Quero escrever o borrão vermelho de sangue com as gotas e coágulos pingando de dentro para dentro. Quero escrever amarelo-ouro com raios de translucidez. Que não me entendam pouco-se-me-dá. Nada tenho a perder. Jogo tudo na violência que sempre me povoou, o grito áspero e agudo e prolongado, o grito que eu, por falso respeito humano, não dei.

Mas aqui vai o meu berro me rasgando as profundas entranhas de onde brota o estertor ambicionado. Quero abarcar o mundo com o terremoto causado pelo grito. O clímax de minha vida será a morte.

Quero escrever noções sem o uso abusivo da palavra. Só me resta ficar nua: nada tenho mais a perder.


Clarice Lispector

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+ Vou-lhes contar um segredo: a vida é mortal. - Clarice Lispector

+ Vou me acrescentando em folhas. (Água Viva) - Clarice Lispector

+ Vou experimentar tudo o que possa, não quero me ausentar do mundo. - Clarice Lispector

+ Vou perder o resto do medo do mau gosto, vou começar meu exercício de coragem, viver não é coragem, saber que se vive é a coragem. - Clarice Lispector

+ Vou fazer um pedido para vocês: todas as vezes que vocês se sentirem solitarios, isto é, sozinhos, procurem uma pessoa para conversar. Escolham uma pessoa grande que seja muito boa para crianças e que entenda que as vezes um menino ou uma menina estao sofrendo. - Clarice Lispector

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