PEÇO SILÊNCIO
Agora me deixem tranquilo. Agora se acostumem sem mim.
Eu vou cerrar os meus olhos.
Somente quero cinco coisas, cinco raízes preferidas.
Uma é o amor sem fim.
A segunda é ver o outono. Não posso ser sem que as folhas voem e voltem à terra.
A terceira é o grave inverno, a chuva que amei, a carícia do fogo no frio silvestre.
Em quarto lugar o verão redondo como uma melancia.
A quinta coisa são os teus olhos, Matilde minha, bem-amada, não quero dormir sem os teus olhos, não quero ser sem que me olhes: eu mudo a primavera para que me sigas olhando. Amigos, isso é quanto quero. É quase nada e quase tudo.
Agora se querem, podem ir.
Vivi tanto que um dia terão de por força me esquecer, apagando-me do quadro-negro: meu coração foi interminável.
Porém porque peço silêncio não creiam que vou morrer: passa comigo o contrário: sucede que vou viver. Sucede que sou e que sigo.
Não será, pois lá bem dentro de mim crescerão cereais, primeiro os grãos que rompem a terra para ver a luz, porém a mãe terra é escura: e dentro de mim sou escuro: sou como um poço em cujas águas a noite deixa suas estrelas e segue sozinha pelo campo.
Sucede que tanto vivi que quero viver outro tanto.
Nunca me senti tão sonoro, nunca tive tantos beijos.
Agora, como sempre, é cedo. Voa a luz com suas abelhas.
Me deixem só com o dia. Peço licença para nascer.
Pablo Neruda
Outras frases de Pablo Neruda
+ A Dança/ Soneto XVII Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio ou flecha de cravos que propagam o fogo: amo-te como se amam certas coisas obscuras, secretamente, entre a sombra e a alma. Te amo como a planta que não floresce e leva dentro de si, oculta a luz daquelas flores, e graças a teu amor vive escuro em meu corpo o apertado aroma que ascendeu da terra. Te amo sem saber como, nem quando, nem onde, te amo diretamente sem problemas nem orgulho: assim te amo porque não sei amar de outra maneira, senão assim deste modo em que não sou nem és tão perto que tua mão sobre meu peito é minha tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho. - Pablo Neruda
+ Ainda que chova, ainda que doa. Ainda que a distância corroa as horas do dia e caia a noite sem estrelas, o mundo brilha um pouquinho mais a cada vez que você sorri. - Pablo Neruda
+ Se sou amado, quanto mais amado mais correspondo ao amor. Se sou esquecido, devo esquecer também, Pois amor é feito espelho: tem que ter reflexo. - Pablo Neruda
+ Quero apenas cinco coisas... Primeiro é o amor sem fim A segunda é ver o outono A terceira é o grave inverno Em quarto lugar o verão A quinta coisa são teus olhos Não quero dormir sem teus olhos. Não quero ser... sem que me olhes. Abro mão da primavera para que continues me olhando. - Pablo Neruda
+ Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos, já não se adoçará junto a ti a minha dor. Mas para onde vá levarei o teu olhar e para onde caminhes levarás a minha dor. Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos uma curva na rota por onde o amor passou. Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame, daquele que corte na tua chácara o que semeei eu. Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste. Venho dos teus braços. Não sei para onde vou. ...Do teu coração me diz adeus uma criança. E eu lhe digo adeus. - Pablo Neruda