Frases de Machado De Assis

+ Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis. - Machado De Assis

+ Os dois horizontes Dois horizontes fecham nossa vida: Um horizonte, – a saudade Do que não há de voltar; Outro horizonte, – a esperança Dos tempos que hão de chegar; No presente, – sempre escuro, – Vive a alma ambiciosa Na ilusão voluptuosa Do passado e do futuro. Os doces brincos da infância Sob as asas maternais, O vôo das andorinhas, A onda viva e os rosais; O gozo do amor, sonhado Num olhar profundo e ardente, Tal é na hora presente O horizonte do passado. Ou ambição de grandeza Que no espírito calou, Desejo de amor sincero Que o coração não gozou; Ou um viver calmo e puro À alma convalescente, Tal é na hora presente O horizonte do futuro. No breve correr dos dias Sob o azul do céu, – tais são Limites no mar da vida: Saudade ou aspiração; Ao nosso espírito ardente, Na avidez do bem sonhado, Nunca o presente é passado, Nunca o futuro é presente. Que cismas, homem? – Perdido No mar das recordações, Escuto um eco sentido Das passadas ilusões. Que buscas, homem? – Procuro, Através da imensidade, Ler a doce realidade Das ilusões do futuro. Dois horizontes fecham nossa vida. - Machado De Assis

+ Uma criatura Sei de uma criatura antiga e formidável, Que a si mesma devora os membros e as entranhas, Com a sofreguidão da fome insaciável. Habita juntamente os vales e as montanhas; E no mar, que se rasga, à maneira do abismo, Espreguiça-se toda em convulsões estranhas. Traz impresso na fronte o obscuro despotismo; Cada olhar que despede, acerbo e mavioso, Parece uma expansão de amor e egoísmo. Friamente contempla o desespero e o gozo, Gosta do colibri, como gosta do verme, E cinge ao coração o belo e o monstruoso. Para ela o chacal é, como a rola, inerme; E caminha na terra imperturbável, como Pelo vasto arealum vasto paquiderme. Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo Vem a folha, que lento e lento se desdobra, Depois a flor, depois o suspirado pomo. Pois essa criatura está em toda a obra: Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto, E é nesse destruir que as suas forças dobra. Ama de igual amor o poluto e o impoluto; Começa e recomeça uma perpétua lida, E sorrindo obedece ao divino estatuto. Tu dirás que é a Morte; eu direi que é a Vida. - Machado De Assis

+ A gratidão de quem recebe um benefício é sempre menor que o prazer daquele de quem o faz. - Machado De Assis

+ Não é a ocasião que faz o ladrão, dizia ele a alguém; o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: "A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito". - Machado De Assis

+ Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular. - Machado De Assis

+ Não se luta contra o destino; o melhor é deixar que nos pegue pelos cabelos e nos arraste até onde queira alçar-nos ou despenhar-nos. - Machado De Assis

+ Não há nada mais tenaz que um bom ódio. - Machado De Assis

+ Eu gosto de catar o mínimo e o escondido. Onde ninguém mete o nariz, aí entra o meu, com a curiosidade estreita e aguda que descobre o encoberto. - Machado De Assis

+ A ingratidão é um direito do qual não se deve fazer uso. - Machado De Assis

+ Tudo é aliado do homem que sabe querer. - Machado De Assis

+ Reúno em mim mesmo a teoria e a prática. - Machado De Assis

+ Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar... - Machado De Assis

+ A uma senhora que me pediu versos Pensa em ti mesma, acharás Melhor poesia, Viveza, graça, alegria, Doçura e paz. Se já dei flores um dia, Quando rapaz, As que ora dou têm assaz Melancolia. Uma só das horas tuas Vale um mês Das almas já ressequidas. Os sóis e as luas Creio bem que Deus os fez Para outras vidas. - Machado De Assis

+ Amor repelido é amor multiplicado. - Machado De Assis

+ A CAROLINA Querida, ao pé do leito derradeiro Em que descansas dessa longa vida, Aqui venho e virei, pobre querida, Trazer-te o coração do companheiro. Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro Que, a despeito de toda a humana lida, Fez a nossa existência apetecida E num recanto pôs um mundo inteiro. Trago-te flores, - restos arrancados Da terra que nos viu passar unidos E ora mortos nos deixa e separados. Que eu, se tenho nos olhos malferidos Pensamentos de vida formulados, São pensamentos idos e vividos. - Machado De Assis

+ As coisas valem pelas ideias que nos sugerem. - Machado De Assis

+ A melhor definição do amor não vale um beijo. - Machado De Assis

+ Não importa ao tempo o minuto que passa, mas o minuto que vem. - Machado De Assis

+ O esperado nos mantém fortes, firmes e em pé. O inesperado nos torna frágeis e propõe recomeços. - Machado De Assis

+ A ocasião faz o roubo, o ladrão já nasce pronto. - Machado De Assis

+ Enquanto uma chora, outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida. - Machado De Assis

+ Um Apólogo Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: – Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo? – Deixe-me, senhora. – Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça. – Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros. – Mas você é orgulhosa. – Decerto que sou. – Mas por quê? – É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu? – Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu? – Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados... – Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando... – Também os batedores vão adiante do imperador. – Você é imperador? – Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto... Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana – para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha: – Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima... A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile. Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe: – Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá. Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: – Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico. Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: – Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária! - Machado De Assis

+ Tempo é um tecido invisível em que se pode bordar tudo, uma flor, um pássaro, uma dama, um castelo, um túmulo. Também se pode bordar nada. Nada em cima de invisível é a mais sutil obra deste mundo, e acaso do outro. - Machado De Assis

+ A primeira glória é a reparação dos erros. (Ressurreição, 1872) As ocasiões fazem as revoluções. (Esaú e Jacó, 1904) Não se perde nada em parecer mau; ganha-se tanto como em sê-lo. (Memorial de Aires, 1908) Também a dor tem suas hipocrisias. (Helena, 1876) O medo é um preconceito dos nervos. E um preconceito, desfaz-se; basta a simples reflexão. (Helena, 1876) Dormir é um modo interino de morrer. (Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881) O tempo é um rato roedor das coisas, que as diminui ou altera no sentido de lhes dar outro aspecto. (Esaú e Jacó, 1904) Matamos o tempo - o tempo nos enterra. (Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881) Amor repelido é amor multiplicado. (Miss Dollar, 1869) De todas as coisas humanas, a única que tem o seu fim em si mesma é a arte. (A Semana. In: Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 29 set. 1895) O destino, como os dramaturgos, não anuncia as peripécias nem o desfecho. (Dom Casmurro, 1899) Não se ama duas vezes a mesma mulher. (Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881) A vaidade é um princípio de corrupção. (Dom Casmurro, 1899) Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular. (Memorial de Aires, 1908) Suporta-se com paciência a cólica dos outros. (Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881) A fortuna troca às vezes os cálculos da natureza. (Iaiá Garcia, 1878) - Machado De Assis