Retorno
Somente depois de ter andado por terras estranhas É que pude reconhecer a beleza da minha morada. A ausência mensura o tamanho do local perdido Evidencia o que antes estava oculto, por força do costume. Olhei minha mãe como se fosse a primeira vez, Olhei como se eu voltasse a ser criança pequena A descobrir-lhe as feições tão maternas. Abri o portão principal como quem abria Um cofre que resguardava valores incomensuráveis. As vozes de todos os dias estavam reinauguradas. Realizar a proeza de ser gerado de novo. Suas mãos sobre os meus cabelos pareciam devolver-me A mim mesmo. Mãos com poder de sutura existencial… Era como se o gesto possuísse voz, capaz de dizer: Dorme meu filho, porque enquanto você dormir Eu lhe farei de novo. Dorme meu filho, dorme…