TODOS ACORDAMOS TRISTES
Todos acordamos tristes e impacientes: que melancolia desceu na chuva da noite? Que sonhos teve cada um de nós, já esquecidos e ainda atuantes? Que anjos amargos ficaram à nossa cabeceira? Todos acoradamos com o coração pesado e os lábios aflitos. Que bebida acerba nos foi vertida dos céus? Que confidências nos fizeram os mortos e os Santos? Nossos olhos abriram-se a custo, sob muito sal. Nossos braços estavam sem força, ao despertar do dia. Por que montanhas caminhamos, de íngreme pedra? Que desertos atravessamos, de vento e areia? Em que mares deixamos a sombra do nosso vulto? Acordamos despojados, divididos, dolentes, e, exaustos, começamos a recompor aquilo que, sem nenhuma certeza, supomos, no entanto, ser, em alma e esperança.