⁠A MORTE

É instintivo lutar contra o próprio desaparecimento. Todos os animais agem dessa maneira e tentam se proteger de acordo com seus próprios meios. Mas a morte é inflexível para todas as espécies de vida! O sonho das pessoas sempre foi enganar a morte e, muitas vezes, tentam fazer isso, enganando a si mesmas. Claro, é muito mais confortável e não exige leitura ou contorcionismos intelectuais. Essa é uma das principais causas da busca por seitas e religiões, algumas delas muito ingênuas. Textos ditos sagrados trazem mensagens valiosas, mas na forma de metáforas ou simbolismos. Muita gente compreende esses escritos literalmente, concluindo por verdadeiros disparates. O assunto fica mais complicado, quando as crianças requerem explicações, para compreender o sofrimento pela perda de um ente querido. Já pensei em escrever um livro infantil, explicando que o bichinho nasce, cresce, brinca e morre. Também a florzinha nasce, cresce, toma sol e morre. É o ciclo biológico! Quando a pessoa completa esse ciclo, mediante uma vida feliz, digna, e se vai, mesmo entristecido, eu me resigno com facilidade. Mas acho inadmissível o falecimento de uma criança ou adolescente, principalmente, se for por doenças curáveis, fome, violências, acidentes evitáveis. Eu fico arrasado! Não matar, para mim, é o mais importante dos Mandamentos. Acho que todos devemos respeitar a religião alheia e nunca tentar pregar a própria para os outros. Lembrando José Saramago, essa pregação é uma tentativa de colonização do próximo. O assunto apresenta uma enorme diversidade de entendimentos, sobretudo, quando se discute a vida após a morte, a imortalidade da alma, a reencarnação. Karl Marx dizia que “a religião é o ópio do povo, porque ela aliena as pessoas, impedindo-as de pensar e lutar por justiça na terra, pensando apenas em um mundo do porvir”. Já Czeslaw Milosz contrariou: “O verdadeiro ópio do povo é acreditar que não há nada após a morte – o imenso consolo de pensar que nossas traições, ganância, covardia e assassinatos não serão julgados.” É impossível concordar com isso, pois a maioria desses erros e crimes são julgados em vida mesmo. Quem tem ética, educação e amor ao próximo não os comete e não precisa de prêmios ou ameaças para agir com correção. Já os criminosos, bandidos, psicopatas, não temem julgamentos reais nem hipotéticos. E eles, entre os quais os maiores genocidas, sempre se escondem na imagem de pessoas de fé, de religiosidade, de espírito cristão. Nessa barafunda de ideias, dogmas e extremismos, eu prefiro ter uma visão poética da vida. Até na Bíblia, enxergo poesia e não religião. Amor é vida. Vida é amor! Socorro-me, então, do Soneto de Fidelidade, do Vinicius de Moraes: Que não seja imortal, posto que é chama, Mas que seja infinito, enquanto dure.

Sérgio Antunes de Freitas Junho de 2023


Sérgio Antunes De Freitas