A Lagartixa

A lagartixa ao sol ardente vive E fazendo verão o corpo espicha: O clarão de teus olhos me dá vida, Tu és o sol e eu sou a lagartixa.

Amo-te como o vinho e como o sono, Tu és meu copo e amoroso leito… Mas teu néctar de amor jamais se esgota, Travesseiro não há como teu peito.

Posso agora viver: para coroas Não preciso no prado colher flores; Engrinaldo melhor a minha fronte Nas rosas mais gentis de teus amores

Vale todo um harém a minha bela, Em fazer-me ditoso ela capricha… Vivo ao sol de seus olhos namorados, Como ao sol de verão a lagartixa.


Álvares De Azevedo