Frases de Manoel De Barros

+ Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos. - Manoel De Barros

+ O Menino Que Carregava Água Na Peneira Tenho um livro sobre águas e meninos. Gostei mais de um menino que carregava água na peneira. A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos. A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água O mesmo que criar peixes no bolso. O menino era ligado em despropósitos. Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos. A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio. Falava que os vazios são maiores e até infinitos. Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito porque gostava de carregar água na peneira Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira. No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo. O menino aprendeu a usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. E começou a fazer peraltagens. Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase. Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela. O menino fazia prodígios. Até fez uma pedra dar flor! A mãe reparava o menino com ternura. A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta. Você vai carregar água na peneira a vida toda. Você vai encher os vazios com as suas peraltagens e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos. - Manoel De Barros

+ O rio que fazia uma volta atrás da nossa casa era a imagem de um vidro mole... Passou um homem e disse: Essa volta que o rio faz... se chama enseada... Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás da casa. Era uma enseada. Acho que o nome empobreceu a imagem. - Manoel De Barros

+ Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa Com janelas de aurora e árvores no quintal - Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores E ao crepúsculo fiquem cinzentas como a roupa dos pescadores. O que desejo é apenas uma casa. Em verdade, Não é necessário que seja azul, nem que tenha cortinas de rendas. Em verdade, nem é necessário que tenha cortinas. Quero apenas uma casa em uma rua sem nome. Sem nome, porém honrada, Senhor. Só não dispenso a árvore, Porque é a mais bela coisa que nos destes e a menos amarga. Quero de minha janela sentir os ventos pelos caminhos, e ver o sol Dourando os cabelos negros e os olhos de minha amada. Também a minha amada não dispenso, meu Senhor. Em verdade ele é a parte mais importante deste poema. Em verdade vos digo, e bastante constrangido, Que sem ela a casa também eu não queria, e voltava pra pensão. Ao menos, na pensão, eu tenho meus amigos E a dona é sempre uma senhora do interior que tem uma filha alegre. Eu adoro menina alegre, e daí podeis muito bem deduzir Que para elas eu corro nas minhas horas de aflição. Nas minhas solidões de amor e nas minhas solidões do pecado Sempre fujo para elas, quando não fujo delas, de noite, E vou procurar prostitutas. Oh, Senhor vós bem sabeis Como amarga a vida de um homem o carinho das prostitutas! Vós sabeis como tudo amarga naquelas vestes amassadas Por tantas mãos truculentas ou tímidas ou cabeludas Vós bem sabeis tudo isso, e portanto permiti Que eu continue sonhando com a minha casinha azul. Permiti que eu sonhe com a minha amada também, porque: - De que me vale ter casa sem ter mulher amada dentro? Permiti que eu sonhe com uma que ame andar sobre os montes descalça E quando me vier beijar faça-o como se vê nos cinemas... O ideal seria uma que amasse fazer comparações de nuvens com vestidos, e peixes com avião; Que gostasse de passarinho pequeno, gostasse de escorregar no corrimão da escada E na sombra das tardes viesse pousar Como a brisa nas varandas abertas... O ideal seria uma menina boba: que gostasse de ver folha cair de tarde... Que só pensasse coisas leves que nem existem na terra, E ficasse assustada quando ao cair da noite Um homem lhe dissesse palavras misteriosas ... O ideal seria uma criança sem dono, que aparecesse como nuvem, Que não tivesse destino nem nome - senão que um sorriso triste E que nesse sorriso estivessem encerrados Toda a timidez e todo o espanto das crianças que não têm rumo... - Manoel De Barros

+ Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim esse atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. - Manoel De Barros

+ O mundo não foi feito em alfabeto. Senão que primeiro em água e luz. Depois árvore. - Manoel De Barros

+ Pois minha imaginação não tem estrada. E eu não gosto mesmo da estrada. Gosto do desvio e do desver. - Manoel De Barros

+ Fui criado no mato e aprendi a gostar das coisinhas do chão – Antes que das coisas celestiais. - Manoel De Barros

+ Cristo foi um dos grandes poetas do mundo - tanto que já passaram 20 séculos por cima de suas palavras e elas são vivas e reviçadas todos os dias. - Manoel De Barros

+ As coisas muito claras me noturnam. - Manoel De Barros

+ Sol, s.m. Quem tira a roupa da manhã e acende o mar. - Manoel De Barros

+ Desfazer o normal há de ser uma norma. - Manoel De Barros

+ O maior apetite do homem é desejar ser. Se os olhos vêem com amor o que não é, tem ser. - Manoel De Barros

+ Natureza é uma força que inunda como os desertos. - Manoel De Barros

+ para encontrar o azul eu uso pássaros - Manoel De Barros

+ Experimentando a manhã dos galos ... poesias, a poesia é - é como a boca dos ventos na harpa nuvem a comer na árvore vazia que desfolha a noite raíz entrando em orvalhos... os silêncios sem poro floresta que oculta quem aparece como quem fala desaparece na boca cigarra que estoura o crepúsculo que a contém o beijo dos rios aberto nos campos espalmando em álacres os pássaros - e é livre como um rumo nem desconfiado... - Manoel De Barros

+ Poetas e tontos são feitos com palavras. - Manoel De Barros

+ Do lugar onde estou já fui embora. - Manoel De Barros

+ Por viver muitos anos dentro do mato Moda ave O menino pegou um olhar de pássaro - Contraiu visão fontana. Por forma que ele enxergava as coisas Por igual como os pássaros enxergam. - Manoel De Barros

+ Aonde eu não estou as palavras me acham. - Manoel De Barros

+ Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa Com janelas de aurora e árvores no quintal - Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores E ao crepúsculo fiquem cinzentas como a roupa dos pescadores. - Manoel De Barros

+ A poesia! A poesia está guardada nas palavras, é tudo que eu sei. Meu fado é não entender quase tudo; sobre o nada eu tenho profundidades. Eu não cultivo conexões com o real. Para mim poderoso não é aquele que descobre o ouro; poderoso pra mim é aquele que descobre as insignificâncias do mundo e as nossas. Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado e chorei. Sou fraco para elogios. - Manoel De Barros

+ A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. - Manoel De Barros

+ Meditei sobre as borboletas. (...) Vi que elas podem pousar nas flores e nas pedras, sem magoar as próprias asas. - Manoel De Barros

+ Tem mais presença em mim o que me falta. Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário. Sou muito preparado de conflitos. - Manoel De Barros