Retrato Ardente

Entre os teus lábios é que a loucura acode, desce à garganta, invade a água.

No teu peito é que o pólen do fogo se junta à nascente, alastra na sombra.

Nos teus flancos é que a fonte começa a ser rio de abelhas, rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos é que a areia queima, o sol é secreto, cego o silêncio.

Deita-te comigo. Ilumina meus vidros. Entre lábios e lábios toda a música é minha.


Eugénio De Andrade