As oito e meia da noite eu já estava na favela respirando o odor dos excrementos que mescla com barro podre. Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de veludos, almofadas de cetim. E quanto estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo.


Carolina Maria De Jesus

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+ Poeta, em que medita? Por que vives triste assim? É que eu a acho bonita E você não gosta de mim. Poeta, tua alma é nobre És triste, o que o desgosta? Amo-a. Mas sou tão pobre E dos pobres ninguém gosta. Poeta, fita o espaço E deixa de meditar. É que... eu quero um abraço E você persiste em negar. Poeta, está triste eu vejo Por que cisma tanto assim? Queria apenas um beijo Não deu, não gosta de mim. Poeta! Não queixas suas aflições Aos que vivem em ricas vivendas Não lhe darão atenções Sofrimentos, para eles, são lendas. - Carolina Maria De Jesus

+ A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago. - Carolina Maria De Jesus

+ As crianças ricas brincam nos jardins com seus brinquedos prediletos. E as crianças pobres acompanham as mães a pedirem esmolas pelas ruas. Que desigualdades tragicas e que brincadeira do destino. - Carolina Maria De Jesus

+ Antigamente o que oprimia o homem era a palavra calvário; hoje é salário. - Carolina Maria De Jesus

+ Quando eu vou na cidade tenho a impressão de que estou no paraíso. Acho sublime ver aquelas mulheres e crianças tão bem vestidas. Tão diferentes da favela. As casas com seus vasos de flores e cores variadas. Aquelas paisagens há de encantar os visitantes de São Paulo, que ignoram que a cidade mais afamada da América do Sul está enferma. Com as suas úlceras. As favelas. - Carolina Maria De Jesus

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