O cavaleiro pobre (Pouchkine) Ninguém soube quem era o Cavaleiro Pobre, Que viveu solitário, e morreu sem falar: Era simples e sóbrio, era valente e nobre, E pálido como o luar. Antes de se entregar às fadigas da guerra, Dizem que um dia viu qualquer cousa do céu: E achou tudo vazio… e pareceu-lhe a terra Um vasto e inútil mausoléu. Desde então, uma atroz devoradora chama Calcinou-lhe o desejo, e o reduziu a pó. E nunca mais o Pobre olhou uma só dama,

  • Nem uma só! nem uma só! Conservou, desde então, a viseira abaixada: E, fiel à Visão, e ao seu amor fiel, Trazia uma inscrição de três letras, gravada A fogo e sangue no broquel. Foi aos prélios da Fé. Na Palestina, quando, No ardor do seu guerreiro e piedoso mister, Cada filho da Cruz se batia, invocando Um nome caro de mulher, Ela rouco, brandindo o pique no ar, clamava: “Lumen coeli Regina!” e, ao clamor dessa voz, Nas hostes dos incréus como uma tromba entrava, Irresistível e feroz. Mil vezes sem morrer viu a morte de perto, E negou-lhe o destino outra vida melhor: Foi viver no deserto… E era imenso o deserto! Mas o seu Sonho era maior! E um dia, a se estorcer, aos saltos, desgrenhado, Louco, velho, feroz, - naquela solidão Morreu: - mudo, rilhando os dentes, devorado Pelo seu próprio coração.


Olavo Bilac

Outras frases de Olavo Bilac

+ Eu vos direi Amei para entendê-las Pois só quem ama pode ter ouvidos Capaz de ouvir e entender as estrelas. - Olavo Bilac

+ Ouvir Estrelas Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e e de entender estrelas. - Olavo Bilac

+ Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada E triste, e triste e fatigado eu vinha. Tinhas a alma de sonhos povoada , E a alma de sonhos povoada eu tinha... E paramos de súbito na estrada Da vida: longos anos, presa à minha A tua mão, a vista deslumbrada Tive da luz que teu olhar continha. Hoje, segues de novo... Na partida Nem o pranto os teu olhos umedece, Nem te comove a dor da despedida. E eu, solitário, volto a face, e tremo, vendo o teu vulto que desaparece Na extrema curva do caminho extremo. - Olavo Bilac

+ Os livros não matam a fome, não suprimem a miséria, não acabam com as desigualdades e com as injustiças do mundo, mas consolam as almas, e fazem-nas sonhar. - Olavo Bilac

+ Velhas Árvores Olha estas velhas árvores, mais belas Do que as árvores moças, mais amigas, Tanto mais belas quanto mais antigas, Vencedoras da idade e das procelas... O homem, a fera e o inseto, à sombra delas Vivem, livres da fome e de fadigas: E em seus galhos abrigam-se as cantigas E os amores das aves tagarelas. Não choremos, amigo, a mocidade! Envelheçamos rindo. Envelheçamos Como as árvores fortes envelhecem, Na glória de alegria e da bondade, Agasalhando os pássaros nos ramos, Dando sombra e consolo aos que padecem! - Olavo Bilac

+ Mais frases