Frases de Flora Figueiredo

+ Nó Estou perdidamente emaranhada Em seus fios de delícias e doçuras. Já não encontro o começo da meada, Não sei nem mesmo Se há uma ponta de saída Ou se a loucura Vai num ritmo crescente Até subjugar a minha vida. Não importa. Quero seus nós de seda Cada vez mais cegos e apertados A me costurar nas malhas e nos pelos. Enquanto você me amarra, Permanece atado na trama do novelo. - Flora Figueiredo

+ Lugar Marcado Sempre no mesmo lugar, as cadeiras vazias questionam seu enrdo. Estão vazias dos que saíram cedo ou daqueles que resistem em chegar? - Flora Figueiredo

+ Linha de combate: as granadas e os petardos são de chocolate. - Flora Figueiredo

+ ⁠Roda pião Olhinhos extasiados, ele observa o pião gira-girar acelerado. Colorido, o brinquedo se enrola no corpo listrado e roda como bailarina a esvoaçar o tule do vestido. Aos poucos, se cansa, arrefece, perde a força, cessa a dança. No desencanto dos olhos da criança, a ciranda do pião reflete a própria vida: ao girar em volta de si mesmo, retorna sempre ao ponto de partida. - Flora Figueiredo

+ Perdoa coração este momento de introspecção. Sinto teu aperto, teu descompasso, tua pressão. Peço-te perdão por mais este instante oprimido, por todo impulso contido, cada decepção que te causei: as grandes cenas que não fotografei, os beijos que retive, as risadas que contive, as brigas que não briguei, os poemas que não escrevi, os falsos que respeitei, as auroras que não vi, os porres que não permiti, o amigo que não percebi, o amante que não amei. Perdoa coração por este abuso, mas me recuso a recuar novamente. É que sempre se morre um pouquinho a cada emoção que não se sente. Não vale entrar na vida de mansinho; tem-se que vibrar intensamente, ainda que te custe uma palpitação. - Flora Figueiredo

+ Caleidoscópio Pela fresta observo a dança das cores nos vidros recortados. Separam-se, aglutinam-se, desenham maravilhas Como se bailassem calçando sapatilhas. A cada movimento, uma surpresa, a mesma flor concebida com destreza, em seguida se espalha e se desfaz. Por trás de seu processo giratório, o caleidoscópio avisa: a forma é fugaz e imprecisa e o colorido de hoje é provisório. - Flora Figueiredo

+ Beijos Procure embaixo de sua saudade, um beijo meu. Em algum instante da despedida ele se perdeu, mergulhado, talvez, numa lágrima perdida. Não possui nada de especial: a dose de açúcar que no beijo é natural, a umidade das várias emoções. Com uma certa tendência a contravenções, é melhor que seja procurado em lugares proibidos, onde ele pense jamais ser encontrado. Carrega de um lado uma meia-tristeza conquistada nos desatinos de uma noite, daquelas em que a lua vem quebrada; do outro lado, um sorriso de quem sabe como chupar estrelas. Sobraram-lhe sequelas e aderências das muitas experiências de quem já foi bolinar o paraíso. Se for capaz de encontrá-lo, devolva prontamente, pois é evidente a falta que ele faz. - Flora Figueiredo

+ Arquitetura Solidão é quando se sente o próprio hálito, se se descobre pálido olhando o vão do dedo. Estar só é morrer de medo do silêncio, amassar o lenço na palma da mão. É quando a noção da vida se desloca, sai do meio da rua, quer a toca, onde o espaço menor não deixa sobra. Solidão é o canteiro de obras da emoção: nele se guardam materiais preciosos, os pontiagudos, os tortos, os porosos, que, se devidamente combinados, serão perfeitamente aproveitados como estrutura de uma nova construção. - Flora Figueiredo

+ Alma Acho que os sentimentos têm células, pois as sinto remexer, intensas libélulas a se fundir e a se desprender. Alimentam-se de lágrimas e risos, sempre crescem. A cada instante que vivo, mais então se expandem, mais amadurecem. Seu núcleo me pede pulsações e quando me perco pelas emoções, ele se avoluma e me maltrata. Chega a ser tão grande seu efeito, que rompe o peito,sangra e se dilata. Ah minhas células emotivas! Quero-as em mim coladas e cativas fazendo-me viver intensamente. Eu as batizo com o nome de "alma" e as responsabilizo a viver eternamente ainda quando o coração se acalma e põe-se a dormir irreversivelmente. - Flora Figueiredo