DA CHEGADA DO AMOR

Sempre quis um amor que falasse que soubesse o que sentisse.

Sempre quis uma amor que elaborasse Que quando dormisse ressonasse confiança no sopro do sono e trouxesse beijo no clarão da amanhecice.

Sempre quis um amor que coubesse no que me disse.

Sempre quis uma meninice entre menino e senhor uma cachorrice onde tanto pudesse a sem-vergonhice do macho quanto a sabedoria do sabedor.

Sempre quis um amor cujo BOM DIA! morasse na eternidade de encadear os tempos: passado presente futuro coisa da mesma embocadura sabor da mesma golada.

Sempre quis um amor de goleadas cuja rede complexa do pano de fundo dos seres não assustasse.

Sempre quis um amor que não se incomodasse quando a poesia da cama me levasse.

Sempre quis uma amor que não se chateasse diante das diferenças.

Agora, diante da encomenda metade de mim rasga afoita o embrulho e a outra metade é o futuro de saber o segredo que enrola o laço, é observar o desenho do invólucro e compará-lo com a calma da alma o seu conteúdo.

Contudo sempre quis um amor que me coubesse futuro e me alternasse em menina e adulto que ora eu fosse o fácil, o sério e ora um doce mistério que ora eu fosse medo-asneira e ora eu fosse brincadeira ultra-sonografia do furor, sempre quis um amor que sem tensa-corrida-de ocorresse.

Sempre quis um amor que acontecesse sem esforço sem medo da inspiração por ele acabar.

Sempre quis um amor de abafar, (não o caso) mas cuja demora de ocaso estivesse imensamente nas nossas mãos.

Sem senãos.

Sempre quis um amor com definição de quero sem o lero-lero da falsa sedução.

Eu sempre disse não à constituição dos séculos que diz que o “garantido” amor é a sua negação.

Sempre quis um amor que gozasse e que pouco antes de chegar a esse céu se anunciasse.

Sempre quis um amor que vivesse a felicidade sem reclamar dela ou disso.

Sempre quis um amor não omisso e que suas estórias me contasse.

Ah, eu sempre quis uma amor que amasse.

Poesia extraída do livro “Euteamo e suas estréias”, Editora Record - Rio de Janeiro, 1999,


Elisa Lucinda

Outras frases de Elisa Lucinda

+ Aviso da Lua que Menstrua Moço, cuidado com ela! Há que se ter cautela com esta gente que menstrua... Imagine uma cachoeira às avessas: cada ato que faz, o corpo confessa. Cuidado, moço às vezes parece erva, parece hera cuidado com essa gente que gera essa gente que se metamorfoseia metade legível, metade sereia Barriga cresce, explode humanidades e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar mas é outro lugar, aí é que está: cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita... Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente que vai cair no mesmo planeta panela. Cuidado com cada letra que manda pra ela! Tá acostumada a viver por dentro, transforma fato em elemento a tudo refoga, ferve, frita ainda sangra tudo no próximo mês. Cuidado moço, quando cê pensa que escapou é que chegou a sua vez! Porque sou muito sua amiga é que tô falando na "vera" conheço cada uma, além de ser uma delas. Você que saiu da fresta dela delicada força quando voltar a ela. Não vá sem ser convidado ou sem os devidos cortejos... Às vezes pela ponte de um beijo já se alcança a "cidade secreta" a Atlântida perdida. Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela. Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas cai na condição de ser displicente diante da própria serpente. Ela é uma cobra de avental. Não despreze a meditação doméstica. É da poeira do cotidiano que a mulher extrai filosofia cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso julgando a arte do almoço: Eca!... Você que não sabe onde está sua cueca? Ah, meu cão desejado tão preocupado em rosnar, ladrar e latir então esquece de morder devagar esquece de saber curtir, dividir. E aí quando quer agredir chama de vaca e galinha. São duas dignas vizinhas do mundo daqui! O que você tem pra falar de vaca? O que você tem eu vou dizer e não se queixe: VACA é sua mãe. De leite. Vaca e galinha... ora, não ofende. Enaltece, elogia: comparando rainha com rainha óvulo, ovo e leite pensando que está agredindo que tá falando palavrão imundo. Tá, não, homem. Tá citando o princípio do mundo! - Elisa Lucinda

+ DA CHEGADA DO AMOR Sempre quis um amor que falasse que soubesse o que sentisse. Sempre quis uma amor que elaborasse Que quando dormisse ressonasse confiança no sopro do sono e trouxesse beijo no clarão da amanhecice. Sempre quis um amor que coubesse no que me disse. Sempre quis uma meninice entre menino e senhor uma cachorrice onde tanto pudesse a sem-vergonhice do macho quanto a sabedoria do sabedor. Sempre quis um amor cujo BOM DIA! morasse na eternidade de encadear os tempos: passado presente futuro coisa da mesma embocadura sabor da mesma golada. Sempre quis um amor de goleadas cuja rede complexa do pano de fundo dos seres não assustasse. Sempre quis um amor que não se incomodasse quando a poesia da cama me levasse. Sempre quis uma amor que não se chateasse diante das diferenças. Agora, diante da encomenda metade de mim rasga afoita o embrulho e a outra metade é o futuro de saber o segredo que enrola o laço, é observar o desenho do invólucro e compará-lo com a calma da alma o seu conteúdo. Contudo sempre quis um amor que me coubesse futuro e me alternasse em menina e adulto que ora eu fosse o fácil, o sério e ora um doce mistério que ora eu fosse medo-asneira e ora eu fosse brincadeira ultra-sonografia do furor, sempre quis um amor que sem tensa-corrida-de ocorresse. Sempre quis um amor que acontecesse sem esforço sem medo da inspiração por ele acabar. Sempre quis um amor de abafar, (não o caso) mas cuja demora de ocaso estivesse imensamente nas nossas mãos. Sem senãos. Sempre quis um amor com definição de quero sem o lero-lero da falsa sedução. Eu sempre disse não à constituição dos séculos que diz que o "garantido" amor é a sua negação. Sempre quis um amor que gozasse e que pouco antes de chegar a esse céu se anunciasse. Sempre quis um amor que vivesse a felicidade sem reclamar dela ou disso. Sempre quis um amor não omisso e que suas estórias me contasse. Ah, eu sempre quis uma amor que amasse. Poesia extraída do livro "Euteamo e suas estréias", Editora Record - Rio de Janeiro, 1999, - Elisa Lucinda

+ SÓ DE SACANAGEM Meu coração está aos pulos! Quantas vezes minha esperança será posta à prova? Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais? É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz. Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar. Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau." Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final! - Elisa Lucinda

+ Incompreensão dos Mistérios Saudades de minha mãe. Sua morte faz um ano e um fato Essa coisa fez eu brigar pela primeira vez com a natureza das coisas: que desperdício, que descuido que burrice de Deus! Não de ela perder a vida mas a vida de perdê-la. Olho pra ela e seu retrato. Nesse dia, Deus deu uma saidinha e o vice era fraco. - Elisa Lucinda

+ Cor-respondência Remeta-me os dedos em vez de cartas de amor que nunca escreves que nunca recebo. Passeiam em mim estas tardes que parecem repetir o amor bem feito que você tinha mania de fazer comigo. Não sei amigo se era seu jeito ou de propósito mas era bom sempre bom e assanhava as tardes Refaça o verso que mantinha sempre tesa a minha rima firme confirme o ardor dessas jorradas de versos que nos bolinaram os dois a dois Pense em mim e me visite no correio de pombos onde a gente se confunde Repito: Se meta na minha vida outra vez meta Remeta. - Elisa Lucinda

+ Mais frases