No pequeno museu sentimental

No pequeno museu sentimental os fios de cabelo religados por laços mínimos de fita são tudo que dos montes hoje resta, visitados por mim, montes de Vênus.

Apalpo, acaricio a flora negra, a negra continua, nesse branco total do tempo extinto em que eu, pastor felante, apascentava caracóis perfumados, anéis negros, cobrinhas passionais, junto do espelho que com elas rimava, num clarão.

Os movimentos vivos no pretérito enroscam-se nos fios que me falam de perdidos arquejos renascentes em beijos que da boca deslizavam para o abismo de flores e resinas.

Vou beijando a memória desses beijos.


Carlos Drummond De Andrade

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+ Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar. - Carlos Drummond De Andrade

+ A ignorância, a cobiça e a má-fé também elegem seus representantes políticos. - Carlos Drummond De Andrade

+ O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar. - Carlos Drummond De Andrade

+ Perder tempo em aprender coisas que não interessam priva-nos de descobrir coisas interessantes. - Carlos Drummond De Andrade

+ Memória Amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão. - Carlos Drummond De Andrade

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