Vinicius De Moraes

+ Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido. - Vinicius De Moraes

+ Soneto de Fidelidade De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. - Vinicius De Moraes

+ Soneto do amigo Enfim, depois de tanto erro passado Tantas retaliações, tanto perigo Eis que ressurge noutro o velho amigo Nunca perdido, sempre reencontrado. É bom sentá-lo novamente ao lado Com olhos que contêm o olhar antigo Sempre comigo um pouco atribulado E como sempre singular comigo. Um bicho igual a mim, simples e humano Sabendo se mover e comover E a disfarçar com o meu próprio engano. O amigo: um ser que a vida não explica Que só se vai ao ver outro nascer E o espelho de minha alma multiplica... - Vinicius De Moraes

+ Tomara Que você volte depressa Que você não se despeça Nunca mais do meu carinho E chore, se arrependa E pense muito Que é melhor se sofrer junto Que viver feliz sozinho Tomara Que a tristeza te convença Que a saudade não compensa E que a ausência não dá paz E o verdadeiro amor de quem se ama Tece a mesma antiga trama Que não se desfaz E a coisa mais divina Que há no mundo É viver cada segundo Como nunca mais... - Vinicius De Moraes

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