Por um Ai
Se me queres ver rendido, De joelhos, a teus pés, Por um olhar que me deites, Por um só ai que me dês;
Se queres ver o meu peito rugindo como um vulcão, Estourar, arder em chamas, Ferver de amor e paixão;
Se me queres ver sujeito, curvado e preso à tua lei, Mais humilde que um escravo, Mais orgulhoso que um rei;
Meus olhos sobre os teus olhos, Meu coração a teus pés; Por um olhar que me deites, Por um só ai que me dês;
Ouça, feliz, dos teus lábios Esta só palavra - amor! - Estrela cortando os ares, Abelha sobre uma flor.
Então verás dos meus olhos, Que o pesar me não cegou, Ebentaram de alegria Prantos, que a dor estancou;
Então verás o meu peito Como outra vez se incendia: Era a folha verde e fresca, Onde o sol se refletia!
Murcha e triste pende agora; Caiu, jaz solta, está só: Exposta ao fogo, arde em chamas,
- Deixai-a, desfaz-se em pó!
Hei de sentir outra vida, Outra vez meu coração Escutarei palpitando De amor, de fogo e paixão.
Lascado tronco sem graça, Tal fui, tal me vês agora! Mas venha o orvalho celeste, Venha o bafejo da aurora;
Venha um raio de alegria Dar-lhe às raízes calor; Revive de novo, e brota Folhas, galhos e verdor.
Do cimo erguido e copado Outra vez se dependuram Mil flores - ali mil aves Nos seus gorjeios se apuram.
Não quero palavras falsas, Não quero um olhar que minsta, Nenhum suspiro fingido, Nem voz que o peito não sinta.
Basta-me um gesto, um aceno, Uma só prova, - e verás Minha alma presa em teus lábios, Como de amor se desfaz!
Ver-me-ás rendido e sujeito, Cativo e preso à tua lei, Mais humilde que um escravo, Mais orgulhoso que um rei!