Fui um douto em sonhar tantos amores… Que loucura, meu Deus! Em expandir-lhe aos pés, pobre insensato, Todos os sonhos meus!

E ela, triste mulher, ela tão bela, Dos seus anos na flor, Por que havia de sagrar pelos meus sonhos Um suspiro de amor?

Um beijo — um beijo só! eu não pedia Senão um beijo seu E nas horas do amor e do silêncio Juntá-la ao peito meu!

Foi mais uma ilusão! de minha fronte Rosa que desbotou Uma estrela de vida e de futuro Que riu… e desmaiou!

Meu triste coração, é tempo, dorme, Dorme no peito meu! Do último sonho despertei e n’alma Tudo! tudo morreu!

Meus Deus! por que sonhei e assim por ela Perdi a noite ardente… Se devia acordar dessa esperança, E o sonho era demente?…

Eu nada lhe pedi: ousei apenas Junto dela, à noitinha, Nos meus delírios apertar tremendo A sua mão na minha!

Adeus, pobre mulher! no meu silêncio Sinto que morrerei… Se rias desse amor que te votava, Deus sabe se te amei!

Se te amei! se minha alma só queria Pela tua viver, No silêncio do amor e da ventura Nos teus lábios morrer!

Mas vota ao menos no lembrar saudoso Um ai ao sonhador… Deus sabe se te amei!… Não te maldigo, Maldigo o meu amor!…

Mas não… inda uma vez… Não posso ainda Dizer o eterno adeus E a sangue frio renegar dos sonhos E blasfemar de Deus!

Oh! Fala-me de amor!… — eu quero crer-te Um momento sequer… E esperar na ventura e nos amores, Num olhar de mulher!

Só um olhar por compaixão te peço, Um olhar…. mas bem lânguido, bem terno…


Álvares De Azevedo