Borbulhante

Guardei meu poema dentro de uma bolha de sabão. Como não ficar seduzida Pela circunferência lisa e transparente, Onde o arco-íris passeia docemente, E morre de amores pela espuma colorida?

Acomodada na nova moradia, O poema suspirou e adormeceu. Quando acordou já não mais me pertencia.

A bolha de sabão se deslocara E o poema apaixonado que eu criara Descobriu de repente que era teu.


Flora Figueiredo

Outras frases de Flora Figueiredo

+ Dor de Cotovelo. Deve ser tratada com dignidade. Não é virose, epidemia ou artrose, nem mesmo falha de envelhecimento. Independe da idade. Costuma dar a sensação de um escuro profundo, onde a luz não chega, onde a esperança é cega e nossa estima é o rodapé do mundo. Não acredite ! Como esse mal não transmite nenhum perigo fatal, poder ser prazeroso o colo de um amigo, um abraço forte, como abrigo, uma palavra doce, um cafuné. Acima de tudo, que se mantenha a fé. Muito pior do que passar por isso é sonegar emoção, evitar o risco e o compromisso, esconder-se atrás das grades da razão. Quem hoje por amor está sofrendo, Só por amar, já merece estar vivendo. - Flora Figueiredo

+ Aprendi a esperar...Se ventos são capazes de levar embora, a qualquer hora, também, são capazes de fazer voltar. - Flora Figueiredo

+ Mais uma vez o tempo me assusta. Passa afobado pelo meu dia, atropela minha hora, despreza minha agenda. Corre prepotente, para disputar lugar com o vento. O tempo envelhece, não se emenda. Deveria haver algum decreto que obrigasse o tempo a desacelerar e a respeitar meu projeto. Só assim, eu daria conta dos livros que vão se empilhando,das melodias que estão me aguardando; Das saudades que venho sentindo, Das verdades que ando mentindo, Das promessas que venho esquecendo, Dos impulsos que sigo contendo, Dos prazeres que chegam partindo, Dos receios que partem voltando. Agora, que redijo a página final, Percebo o tanto de caminho percorrido Ao impulso da hora que vai me acelerando. Apesar do tempo, e sua pressa desleal, Agradeço a Deus por ter vivido, amanhecer e continuar teimando ... - Flora Figueiredo

+ Nó Estou perdidamente emaranhada em seus fios de delícias e doçuras. Já não encontro o começo da meada, não sei nem mesmo se há uma ponta de saída, ou se a loucura vai num ritmo crescente até subjugar a minha vida. Não importa. Quero seus nós de seda cada vez mais cegos e apertados a me costurar nas malhas e nos pêlos. Enquanto você me amarra, permanece atado na própria trama redonda do novelo - Flora Figueiredo

+ Vento novo Estava enrolada em teias e traças, debaixo da escada, lá no subsolo da casa fechada. Começava a tomar ares de desgraça. Manchada do tempo, fenecia a esperar que um dia alguma coisa acontecesse. Antes que se perdesse completamente, sentiu passar um vento cor-de-rosa. Toda prosa, espanou a bruma, pintou os lábios e sem vergonha nenhuma caprichou no recorte do decote. A felicidade volta à praça cheia de dengo e de graça, com perfume novo no cangote. - Flora Figueiredo

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